As doenças reumáticas mais frequentes
As doenças reumáticas são doenças inflamatórias, infeciosas, metabólicas, degenerativas e outras que, de um modo agudo, subagudo ou crónico, envolvem, predominantemente, os ossos, as articulações e as estruturas periarticulares (músculos, tendões, ligamentos) podendo, também, afetar o tecido conjuntivo em qualquer parte do organismo, resultando nas mais variadas manifestações orgânicas e atingido múltiplos órgãos e sistemas, como o coração, pulmão, rins ou tubo digestivo.
Sabia que existem mais de 100 doenças reumáticas? Embora as mulheres sejam as mais afetadas, a verdade é que este tipo de patologia não escolhe idades nem géneros. E entre alguns dos fatores de risco estão, para além da idade, o tabagismo, a obesidade, a utilização de determinados fármacos ou ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.
E, embora a dor seja considerada a principal manifestação clínica associada a estas patologias, saiba que há outros sinais relativamente comuns no grupo das doenças reumáticas: como a rigidez, limitação de movimentos, calor ou inchaço nas articulações, falta de energia ou fadiga.
Neste artigo mostramos-lhe algumas das doenças reumáticas mais prevalentes.
Osteoartrose
A osteoartrose, mais conhecida por artrose, é uma doença que atinge, fundamentalmente, a cartilagem articular, que é um tecido conjuntivo elástico que se encontra nas extremidades dos ossos que se articulam entre si. E, embora se possa pensar que esta é uma doença que surge com o envelhecimento, a verdade é que a artrose não pressupõe o envelhecimento articular, quer isto dizer que há idosos que não sofrem de artrose e indivíduos mais jovem que sim!
Estima-se que, em Portugal, meio milhão de pessoas sofra de osteoartrose e embora atinja com mais frequência o sexo feminino, tanto os homens como as mulheres acima dos 50 anos correm risco de a desenvolver.
As articulações mais frequentemente envolvidas na população portuguesa são a coluna vertebral, em particular os segmentos cervical e lombar, os joelhos, as articulações das mãos e a da base do dedo grande do pé.
As causas não são conhecidas, e embora o desgaste da articulação seja importante, não é razão suficiente para a explicar. Pensa-se que a osteoartrose se deve a várias causas, entre elas, fatores mecânicos, hereditários (sendo que há famílias mais propensas a contrair esta doença), hormonais ou metabólicos.
Dor, rigidez, limitação dos movimentos e, em fases mais avançadas, deformações estão entre as principais manifestações clínicas da doença.
Esta, ao contrário do que acontece com as doenças reumáticas inflamatórias, é uma doença localizada apenas nas articulações. Não atinge os órgãos internos e não é acompanhada de sintomas e/ou manifestações chamadas “gerais”, como, por exemplo, febre, falta de apetite, cansaço fácil e emagrecimento.
Também ao contrário do que acontece nas doenças reumáticas inflamatórias, e pela mesma razão, as artroses não originam alterações nas análises do sangue e da urina.
Repouso, fisioterapia que permite corrigir algos erros posturais e alguns medicamentos constituem o tratamento para a Osteoartrose.
Os medicamentos utilizados no tratamento da osteoartrose são fundamentalmente os analgésicos, os anti-inflamatórios não esteroides (AINE), os condroprotetores, isto é, os protetores da cartilagem articular, e os relaxantes musculares.
Outro aspeto muito importante é a manutenção de um penso saudável. A obesidade constitui uma enorme sobrecarga para a coluna vertebral, para as ancas e os joelhos, pelo que a perda de peso é a primeira terapêutica nas artroses dos joelhos e das ancas.
Osteoporose
A osteoporose caracteriza-se por aumento da porosidade do esqueleto e diminuição da massa óssea. Cerca de 30% das mulheres pós-menopáusicas na Europa têm osteoporose e, destas, pelo menos 40% vão desenvolver fraturas osteoporóticas.
Os principais sintomas e sinais da osteoporose são as dores, as deformações ósseas e as fraturas. As dores ósseas localizam-se predominantemente ao nível da coluna vertebral, agravam-se com os movimentos e com os esforços físicos, diminuindo com o repouso. As deformações traduzem-se num exagero das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral, em particular por aumentos da cifose dorsal e da lordose lombar. As fraturas mais frequentes são as das vértebras e a do colo do fémur, mas qualquer osso pode fraturar.
A ingestão suficiente de cálcio e de vitamina D, bem como a prática de exercício físico, assumem uma importância vital para a saúde dos seus ossos em todas as etapas da nossa vida, ajudando a evitar o desenvolvimento da doença.
O Instituto Português de Reumatologia deixa algumas regras:
- Zele por uma alimentação saudável, rica em cálcio
- As crianças necessitam de cerca de 600 a 800 mg de cálcio por dia. No caso dos adolescentes, a quantidade varia entre 900 e 1200 mg. Nos adultos, a quantidade de cálcio recomendada situa-se entre os 800 e 1000 mg por dia. Os produtos ricos em cálcio são os produtos lácteos (magros) como o leite, o iogurte e o queijo; os legumes verdes, os cereais e o pão completo. Existem, presentemente, inúmeros produtos enriquecidos com cálcio. Deve-se evitar bebidas carbogaseificadas e regimes alimentares com poucas proteínas, pois é necessário algum teor em proteína para assegurar a produção de colagéneo no osso.
- Pratique suficiente exercício físico
Também neste caso, comece o mais cedo possível e não espere pelos cinquenta. Todas as formas de exercício físico que solicitam as pernas contribuem para a solidez dos ossos. A marcha ou jogging são perfeitos. A natação tem uma ação relaxante e melhora o desempenho muscular, mas não estimula o metabolismo ósseo.
- Passe regularmente algum tempo no exterior, ao sol
Os raios solares asseguram a síntese da vitamina D no organismo. Esta vitamina é indispensável para uma boa absorção do cálcio nos intestinos (a exposição ao sol deve ser moderada para evitar lesões cutâneas).
- Consuma álcool com moderação e deixe de fumar
O excesso de álcool e nicotina exerce uma influência negativa sobre o osso.
- Evite as quedas
Gota Úrica
A Gota é uma doença que resulta do depósito de cristais de ácido úrico em várias localizações, sobretudo nas articulações, tecido subcutâneo e rim. É uma das doenças reumáticas mais prevalentes no mundo ocidental.
Afeta sobretudo homens (2 a 7 por cada mulher afetada), ocorrendo geralmente a partir dos 40 anos no sexo masculino e dos 60 no sexo feminino. Embora seja provocada por altas concentrações de ácido úrico, apenas uma pequena percentagem de pessoas desenvolver a gota. A obesidade, a insuficiência renal, o uso de alguns medicamentos (como por exemplo os diuréticos e a ciclosporina), o consumo excessivo de alguns alimentos (como a carne e o marisco) e o excesso de bebidas alcoólicas, especialmente cerveja, são os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença.
A sintomatologia da gota é dominada por crises muitíssimo dolorosas, localizadas na grande maioria das vezes ao nível da articulação metatarso--falângica do dedo grande do pé. Estas crises, para além da dor, são caracterizadas pelo aparecimento de outros sinais inflamatórios como tumefação, calor e rubor ao nível das articulações.
Para além do dedo grande do pé, outras articulações podem ser inicialmente afetadas como o joelho, a tibiotársica (tornozelo) e a mediotársica (peito do pé). Quase sempre as crises são monoarticulares, isto é, atingem apenas uma articulação.
O tratamento da gota úrica é diferente nas crises e nos períodos entre as crises. As crises agudas tratam-se com repouso, frio sobre a articulação envolvida (saco de água fria com algumas pedras de gelo) e anti-inflamatórios não esteroides (AINE). Os AINE são medicamentos que diminuem as dores combatendo a inflamação.
O doente deve recorrer a uma dieta saudável com evicção alcoólica e evitando a gordura animal.
Artrite Reumatoide
A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença reumática inflamatória crónica, de causa desconhecida que, embora envolva, sobretudo, as articulações, pode atingir qualquer órgão e apresentar as mais variadas manifestações clínicas. Mais frequente entre os 30 e os 50 anos, pode surgir após um choque emocional.
Apesar de não ser totalmente compreendida, sabe-se que na artrite reumatoide há uma desregulação do sistema imunitário. O sistema imunitário, constituído pelos glóbulos brancos e outras células e, ainda, pelos produtos destas células (anticorpos, citocinas e outras substâncias), é um sistema de defesa do organismo que, ao adoecer, pode agredi-lo em vez de o defender. É o que acontece na artrite reumatoide. As substâncias que agridem o organismo são proteínas chamadas autoanticorpos e citocinas.
Os sintomas mais precoces nos doentes com artrite reumatoide são a rigidez matinal, a dor e a tumefação nas articulações. Estes doentes, quando acordam, têm as articulações muito rígidas, o que os impossibilita de as utilizar. É a isto que se chama rigidez matinal. Ela é sempre superior a 30 minutos e, por vezes, prolonga-se ao longo de toda a manhã. Em certos casos a rigidez mantém-se durante todo o dia.
Os medicamentos usados no tratamento da artrite reumatoide são, fundamentalmente, os anti-inflamatórios não esteroides, os imunomoduladores e os corticosteroides.
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINE), como o seu nome indica, são medicamentos que aliviam a dor e reduzem o processo inflamatório. São medicamentos sintomáticos, isto é, são fármacos que tratam os sintomas, mas não modificam a doença. No entanto são indispensáveis, visto ser impossível tolerar a inflamação reumatoide sem o recurso a estes medicamentos.
Os fármacos imunomoduladores são assim chamados por modularem, isto é, modificarem o sistema imunitário que está desregulado nos doentes com artrite reumatoide. Os principais imunomoduladores são o metotrexato, a sulfasalazina e a hidroxicloroquina.
Para além dos fármacos, é essencial que os doentes sigam outras medidas que ajudam a aliviar os sintomas, como é o caso do repouso durante e fora das crises e a prática de exercício físico. Os exercícios são indispensáveis para vencer a rigidez articular, para preservar ao máximo a mobilidade das articulações e para combater a atrofia muscular.
Por outro lado, há que ter atenção à dieta, devendo-se privilegiar o consumo de proteínas, hidratos de carbono e gorduras, vitaminas e sais minerais.
Nos doentes a tomar corticosteroides, a dieta deve conter pouco sal e ser rica em potássio (vegetais, laranjas e bananas). Além disso, esta dieta deve ser ainda rica em cálcio, recomendando-se a ingestão de um litro de leite magro por dia.
Fibromialgia
A fibromialgia é uma síndrome crónica caracterizada por queixas dolorosas neuromusculares difusas e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas.
Desconhece-se a causa da fibromialgia, apontando-se como origens possíveis perturbações do sistema nervoso, do estado psíquico, do sono e do músculo, resultando, provavelmente, a fibromialgia da combinação de fatores periféricos (por exemplo, musculares) e de origem central (por exemplo, do sistema nervoso).
Do que não há dúvida é que na fibromialgia há uma alteração do sistema de controlo da dor.
A fibromialgia é agravada pelo frio, pela humidade, pela ansiedade, pela excitação e tensão psíquica, e aliviada com o tempo quente e seco e com as férias.
Os antidepressivos e os relaxantes musculares constituem maioritariamente o tratamento farmacológico da fibromialgia. No entanto, quando a dor é intensa, podem prescrever-se analgésicos potentes ou anti-inflamatórios não esteroides
A educação do doente sobre o que é esta doença, bem como a capacidade de este identificar os fatores desencadeantes das crises é meio caminha andado para conseguir controlar a doença.
É importante ainda que faça uma boa higiene do sono, pratique exercício físico e não descure a sua saúde mental. Sem cura conhecida, cabe ao doente reaprender a viver com doença.
Espondilite Anquilosante
A espondilite anquilosante é uma doença reumática crónica, de natureza inflamatória, que pode levar, quando não tratada, à anquilose da coluna vertebral, que assim se torna rígida. De acordo com o Instituto Português de Reumatologia, esta doença leva à “fusão” das articulações da coluna limitando a sua mobilidade.
Inicia-se, por via de regra, entre os 15 e os 30 anos de idade, portanto em indivíduos jovens, mas pode surgir na infância ou durante a puberdade (raramente) e em indivíduos com mais de 40 anos de idade, o que também é raro.
Os primeiros sintomas da EA são, muitas vezes, dor nas regiões glúteas ou lombalgia, que são causados por inflamação das articulações sacroilíacas e coluna vertebral. Este tipo de dor é inflamatória, e manifesta-se de forma insidiosa, lenta e gradual, sendo difícil precisar o momento exato em que os sintomas começaram. A lombalgia ocorre quando o doente está em repouso, melhorando com a atividade física. Desta forma, a dor é geralmente pior nas últimas horas da noite e de manhã cedo. Quando a pessoa se levanta e inicia a atividade normal, existe alívio ou até mesmo desaparecimento da dor.
A tumefação e a dor também podem ocorrer nas articulações das ancas, ombros, joelhos e tornozelos. Pode haver inflamação dos ligamentos ou tendões, como por exemplo dor no tendão de Aquiles.
Segundo o Instituto Português de Reumatologia, “os anti-inflamatórios não-esteroides (AINE) constituem sempre, salvo estejam contraindicados, a abordagem inicial do tratamento, conseguindo na maioria dos casos reduzir e por vezes mesmo suprimir a inflamação. O controlo da inflamação permite o alívio da dor e da rigidez, permitindo um melhor repouso durante a noite. Podem ser utilizados por períodos prolongados de tempo, com as devidas precauções”.
Um dos aspetos mais importantes do tratamento são os exercícios de reabilitação ao nível da coluna vertebral e exercícios respiratórios, de modo a fortalecer os músculos da coluna e evitar a rigidez e perda de mobilidade da própria coluna vertebral.
Nos últimos anos ficaram ainda disponíveis os chamados “tratamentos biológicos”, que são dirigidos especificamente para os componentes da resposta imunológica que intervêm nesta doença.
Fontes: Instituto Português de Reumatologia
https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/doencas-reumaticas-manual-de-auto-ajuda-para-adultos-pdf.aspx