Doenças reumáticas: as doenças crónicas mais frequentes, a maior causa de incapacidade e reformas antecipadas
As doenças reumáticas (DRM) incluem mais de 150 doenças ou síndromes e cada vez mais portugueses são afetados por uma delas. Os custos para o Estado com doentes que sofrem de DRM ultrapassam os mil milhões de euros, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), que defende a criação de um novo programa nacional contra as doenças reumáticas da DGS para fazer face a estas doenças.
As doenças reumáticas e músculo-esqueléticas (DRM) representam, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de metade da prevalência de doenças crónicas em pessoas com idade acima dos 50 anos e são a categoria mais destacada no grupo destas doenças não transmissíveis. Portugal não escapa a esta tendência já que os números associados a algumas das mais de 150 doenças ou síndromes de natureza reumática são significativos, quer ao nível do número de pessoas afetadas, quer no impacto provocado na economia da saúde pública, representando custos para o Estado acima dos mil milhões de euros.
Em Portugal, 51,8% da população não tem acesso à especialidade de reumatologia (de acordo com os dados da Rede Referenciação Hospitalar de Reumatologia relativos a 2015). Há necessidade de reforçar o número de unidades hospitalares com serviço de Reumatologia e de quadros técnicos e recursos humanos especializados. Sem esquecer a importância que atribui ao diagnóstico precoce das doenças reumáticas, como é o caso da Artrite Reumatoide cujo diagnóstico precoce pode representar uma poupança média anual por cada novo caso de, aproximadamente, 30%.
Apenas cinco hospitais no país têm o quadro completo de especialistas, nos outros há falta de especialistas e 16 hospitais não têm sequer a especialidade.
Com a pandemia COVID o problema das doenças reumáticas agudizou-se. Devido a desmarcações iniciais e ajuste do sistema, receio de os doentes frequentarem as unidades de saúde e tomarem a medicação, e mais importante, a imobilidade associada ao confinamento. Os portugueses estão muito mais sedentários e isso reflete-se no agravamento das doenças do sistema musculo esquelético.
Para além dos custos para o Estado com doentes que sofrem de DRM, os números são mais abrangentes uma vez que também envolvem, aproximadamente, 204 milhões de euros, anuais devido ao absentismo e 910 milhões de euros devido a reformas antecipadas. Estima-se que os doentes afetados com doenças reumáticas tenham uma despesa individual com a doença na ordem dos 500 euros, por oposição aos 250 euros gastos com saúde pelos indivíduos que não sofrem de doenças reumáticas
Alguns destaques sobre as DRM
- No caso da lombalgia, uma doença referenciada em todo o mundo, pelo menos em alguma fase da vida, por 80% das pessoas (1); da osteoporose do joelho que, estima-se, afeta 40% das pessoas com idade superior a 70 anos (2); ou da artrite reumatoide que está na origem do abandono do mercado de trabalho em mais de 50% dos doentes (3).
- No caso da Espondilite Anquilosante, por exemplo, um estudo desenvolvido pela Nova IMS e a SPR (no âmbito do projeto arEA) concluiu que o seu impacto económico total pode chegar aos 639 milhões de euros, e que esta doença em particular faz com que cada um dos doentes perca cerca de 110 dias de trabalho por ano. Ou ainda o exemplo da osteoporose que, em Portugal, é responsável, anualmente, por cerca de 950 fraturas do colo do fémur.
- O estudo Produtividade, Empregabilidade e Saúde Social, de 2016 (4), revelou que o absentismo laboral que as DRM originam é superior a 9 horas semanais, dado que a dor, a rigidez e a dificuldade na locomoção levam a que muitos trabalhadores fiquem vários dias de baixa e, em casos limite, solicitem reforma antecipada. Aproximadamente 50% dos doentes reformados inquiridos admitiram ter sido esse o seu caso. Aliás, refira-se, que os custos indiretos anuais relacionados com as reformas antecipadas atribuídas devido a DRM anda na ordem dos 910 milhões de euros, e que 13,2% dos reformados entre os 50 e os 64 anos reportam doenças reumáticas. (5)
- No caso português, a SPR tem vindo a alertar para o facto de 51,8% da população nacional não ter acesso à especialidade de reumatologia e para a necessidade de reforçar o número de unidades hospitalares com serviço de Reumatologia e de quadros técnicos e recursos humanos especializados. Ainda de realçar a importância do diagnóstico precoce das DRM, como no caso da Artrite Reumatoide cujo diagnóstico precoce pode representar uma poupança média anual por cada novo caso de, aproximadamente, 30%. (6)
- No seu todo, as patologias reumáticas e músculo-esqueléticas representam um problema de âmbito mundial que requer a intervenção urgente e concertada das instituições que devem zelar pela saúde pública, numa ótica global e nacional.
Sobre a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR):
A Sociedade Portuguesa de Reumatologia foi fundada em janeiro de 1972, depois de, dois anos antes, um grupo de 1085 médicos portugueses, de todo o país e de diferentes especialidades, entre os quais se incluíam todos os reumatologistas, que lideraram o
processo, ter solicitado à Ordem dos Médicos a criação da especialidade de reumatologia.
A Sociedade Portuguesa de Reumatologia tem contribuído, ao longo dos anos, para o desenvolvimento da reumatologia portuguesa. Entre os muitos objetivos a que se propôs estão a colaboração com os outros organismos internacionais de Luta Contra as doenças Reumáticas; promover a atualização dos conhecimentos reumatológicos; ser o centro de documentação e informação reumatológica; fomentar o ensino e a investigação em reumatologia; atribuir prémios científicos; defender o título de reumatologista, em colaboração com a Ordem dos Médicos e as Autoridades de Saúde; favorecer a criação de Centros Médicos de ensino, tratamento e investigação e profilaxia das doenças reumáticas e do Centro de Estudo e Investigação Reumatológica; Apoiar a ação da Liga Portuguesa contra as Doenças Reumáticas; e, ainda, liderar o processo de criação, desenvolvimento e acompanhamento do Plano Reumatológico Nacional.