As diferentes etapas de desenvovimento

Desenvolvimento Infantil

Atualizado: 
10/03/2021 - 10:20
Os primeiros anos de vida são os mais importantes no crescimento e desenvolvimento da criança. Sendo que este vai ter um impacto direto no seu comportamento em adulto. Assim, é essencial que todos os que participam efetivamente na vida da criança, nomeadamente pais, cuidadores e professores estejam conscientes dos respetivos papéis, tanto a nível no desenvolvimento cognitivo, como social e intelectual e estejam atentos às diversas etapas de desenvolvimento e, sempre que surjam duvidas/preocupações devem procurar ajuda de profissionais.

Desenvolvimento Infantil

O desenvolvimento infantil é parte fundamental do desenvolvimento humano, sendo que, é nos primeiros anos de vida, que a arquitetura cerebral é moldada, a partir da interação entre herança genética e influências do meio envolvente da criança. É um processo dinâmico e único de cada criança, expresso por continuidade e processos de mudanças nas habilidades motoras, de linguagem, cognitivo e socio-afetivo, com aquisições progressivamente mais complexas nas funções da vida diária e no exercício do seu papel social. Sendo assim, pode-se afirmar que os primeiros anos de vida são decisivos no processo de desenvolvimento. O alcance do potencial de cada criança depende do cuidado responsivo às suas necessidades de desenvolvimento.

O desenvolvimento é frequentemente dividido em domínios específicos, como motor grosseiro, motor fino, linguagem, cognitivo e crescimento social/emocional. Essas designações são úteis, mas existem superposições substanciais. Os estudos estabeleceram as médias de idades alcançadas por marcos específicos, bem como as faixas de normalidade. Numa criança normal, os progressos são variáveis dentro de diferentes domínios. Pode por exemplo começar a andar tarde, mas falar cedo.

O grau de progresso e padrão de desenvolvimento de uma criança é influenciada por múltiplos fatores. Nomeadamente ambientais, nutricionais, grau de estimulação, impacto de uma eventual doença, fatores psicológicos e fatores genéticos.

A análise do desenvolvimento ocorre constantemente quando pais, profissionais de escola e de saúde avaliam as crianças. Contudo, aquando de eventuais suspeitas esta deve ser avaliada por especialistas, através de ferramentas disponíveis para monitorizar o desenvolvimento com mais especificidade e precisão.

  1. Desenvolvimento motor

O desenvolvimento motor divide-se em motor fino (como pegar em pequenos objetos ou desenhar) e capacidades motoras amplas (como andar ou subir escadas). É um processo contínuo que depende do padrão da família, de fatores ambientais (quando a atividade é limitada por uma doença prolongada) e disfunções específicas (como no caso de paralisia cerebral, perturbação mental ou distrofia muscular). Normalmente, as crianças começam a andar aos doze meses de idade, subir escadas mantendo-se firme aos dezoito meses e correm bem aos dois anos. Contudo, a idade para aquisição destas habilidades varia de criança para criança, sem que tal seja patológico.

  1. Desenvolvimento da linguagem

Geralmente a habilidade de compreensão da linguagem precede a habilidade da fala. Crianças com um vocabulário pobre podem compreender bastante. Embora atrasos de linguagem não sejam tipicamente acompanhados de outros de desenvolvimento. Todas as crianças com excessivo atraso de linguagem deveriam ser avaliadas quanto à existência de outros atrasos de desenvolvimento. A avaliação de qualquer atraso da linguagem deve ser iniciada com testes auditivos. Salientar que a maioria das crianças que apresentam atraso de linguagem tem inteligência normal e que crianças com desenvolvimento acelerado da linguagem estão frequentemente acima da média de inteligência.

Progressos de linguagem abrangem desde o modo de expressar os sons vogais (sussurrar) até a introdução de sílabas que se iniciam com consoantes (ba-ba-ba). A maioria das crianças pode dizer “Papa” e “Mama” aos doze meses, usar várias palavras aos dezoito meses e formar frases de duas ou três palavras aos dois anos. Em média, aos três anos, uma criança pode manter uma conversa e aos quatro anos, consegue contar histórias simples e envolver-se numa conversa com adultos ou outras crianças. Enquanto aos cinco anos tem um vocabulário de vários milhares de palavras.

Não raramente aos dezoito meses as crianças podem ouvir e compreender a história que lhes é lida. Aos cinco anos são capazes de recitar o alfabeto e reconhecer palavras simples escritas. Todas estas habilidades são fundamentais para aprender a ler palavras e frases simples. Dependendo da estimulação e exposição à presença de livros e habilidades naturais, a maioria das crianças começa a ler entre os seis e os anos de idade. Sendo estes limites muito variáveis.

  1. Desenvolvimento cognitivo

O desenvolvimento cognitivo diz referência ao amadurecimento intelectual das crianças. O afeto e a educação são apropriados pelo lactente no início da infância e são reconhecidos como fatores críticos para o crescimento cognitivo e saúde emocional. Por exemplo, a leitura para a criança, desde cedo, contribui com experiências intelectualmente estimulantes e propicia um relacionamento educativo caloroso, o que trará importante impacto sobre o crescimento nesses domínios.

O intelecto das crianças pequenas é avaliado pela observação das aptidões de linguagem, curiosidade e habilidades para resolver dificuldades. Assim que a criança começa a verbalizar, torna-se mais fácil avaliar a função intelectual utilizando ferramentas clínicas especializadas. A partir do momento em que a criança começa a frequentar a escola, ela passa a ser constantemente monitorizada no processo de desenvolvimento.

Geralmente, aos dois anos, as crianças entendem o conceito de tempo em termos amplos. Acreditando que tudo o que aconteceu no passado aconteceu "ontem" e tudo o que acontecerá no futuro acontecerá "amanhã". Possuem uma imaginação fértil e enorme dificuldade em distinguir fantasia da realidade.

Aos quatro anos de idade, a maioria das crianças tem uma compreensão mais complicada do tempo. Elas percebem que o dia é dividido em manhã, tarde e noite. E, podem até conseguir apreciar a mudança das estações.

Já aos sete anos, as capacidades intelectuais das crianças tornam-se mais complexas. São cada vez mais capazes de compreender vários aspetos de um evento ou situação ao mesmo tempo. Por exemplo, crianças em idade escolar podem reconhecer que um frasco alto e estreito pode armazenar a mesma quantidade de água do que um curto e largo. Conseguem percecionar que um medicamento, mesmo apesar de ter um mau sabor pode trazer-lhes benefícios ou que quando a mãe está nervosa com elas, não significa que não as ama. Nestas idades, as crianças são cada vez mais capazes de entender a perspetiva do outro e assim aprender o saber ser e o saber estar adquirindo a capacidade de saber esperar pela sua vez durante uma conversa ou a realização de jogos, assim como a seguir as regras consensuais durante esses jogos. Nesta idade também são cada vez mais capazes de raciocinar usando os poderes da observação e múltiplos pontos de vista.

  1. Desenvolvimento socio-afetivo

Esta é a área que envolve a maneira como a criança se socializa, além da forma como lida com as próprias emoções, assente no temperamento. Cada criança tem um temperamento ou humor próprio. Algumas crianças podem ser alegres e adaptáveis e desenvolver facilmente rotinas regulares de dormir, acordar, comer e outras atividades diárias. Estas crianças tendem a responder positivamente a novas situações. Outras crianças não são muito adaptáveis e podem ter grandes irregularidades nas suas rotinas. Estas crianças tendem a reagir negativamente a novas situações.

O crescimento emocional e a aquisição de aptidões sociais são avaliados pela observação da interação com outras crianças, em situações do dia-a-dia. Quando a criança começa a falar, a compreensão do seu estado emocional torna-se muito mais real. Seguem-se alguns exemplos de manifestações de emoções.

a. Choro – é o principal meio de comunicação dos recém-nascidos. Choram quando têm fome ou dor, estão sujos e por muitas outras razões mais ou menos evidentes. Por norma choram cerca de três horas por dia nas primeiras seis semanas de idade, diminuindo este período de choro com a idade. Ao choro os pais normalmente tentam responder com o intuito de solucionar o “pedido” do recém-nascido. Alimentando-os, mudando a fralda, aliviando a fonte de dor ou de desconforto. Quando estas respostas não solucionam o problema, por vezes pegá-las ao colo ou andar com elas são a solução. Mas, por vezes, nada funciona.

b. Medo da separação dos pais – por volta dos oito meses de idade, os recém-nascidos normalmente tornam-se mais ansiosos em relação a separarem-se dos pais. Assim, o deitar o ir para a creche podem ser momentos difíceis e marcadas por acessos de raiva. Este comportamento pode persistir por muitos meses. Crianças um pouco mais velhas, estas dificuldades podem ser solucionadas por um objeto de estimação, que pode atuar como símbolo dos pais ausentes (peluche, brinquedo, fralda ou outro).

c. Ataques de raiva – entre os dois e três anos, as crianças começam a testar os seus limites e a fazer o que até então estavam impedidas de o fazer, pelo simples “prazer” de saber o que vai acontecer. Os "nãos" frequentes que as crianças ouvem dos pais refletem a luta pela independência nessa idade. Os ataques de raiva, apesar de serem momentos angustiantes para pais e filhos, não são mais que acontecimentos normais no desenvolvimento da criança, pois ajudam-na a expressar a sua frustração num momento em que não são capazes de verbalizar os seus sentimentos. Estes ataques de raiva podem ser diminuídos pelos pais, desde que estes entendam os padrões de comportamentos dos filhos, evitando assim situações que possam induzir esses momentos, como o cansaço extremo ou a frustração. Contudo, algumas crianças têm particular dificuldade em controlar os seus impulsos e precisam que os pais estabeleçam limites mais restritos em torno dos quais pode haver alguma segurança e regularidade no seu mundo.

d. Identidade de gênero – a identidade de género é estabelecida entre os dezoito meses e os dois anos de idade. Período durante o qual as crianças adquirem a noção do que meninos e meninas costumam fazer. Espera-se que elas explorem os órgãos genitais nessa idade e os sinais de que as crianças estão começando a estabelecer uma conexão entre a imagem corporal e o gênero.

Entre os dois e os três anos de idade, as crianças começam a brincar de maneira mais interativa com outras crianças. Embora ainda possam ser possessivas em relação aos brinquedos, elas podem começar a compartilhar e até mesmo se revezar nas brincadeiras. Afirmar a posse dos brinquedos dizendo que "isso é meu" ajuda a estabelecer o sentido do eu. Embora crianças nessa idade lutem por independência, elas ainda precisam dos pais por perto para se sentirem seguras e apoiadas. Por exemplo, elas são capazes de se afastar dos pais quando se sentem curiosas e seguras e logo depois esconderem-se atrás deles quando estão com medo.

Dos três aos cinco anos, muitas crianças interessam-se por brincadeiras envolvendo fantasia e amigos imaginários. Estas brincadeiras permitem às crianças exprimir com segurança diferentes papéis e sentimentos intensos de maneiras aceitáveis, ajudando-as a crescer socialmente. Aprendem assim a resolver conflitos com os pais e outras crianças e capacidades para desabafar frustrações e manter a autoestima. Também nesse momento, aparecem os medos, normais, típicos da infância como "o monstro no armário".

Dos sete aos doze anos, as crianças superam inúmeros desafios. Como o autoconceito, a base para o que é estabelecido pela competência em sala de aula; relacionamentos com colegas, que são determinados pela capacidade de socialização e adaptação; e relacionamentos familiares, que são determinados em parte pela aprovação que as crianças obtêm dos pais e irmãos. Embora muitas crianças pareçam dar muita importância a grupos de colegas, elas continuam procurando os pais como o suporte e orientação de que necessitam. Irmãos podem servir como modelos de vida e como suportes valiosos e críticos em relação ao que pode ou não ser feito. Nesse momento na vida, as crianças são muito ativas, envolvem-se em muitas atividades e estão ansiosas para explorar novas atividades. São aprendizes ansiosos e muitas vezes respondem bem a conselhos sobre segurança, estilos de vida saudáveis e prevenção de comportamentos de alto risco.

Marcos de desenvolvimento

Segue-se marcos de desenvolvimento, onde a criança deve conseguir “atingir” determinadas habilidades. Contudo, como referido, estes marcos são meramente indicativos e não “a priori” sinal de patologia, sendo que sempre que existirem dúvidas, os pais devem procurar ajudas de profissionais.

 

Referências bibliográficas:
Brant, J; Jerusalinsky, A e Zannom, C (2000). Área da saúde da criança. Lisboa: Ministério da Saúde.

Autor: 
Mário Oliveira - Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica (UCSP Vagos 1)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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