Dor Crónica atinge 33, 6% dos doentes acompanhados na Unidades de Cuidados de Saúde Primários
Em Portugal, a dor é o principal sintoma que leva o doente a procurar o médico e os cuidados de saúde. Segundo o estudo “Prevalência e Caraterização da Dor Crónica nos Cuidados de Saúde Primários”, 33,6% dos indivíduos acompanhados em unidades de Cuidados de Saúde Primários vivem com dor crónica. Para entendermos a complexidade deste problema, como se caracteriza a dor crónica?
A dor crónica é uma doença com todo um conjunto de sinais e sintomas que se prolonga para além do tempo expectável de resolução do quadro clínico. Tem uma dimensão sensorial “o que se sente”, mas também emocional, resultado de experiências de toda a nossa vida passada, que determina que cada um de nós tenha a sua própria dor, diferente de qualquer outra.
Quais as principais causas ou fatores de risco associados à dor crónica?
Sendo que a dor crónica é predominantemente de etiologia músculo-esquelética "músculos, ossos e articulações”, tem necessariamente a ver com os hábitos de vida e particularmente com o sedentarismo e o excesso de peso. As posturas incorretas e os maus posicionamentos em casa ou no trabalho, também são causas possíveis de desencadear dor e potencialmente evitáveis, se corrigidas.
Como é feito seu diagnóstico? De que forma é possível quantificar a dor, tendo em conta que muitos não a conseguem compreender?
O diagnóstico é clínico, médico, e resulta da entrevista e da relação empática que se estabelece com o cidadão, nomeadamente com a recolha da história clínica, a realização do exame físico objetivo e, eventualmente, se persistir alguma dúvida, da realização de meios complementares de diagnóstico.
A dor pode ser prevenida? Quais os cuidados a ter?
Ter hábitos de vida saudáveis, nomeadamente na alimentação equilibrada e diversificada, na realização de exercício físico diário e na atenção aos pequenos pormenores da vida quotidiana de forma a evitar posturas e posicionamentos incorretos.
Tratando-se de uma entidade clínica complexa, em que consiste o seu tratamento?
Consiste em ter uma abordagem multimodal, isto é, de modos complementares, quer sejam medicamentos, as medidas químicas, as medidas físicas como a fisioterapia, os agentes físicos e o exercício, quer sejam psicológicas, particularmente na motivação para a superação da dor crónica.
De um modo geral, de que forma pode a dor condicionar a vida do doente? Quais as repercussões económicas e sociais da dor?
Falamos, hoje em dia, do conceito de dor total, porque tem repercussões físicas no corpo do doente, emocionais, na forma de estar e de ser, sociais, na forma de se relacionar com os outros e económicas pelos custos que acarreta no tratamento da dor ou até de absentismo laboral.
Na sua opinião, por que motivo continua a ser tão difícil entender e valorizar a dor? Qual o papel dos profissionais de saúde neste âmbito?
Se cada um tem a sua dor, acaba por guardar para si essa experiência e não a expor na sua totalidade, pensando sempre que o ou os outros não nos compreenderão. Cabe aos profissionais de saúde desmistificar estes conceitos, apoiar e disponibilizar todo um conjunto de práticas e saberes ao cidadão com dor crónica por forma a que possa depois superar essas situações.
Por fim, no âmbito desta temática, quais as principais recomendações /considerações?
Prevenir é o melhor remédio, como já dizemos e bem, que “mais vale prevenir do que remediar”, pelo que propor hábitos de vida saudáveis como a prática regular de exercício e evitar o excesso de peso e as doenças que lhe estão associadas, são a melhor forma de prevenir a dor crónica.