Diabetes: a ameaça silenciosa para a visão dos portugueses
A retinopatia diabética é uma complicação ocular decorrente da diabetes. O seu mecanismo resulta de fatores modificáveis e não modificáveis. Nos modificáveis estão os níveis de açúcar no sangue (glicemia), a hipertensão arterial, a dislipidemia (aumento dos níveis de lípidos no sangue), a obesidade e a função renal. Se estes fatores modificáveis não forem controlados, podem resultar numa lesão crónica e sustentada nos vasos sanguíneos da retina, que levam à falência dessa barreira e à oclusão vascular, causando a saída de líquido para a retina ou a sua microtrombose. Perante isto, a pessoa em questão poderá ter perdas graves de visão.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que há cerca de 146 milhões de adultos no mundo com retinopatia diabética. Carlos Marques Neves, coordenador do Grupo Português de Retina e Vítreo da SPO, afirma que “temos de fazer o possível para combater o atual cenário da doença, caso contrário prevê-se um crescimento deste número para cerca de 180,6 milhões em 2030. É alarmante e uma ameaça significativa para a qualidade de vida de muitas pessoas.”
No início da patologia, a retinopatia diabética pode ser assintomática e, portanto, não dar sinais. Por ser silenciosa, torna-se ainda mais perigosa. “É fundamental ir ao médico oftalmologista e fazer rastreios com regularidade, principalmente no caso de quem vive com diabetes tipo 2 (DT2). Perante o diagnóstico de DT2, deve ser realizado um rastreio de imediato e manter um acompanhamento regular. Já as pessoas com diabetes tipo 1 devem fazer a primeira consulta de oftalmologia nos primeiros cinco anos após terem sido diagnosticadas”, reforça o médico oftalmologista.
Globalmente, estima-se que há, pelo menos, 2,2 mil milhões de pessoas com deficiência visual, dos quais em, pelo menos, mil milhões – quase metade – a perda da visão poderia ter sido prevenida ou ainda não foi tratada. Fazem parte desta estatística cerca de três milhões de pessoas com retinopatia diabética.
Carlos Marques Neves reforça: “A retinopatia diabética vai progredindo e pode originar alterações da visão de contraste, da visão das cores e da visão com pouca luz. O fator tempo é determinante para evitar consequências mais graves ou irreversíveis. A deteção precoce e o tratamento adequado são vitais para travar a progressão da doença.”
Para a SPO é crucial continuar a contribuir para a consciencialização e educação dos portugueses sobre a retinopatia diabética através da partilha de informação credível e relevante. Simultaneamente, motivar as pessoas que vivem com diabetes a procurarem um acompanhamento regular com médicos oftalmologistas, controlarem os seus níveis de açúcar no sangue, adotarem um estilo de vida saudável e seguirem as orientações médicas para minimizar o risco de desenvolver a doença.