Doença crónica

Doença Inflamatória do Intestino: os sinais a que deve estar atento

Atualizado: 
05/01/2022 - 10:12
Com um grande impacto na qualidade de vida, estima-se que as Doenças Inflamatórias do Intestino afetem cerca de 24 mil portugueses, com especial incidência entre os mais jovens. Dor abdominal e diarreia constam dos principais sintomas.

Tipicamente diagnosticadas entre os 15 e os 35 anos, as Doenças Inflamatórias do Intestino são doenças crónicas mediadas pelo sistema imunitário e que resultam numa reação inflamatória exagerada do tubo digestivo.  A Doença de Crohn e a Colite Ulcerosa são a principais doenças inflamatórias do intestino. “Ambas são doenças crónicas que causam inflamação recidivante do tubo digestivo, que frequentemente evolui por cursos de agudização (crises) e remissão”, explica Marília Cravo, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

Entre os principais fatores de risco a especialista destaca a história familiar da doença, sobretudo entre familiares de primeiro grau, e a “presença de outras doenças de foro imune”, como a artrite reumatoide ou a psoríase. “O principal fator ambiental associado à doença de Crohn é o tabagismo que aumenta o risco de desenvolver doença de Crohn; vários estudos têm também identificado a exposição a antibióticos como um fator de risco para doença inflamatória, especialmente Doença de Crohn”, acrescenta a vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

Embora a dor abdominal e a diarreia constem entre os principais sintomas, por desconhecimento, estes são frequentemente subvalorizados o que implica um atraso no seu diagnóstico.  Sabe-se aliás que, não raras as vezes, a doença inflamatória intestinal é confundida com a Síndrome do Intestino Irritável, apesar de se tratarem de patologias distintas.

Assim tome nota: diarreia, dor abdominal, perda de sangue nas fezes, cansaço e anemia são os principais sinais a que deve estar atento. “Uma doença mal controlada ou com agudizações graves pode requerer hospitalizações e cirurgias”, justifica a especialista explicando que o seu diagnóstico “é feito com base em elementos de ordem clínica, laboratorial e com base no aspeto da inflamação na endoscopia e nas biopsias recolhidas durante a endoscopia”.  “A informação obtida em métodos de imagem (eg. TAC, ressonância) pode ser útil e complementar para estabelecer o diagnóstico”, acrescenta.

Quanto ao tratamento, atualmente este tem como principais objetivos controlar a progressão da doença e evitar complicações, permitindo os doentes manter “uma qualidade de vida normal”.

Marília Cravo explica que este “envolve medicamentos anti-inflamatórios e medicamentos que tentam atenuar a resposta exagerada do sistema imunitário”, como é o caso dos imunomoduladores ou fármacos biológicos.  Sendo que a cirurgia “está indicada em doentes que não respondem à terapêutica médica ou para o tratamento de complicações da doença”.

O que distingue a Doença de Crohn da Colite Ulcerosa

Segundo a especialista, “a Doença de Crohn localiza-se frequentemente na parte terminal do intestino delgado e pode atingir todos os segmentos do tubo digestivo (desde a boca até ao ânus); cerca de 1/3 dos doentes podem apresentar fístulas e abcessos na região perianal”. Já a Colite Ulcerosa, “tipicamente afeta apenas o intestino grosso”.

Por outro lado, enquanto na Doença de Crohn “a inflamação pode atingir vários segmentos e é tipicamente descontínua e assimétrica, havendo zonas de intestino saudável intercaladas com zonas de intestino inflamado”, na Colite Ulcerosa “a inflamação inicia-se no reto distal e estende-se de forma contínua no intestino grosso”.

“Por fim, a doença de Crohn pode atingir todas as camadas da parede intestinal (é uma doença transmural) enquanto na colite ulcerosa a inflamação tipicamente restringe-se à camada mais interna do intestino (a mucosa). Devido à natureza transmural da doença, a doença de Crohn pode complicar-se de apertos (estenoses) no intestino e/ou de fístulas e/ou abcessos, complicações estas que não são típicas da colite ulcerosa”, acrescenta Marília Cravo.

No entanto, ambas as patologias aumentam o risco de desenvolvimento de cancro colorretal, o que exige uma vigilância periódica do intestino.

Entre os principais cuidados, para além de se manter vigilante ou atento a estes sintomas, “os doentes devem manter seguimento regular e a doença monitorizada e vigiada de forma a que os tratamentos possam ser ajustados caso não estejam a funcionar e de forma a prevenir o aparecimento de complicações”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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