Qual a relação?

Doenças da Tiroide e a saúde cardiovascular: o que precisa saber

Atualizado: 
02/06/2021 - 12:26
Sabia que a hormona tiroideia tem uma ação tanto no número de batimentos por minuto (frequência cardíaca), como na força com que o coração contrai e consegue bombear o sangue para as diversas partes do corpo (débito cardíaco)? Quer isto dizer que qualquer disfunção da tiroide afeta diretamente a saúde do seu coração.

De acordo com as estimativas, as doenças da tiroide afetam cerca de um milhão de portugueses e os seus efeitos fazem-se sentir ao longo de praticamente todos os sistemas do organismo. Segundo a endocrinologista Inês Sapinho, a verdade é que “o mau funcionamento da tiroide, seja por excesso ou por defeito de hormonas tiroideias, tem um impacto muito grande na nossa vida, originando vários sintomas como cansaço, mal-estar, stress ou alterações no peso”.

Provavelmente, já ouviu dizer que estes sintomas são tão inespecíficos que “podem confundir-se com um conjunto de sintomas associados a outras doenças, levando os doentes a desvalorizá-los e a adiar a procura de um médico, ou muitas vezes a procurarem outros especialistas antes de recorrerem ao Endocrinologista”. No entanto, convém estar mesmo atento ao mais pequeno sinal de alerta.

Entre as disfunções da tiroide mais comuns estão o Hipotiroidismo, “quando há diminuição de produção das hormonas” e o Hipertiroidismo, “quando estamos perante excesso de hormonas tiroideias”, esclarece a especialista acrescentando que na origem destes distúrbios está a doença autoimune da tiroide. Não obstante, a história familiar ou residir em regiões de carência de iodo são fatores que contribuem igualmente para o desenvolvimento das alterações da tiroide.

“No hipertiroidismo temos um aumento da velocidade do nosso organismo, pelo que as queixas mais frequentes são a agitação, ansiedade, insónias, palpitações, aumento do trânsito intestinal, intolerância ao calor, aumento da sudorese e emagrecimento associado muitas vezes ao aumento de apetite”, explica quais às principais queixas desta disfunção.

Em casos de hipotiroidismo, o cansaço, a apatia, o humor depressivo, a dificuldade em perder peso e intolerância ao frio apresentam-se como as queixas mais frequentes.

A tiroide e o coração

Com uma ação direta sobre o desempenho cardíaco, a Tiroide desempenha um papel importante para a saúde cardiovascular.

De acordo com Inês Sapinho, “a hormona tiroideia tem uma ação tanto no número de batimentos por minuto (frequência cardíaca), como na força com que o coração contrai e consegue bombear o sangue para as diversas partes do corpo (débito cardíaco)”. Deste modo, se a quantidade de hormonas em circulação não for suficiente – algo que acontece no hipotiroidismo -, a frequência cardíaca e força de contração diminuem. Nos casos em que esta deficiência é severa podemos estar em risco de sofrer de insuficiência cardíaca.

“Pelo contrário, se existir um excesso de hormonas (hipertiroidismo), inicialmente o coração começa por bombear com mais força, mas o desgaste do próprio músculo cardíaco faz com que este efeito se perca. A frequência cardíaca aumenta de forma significativa nestes doentes, podendo até ocorrer arritmias fatais”, explica a especialista em endocrinologia.

Quando não atempadamente diagnosticada ou devidamente tratadas, estas disfunções podem levar “a situações de urgência ou emergência”, alerta a médica esclarecendo que “dois exemplos claros são as arritmias cardíacas graves em situações de hipertiroidismo e o coma no hipotiroidismo”.

“Nestas situações limite o internamento é urgente, pois várias medidas para reverter a situação grave aguda são necessárias. Mas, regra geral, o hipotiroidismo tem um tratamento simples e muito eficaz, com a toma única de hormona tiroideia em jejum. As doses dependem de vários fatores (idade, gravidez, doenças associadas) e vão sendo ajustadas regularmente em função das análises realizadas periodicamente”, adianta quanto ao tratamento.

No caso do hipertiroidismo, o tratamento pode consistir na utilização de medicamentos, na realização de tratamento com iodo radioativo ou em tratamento cirúrgico. “Estas opções devem ser tomadas com o doente, após o devido esclarecimento e tendo em conta a idade, doenças associadas ou, por exemplo, o desejo de gravidez”, sublinha Inês Sapinho.

Nos doentes com patologia cardíaca, a vigilância regular e a toma adequada da medicação prescrita são fundamentais. Para pessoas que têm já diagnóstico de doença cardíaca, as disfunções da tiroide podem agravar os problemas já existentes ou despoletar novas situações.

“Assim, sempre que um doente com patologia cardíaca conhecida sente alguma alteração do seu quadro clínico deverá recorrer ao seu médico assistente e, eventualmente, a avaliação da função tiroideia deve ser realizada”, afirma a médica exemplificando: “um dos medicamentos habitualmente prescritos para o controlo de arritmias pode desencadear alterações da função tiroideia, pelo que nestas situações a vigilância regular deve ser realizada. Por outro lado, num doente com patologia cardíaca que tem estado controlada e sem causa aparente para uma alteração do seu estado clínico, deverá suspeitar-se de alterações da função tiroideia”.

Agora que já sabe por que motivo bom controlo da função tiroideia é tão importante para a saúde do seu coração, esteja atento!

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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