A dor por idades
Persiste durante meses ou anos e chega a tornar-se incapacitante. Ao contrário da dor aguda, cuja duração é limitada, a dor crónica prolonga-se no tempo a ponto de comprometer a realização das tarefas mais básicas do dia a dia. Num estudo recente, 36% dos portugueses considerou sofrer de dor crónica e metade destes confirmou que a dor interfere nas suas funções e responsabilidades no trabalho e em casa.
Felizmente, está ao nosso alcance mudar esta realidade. Com a ajuda de um especialista, desvendamos as causas mais frequentes da dor crónica e o caminho certo para contorná-la. O diagnóstico adequado, um estilo de vida saudável e as mais recentes terapêuticas dão-lhe as “armas” necessárias para vencê-la.
Dos 20 aos 30
Cefaleias
Vulgarmente conhecidas como dores de cabeça, as cefaleias são a causa de dor mais frequente entre os 20 e os 30 anos. Podem ser enxaquecas ou cefaleias de tensão, cada uma com sintomas, causas e tratamentos distintos. A enxaqueca é uma dor pulsátil que surge apenas de um dos lados da cabeça, acompanhada de náuseas e vómitos. “Há uma pré-disposição genética e alguns casos podem estar relacionados com níveis elevados de stress mas, na sua maioria, são de causa desconhecida”, refere Armando Barbosa, médico especialista em terapêutica da dor. Quando se trata de cefaleias de tensão, a sensação é comparável à de uma banda a apertar a cabeça. “Estão relacionadas com fatores como a ansiedade, o stress, o tipo de alimentação, as mudanças climáticas, as alterações dos padrões do sono e, em alguns casos, com as alterações hormonais decorrentes do ciclo menstrual ou da toma da pílula anticoncecional”, esclarece o especialista.
Como prevenir: Embora, em alguns casos, seja necessário recorrer a medicação, nomeadamente nas enxaquecas, as cefaleias de tensão podem ser prevenidas procedendo-se a algumas alterações no estilo de vida. “Esteja atenta aos “estímulos” desencadeantes e procure eliminá-los. Escrever num diário o que aconteceu antes de ter dor de cabeça pode ajudar a identificar as suas causas”, recomenda Armando Barbosa. Evitar situações de stress e seguir um padrão de sono regular, tentando deitar-se e levantar-se à mesma hora todos os dias, são outros cuidados fundamentais. “Se dormimos menos vamos produzir menos cortisol, uma hormona fundamental na supressão da dor. Já o stress promove a contração dos músculos, o que favorece as dores de cabeça”, alerta o especialista.
Para alguns casos, a solução pode residir num gesto tão simples como eliminar alguns alimentos da dieta. “O café, o chocolate e o queijo podem desencadear este tipo de dores de cabeça”, revela o especialista. E se suspeitar que as suas dores de cabeça podem dever-se à toma da pílula anticoncecional, converse com o ginecologista sobre as alternativas de contraceção.
Recomendações
Consulte um especialista se tem dores de cabeça de forma recorrente, entre uma a duas vezes por semana.
Dos 30 aos 40
Fibromialgia
Trata-se de uma doença crónica que se manifesta através de uma dor generalizada e fadiga excessiva. É mais comum entre os 30 e os 40 anos, mas pode surgir mais cedo. O diagnóstico é feito através da identificação de vários pontos dolorosos no corpo. “Se identificarmos 11 pontos dolorosos em 18 que temos pré-definidos, consideramos que a pessoa tem fibromialgia”, explica este especialista. Embora ainda não esteja provado, os especialistas pensam que os doentes fibromiálgicos têm uma substância no sistema nervoso central que aumenta a sensibilidade à dor. “As pessoas com história familiar de fibromialgia, com personalidades perfecionistas, que revelam uma incapacidade de lidar com adversidades, e com episódios anteriores de depressão e ansiedade também são mais propensas a desenvolver a doença”, refere Armando Barbosa.
Como prevenir: Por enquanto, a fibromialgia não pode ser prevenida. Contudo, existem formas de controlar esta patologia. A terapêutica farmacológica, nomeadamente os antidepressivos, os analgésicos e os relaxantes musculares têm demonstrado ser eficazes no alívio da dor.
O apoio psicológico e a prática adequada de exercício físico têm, também, um papel fundamental. “O acompanhamento psicológico é importante para aprender a lidar com as situações que o doente fibromiálgico habitualmente tem dificuldade em lidar e a prática regular de exercício físico ajuda a minimizar a dor”, indica o especialista. “Embora qualquer tipo de exercício seja benéfico [ao provocar a libertação de endorfinas que diminuem a dor], a natação e a hidroginástica são as atividades ideais, por promoverem o relaxamento muscular”, recomenda o especialista.
Recomendações
Converse com o seu médico sobre todas as possibilidades de diagnóstico. Algumas dores musculares e fadiga não significam, necessariamente, que sofra de fibromialgia.
Dos 40 aos 50
Lombalgias
Num estudo recente realizado em Portugal, as lombalgias foram apontadas como a principal causa de dor. Cerca de 40% das pessoas com dor crónica tem lombalgias. Armando Barbosa afirma mesmo que 90% das suas consultas são com doentes que se queixam de dores na coluna vertebral. As lombalgias são mais frequentes entre os 40 e os 50 anos, devido às artroses da coluna que se vão formando na zona cervical e lombar com o avançar da idade. De acordo com o especialista, esta é uma das principais causas das lombalgias (50% dos casos são provocados por artroses na coluna). “A partir dos 40 ou 50 anos, as articulações da coluna começam a ficar gastas, desgaste este que vai dificultar os movimentos e provocar dor. Os sinais de alarme mais comuns são a dificuldade de movimentos, principalmente ao acordar e quando permanecemos na mesma posição durante períodos prolongados”, explica Armando Barbosa.
Como prevenir: Embora as artroses da coluna sejam inevitáveis, é possível retardar o seu aparecimento seguindo os cuidados certos. O especialista recomenda praticar exercício físico regularmente, de forma a manter uma boa massa muscular que suporte corretamente o peso do corpo; manter o peso controlado, fazendo uma dieta adequada às necessidades calóricas, “sobretudo a partir dos 40 anos, em que a propensão para o excesso de peso é maior”, assim como adotar a postura certa nas tarefas do dia a dia, alerta ainda Armando Barbosa. Cuidados simples como evitar fletir a coluna quando agarramos pesos e garantir uma posição correta à secretária, mantendo a zona lombar bem encostada à cadeira e o computador ao mesmo nível dos olhos, são medidas essenciais. Em termos de terapêutica, as artroses da coluna são tratadas com medicação própria, fisioterapia e radiofrequência.
Recomendações
Controle o seu peso. Depois dos 40 anos, a magreza excessiva e o excesso de peso aumentam a probabilidade de sofrer de lombalgias.
Depois dos 50
Osteoartrose
É uma doença que atinge a cartilagem das principais articulações do corpo, nomeadamente os ombros, a anca e os joelhos. “Nas superfícies articulares dos ossos encontra-se a cartilagem articular, um tecido conjuntivo onde está o líquido sinovial, que permite a lubrificação das articulações, facilitando os movimentos. Na osteoartrose, o que acontece é que esta cartilagem produz cada vez menos quantidade de colagénio e de outras substâncias essenciais para a manutenção deste líquido e, em consequência disso, a cartilagem vai ficando cada vez mais fina, provocando rigidez e dor”, explica Armando Barbosa.
Como prevenir: Tal como acontece nas artroses que se formam na coluna, o desenvolvimento das orteoartroses é uma consequência do envelhecimento. Contudo, é um problema que pode ser retardado se forem seguidas algumas medidas que ajudam a proteger as articulações. “Manter uma postura correta ao longo da vida não é só benéfico para a coluna vertebral, mas também para as articulações dos ombros, da anca e dos joelhos”, alerta o especialista. Evitar o levantamento de pesos, bem como o uso diário de saltos altos e usar roupa prática e confortável são outros cuidados essenciais.
No tratamento da osteoartrose, a medicação e a fisioterapia ocupam um papel central. Mais recentemente, a ozonoterapia tem dado provas de eficácia no alívio da dor e na diminuição da rigidez, graças às suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. “Nos casos mais graves, quando há uma limitação funcional, faz-se a substituição cirúrgica da articulação. Esta cirurgia tem resultados bastante compensadores”, garante o especialista.
Recomendações
Procure um especialista se sentir dor, rigidez e limitação dos movimentos. Não espere pela deformação das articulações que ocorrem já numa fase avançada da doença.
4 passos que diminuem a dor
- Procure atividades que lhe deem satisfação para contrabalançar a experiência negativa da dor crónica. Mantenha-se ativa social e culturalmente. Ter o apoio da família e do seu círculo de amigos é muito importante.
- Pratique regularmente exercícios de relaxamento, que ajudam a controlar a tensão excessiva e o stress. Por exemplo, feche os olhos durante 10 minutos, controle a respiração e relaxe progressivamente todos os músculos do corpo.
- Mantenha um padrão de sono regular. As insónias podem agravar as dores, nomeadamente nos músculos e tecidos moles do corpo.
- Pratique exercício físico regularmente. Ajuda a manter o corpo maleável e flexível, contribui para a melhoria da postura e da força, e evita o excesso de peso. Desta forma, previne a dor e melhora a autoestima.
*Com Dr. Armando Barbosa - médico especialista em terapêutica da dor e diretor clínico das Clínicas PainCare