Entrevista

A Disfunção Erétil nos diabéticos é um importante sinal de alerta para complicações cardiovasculares

Atualizado: 
24/05/2022 - 11:46
A disfunção eréctil é uma das complicações da diabetes, sendo esta doença a sua causa mais frequente. Os sinais de alerta podem manifestar-se de forma progressiva ou subitamente. Em entrevista ao Atlas da Saúde, Carlos Fernandes, Endocrinologista do Hospital da Luz, mostra como estas duas condições se associam e alerta: “todos os doentes com diabetes devem ser questionados acerca da presença de disfunção erétil, pois muitos não abordam a questão de forma espontânea. A disfunção que se estima que afete cerca de 75% dos doentes diabéticos, para além de ser um importante sinal de alerta para futuras complicações cardiovasculares, é ainda responsável por quadros depressivos nesta população.

Estima-se que a pessoa com Diabetes Mellitus (DM) apresenta um risco, aproximadamente 3 vezes maior de desenvolver Disfunção Erétil (DE), quando comparado a indivíduos não diabéticos. Além disso, esta disfunção tende a desenvolver-se mais precocemente nestes doentes. Neste sentido, que fatores estão subjacentes ao desenvolvimento da Disfunção Erétil associada à DM? O que explica esta relação?

A Diabetes (DM), em relação à disfunção erétil (DE) representa uma ´´tempestade perfeita ´´ pois atinge os principais mecanismos fisiológicos responsáveis pela ereção como o músculo liso, vias nervosas e os vasos sanguíneos.

Assim, a DM provoca a disfunção endotelial com diminuição da liberação de óxido nítrico responsável ela vasodilatação, arteriosclerose e lesão dos corpos cavernosos com compromisso do mecanismo de veno-oclusão. A neuropatia da DM diminui o estímulo neurológico associado à ereção e, além disso, a DM como toda doença crónica, pode provocar quadros de depressão e ansiedade que diminui o desejo sexual.

No entanto, embora as causas da disfunção erétil estejam associadas aos efeitos da DM no organismo, esta pode ser resultado também da medicação utilizada, correto?

Os antidiabéticos orais ou a insulina não estão relacionados com agravamento da DE. Existem alguns anti-hipertensores, fármacos anti-androgénicos e alguns medicamentos utilizados para tratamento de distúrbios psiquiátricos que podem provocar ou agravar a DE.

Que outros problemas de saúde podem agravar a disfunção erétil associada à DM?

A DM está frequentemente associada a obesidade, hipertensão arterial e alterações do perfil lipídico, como o aumento do colesterol total e triglicerídeos. Todos estes fatores levam a arteriosclerose, diminuição dos níveis de testosterona e lesão endotelial com compromisso da vasodilatação e lesão dos corpos cavernosos.

A DE é mais frequente em doentes que apresentem outras complicações relacionadas com a DM como neuropatia autonómica ou retinopatia, e sabemos também que doentes com DM que desenvolvem DE experimentavam uma significativa diminuição da qualidade de vida.

Como se caracteriza a disfunção erétil e quais os principais sintomas associados ou sinais de alerta?

Pode definir-se disfunção eréctil (DE) como a incapacidade persistente e recorrente em atingir ou manter uma ereção adequada para uma relação sexual satisfatória. No caso da DM, a DE normalmente aparece de forma lenta e insidiosa com agravamento ao longo de meses ou anos e pode associar-se a diminuição do desejo sexual e ansiedade de performance.

Outra associação importante é o facto de que a DE em doentes com DM é um sinal de alerta pois pode estar relacionado com um maior risco de futuras complicações cardiovasculares, como cardiopatia isquémica.

Como se trata a disfunção erétil?

Todos os doentes com DM devem ser questionados acerca da presença de DE, pois muitos não abordam a questão de forma espontânea. SE houver queixas de DE deve-se avaliar não só a DM e as suas complicações, mas também outros fatores que podem contribuir para a DE como dislipidemia, hipertensão, tabagismo, consumo de álcool, depressão ou sinais de disfunção hormonal.

Deve-se ainda proceder a revisão de fármacos que podem interferir com a função eréctil como anti-hipertensores ou anti-androgénicos.

A avaliação laboratorial inicial deve incluir, além das análises gerais, a, testosterona total, prolactina e TSH.

Atualmente existem diversos fármacos vasodilatadores sildenafil (Viagra®), tadalafil (Cialis®), avanafil (Spedra®) que são eficazes em até 60-80% dos casos de disfunção erétil.

Estes fármacos devem ser sempre usados sob orientação médica de forma a que sejam seguros do ponto de vista cardiovascular.

Como tratamento de segunda linha temos o alprostadilo sob a forma intrauretral e injetável, bombas de vácuo e novas tecnologias como as ondas de choque de baixa intensidade. Finalmente as próteses penianas constituem normalmente o último recurso para o tratamento da DE na DM. 

Qual o seu impacto na saúde mental dos doentes e quando procurar ajuda?

Como já foi referido, a DE está relacionada com a diminuição da qualidade de vida, quadros de ansiedade e depressão. Além disso, verifica-se um impacto importante na vida do casal, na sua intimidade. Essa disfunção leva a um ciclo de acontecimentos negativos, que prejudicam a relação como um todo e a relação sexual em particular.

Em matéria de prevenção, quais os cuidados a ter?

É fundamental o bom controlo da glicemia e de outros fatores de risco como a obesidade, hipertensão e dislipidemia com o objetivo de diminuir o risco de DE e aumentar a eficácia dos tratamentos específicos para a DE.

No âmbito deste tema que mensagem-chave gostaria de deixar?

Todos os doentes com DM devem ser questionados acerca da presença de DE, pois muitos não abordam a questão de forma espontânea. Se houver queixas de DE deve-se avaliar não só a DM e as suas complicações, mas também outros fatores que podem contribuir para a DE como dislipidemia, hipertensão, tabagismo, consumo de álcool, depressão ou sinais de disfunção hormonal. Ter em mente que a DE pode se um marcador precoce de doença cardiovascular.

 

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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