Impacto económico representa entre 2 a 6% do orçamento da saúde

Doença Renal Crónica: Portugal é um dos países europeus com maior número de doentes a fazer diálise

Atualizado: 
09/03/2023 - 17:00
Os rins desempenham inúmeras funções no organismo humano: filtram o sangue, eliminam as toxinas através da urina, regulam a pressão arterial e a quantidade de água e eletrólitos do organismo, e ainda produzem hormonas. Quando os rins perdem estas funções, de forma progressiva, desenvolve-se a doença renal crónica (DRC), explica a nefrologista, Inês Coelho, no âmbito do Dia Mundial do Rim.

De acordo com a especialista em Nefrologia, Portugal apresenta uma das taxas mais elevadas de doentes renais crónicos a integrar programas de diálise. “Embora apenas 0.1-0.2% da população geral seja submetida a algum tipo de tratamento substitutivo da função renal, esse grupo consome entre 2- 6% do orçamento dos cuidados de saúde, pois os tratamentos são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde”, revela ainda quando ao impacto económico da doença.

“Em Portugal, o número de doentes com DRC avançada é crescente, mostrando que não estamos a dar a devida atenção à saúde dos rins, principalmente no que diz respeito à adoção de hábitos de vida saudáveis”, reforça ainda Inês Coelho alertando para os principais cuidados a ter para prevenir o desenvolvimento e/ou a progressão da doença renal:

  • Vigiar o peso, e emagrecer, caso tenha excesso de peso ou obesidade;
  • Evitar alimentos processados (“Descasque mais e desembale menos!”), evitar o excesso de açúcar e sal e evitar bebidas alcoólicas;
  • Manter atividade física regular;
  • Controlar a pressão arterial e a diabetes, e tomar a medicação prescrita para esse objetivo todos os dias;
  • Evitar o stress;
  • Parar de fumar;
  • Evitar a automedicação, nomeadamente o uso excessivo de anti-inflamatórios não esteroides.

A hipertensão arterial, a diabetes mellitus e a obesidade são perigosas para os rins

Apesar de existirem múltiplas causas para a doença renal crónica (DRC), “desde genéticas, como a doença renal poliquística autossómica dominante, infeciosas, obstrutivas, tóxicas, doenças autoimunes”, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus e a obesidade estão entre as patologias que mais contribuem para o seu desenvolvimento e, por isso, classificadas como importantes fatores de risco a que todos devemos estar atentos.

Uma vez que não provoca “sintomas significativos” nos estadios iniciais, a Doença Renal Crónica é considerada uma doença silenciosa. “Com a instalação e progressão da doença vão surgindo sintomas variados como cansaço, perda de apetite, náuseas e vómitos, edema (inchaço) da face e pés, dificuldade no controlo da pressão arterial, falta de ar, comichão generalizada, alterações do sono e da memória. Todos estes sintomas são inespecíficos, pelo que é premente realizar exames de diagnóstico de rotina, no mínimo uma vez por ano, no seu médico de família”, esclarece a médica.

Quando a doença atinge estadios mais avançados é necessária referenciação a Nefrologia, a especialidade que se dedica ao diagnóstico e tratamento da doença renal.

“O diagnóstico é realizado através de exames simples de rastreio (como o doseamento de ureia e creatinina sérica e o exame de urina), pois a DRC não provoca sintomas significativos nos seus estádios iniciais, e, portanto, é uma doença silenciosa”, explica Inês Coelho, acrescentando que a “ecografia renal complementa o diagnóstico, permitindo avaliar a morfologia renal”.

No entanto, em alguns casos, é necessária a realização de uma biópsia renal que permite identificar a causa da doença.

Tratamento depende da causa e do estadio da patologia

“Dependendo da causa da DRC existem alguns tratamentos dirigidos a essa causa, bem como medidas gerais de preservação da função renal, que deverão ser instituídos o mais precocemente possível”, afirma a especialista, recordando a importância da adoção de estilos de vida mais saudáveis, recordando as medidas que enumeradas em matéria de prevenção.

“Quando os rins atingem o estádio mais avançado de doença, ou seja, deixam de funcionar, existem 3 tipos de tratamentos que substituem a função dos rins”, explica:

  • Hemodiálise – o sangue passa através de uma máquina onde existe um filtro que remove as toxinas e o excesso de líquidos. A técnica é realizada numa clínica ou hospital, habitualmente durante 4 horas, 3 vezes por semana, período em que o doente permanece sentado num cadeirão. Para realizar a técnica é necessário um acesso vascular, que implica uma pequena cirurgia aos vasos sanguíneos de um dos braços ou a colocação de um cateter venoso central.
  • Diálise Peritoneal – um líquido especial é introduzido na barriga, permitindo a depuração do sangue através de uma membrana que existe no organismo, a membrana peritoneal. O líquido é trocado várias vezes, durante o dia e/ou noite, e o doente é autónomo na técnica realizando-a em casa. Para realizar a técnica é necessário a colocação de um cateter peritoneal através de uma pequena cirurgia.
  • Transplante Renal – um rim proveniente de um dador (vivo ou cadáver) é transplantado no doente, sendo possível viver apenas com um rim. É a terapêutica de eleição, pois permite substituir de forma mais completa a função dos rins nativos. No entanto, nem todos os doentes são candidatos a transplante renal, quer pela sua idade avançada ou por outras doenças que possam ter. Para que o organismo não rejeite o rim é necessário tomar medicamentos (os imunossupressores) diariamente e para o resto da vida.

Em casos selecionados, revela a especialista, “existe também a possibilidade de realizar o Tratamento Conservador da DRC, que se foca essencialmente no controlo de sintomas sem a realização dos tratamentos substitutivos da função renal descritos”.

Entre as principais complicações associadas à DRC, Inês Coelho destaca a anemia, edema generalizado, dificuldade respiratória, alterações analíticas como a elevação do potássio, fósforo e a acumulação de ácidos, bem como problemas ósseos e infertilidade.

Por outro lado, revela, “a DRC associa-se a maior risco de doença cardiovascular e de mortalidade por causa cardiovascular”.

Por todos estes motivos, a especialista recomenda: “seja curioso, informe-se, tome consciência dos seus hábitos e mude aqueles que não lhe são benéficos”

“Apostar na sua saúde, através da escolha consciente de estilos de vida saudáveis é a forma mais eficaz de prevenir doença e de garantir uma qualidade de vida ao longo de todas as fases da sua vida, desde a idade jovem até à velhice”, realça. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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