Dermatite Atópica afeta muito mais que a pele
De acordo com a especialista em dermatologia, Maria João Paiva Lopes, a Dermatite Atópica é uma doença inflamatória crónica que se desenvolve na infância, sobretudo durante o primeiro ano de vida, e que se caracteriza por surtos de agravamento e remissão. No entanto, ao contrário do que se possa pensar, o seu diagnóstico chega, em muitos casos, vários anos depois do aparecimento dos primeiros sintomas.
“O sintoma dominante é o prurido, que pode ser desesperantemente intenso e persistente, levando a situações de coceira incoercível, com feridas por escoriação, por vezes cobertas por crostas de sangue”, explica a dermatologista, interferindo com a qualidade de vida do doente que, nos casos mais graves, pode desenvolver perturbações do sono.
Impactando negativamente a qualidade de vida de quem dela padece, a Dermatite Atópica surge associada a efeitos socioeconómicos que não podem deixar ninguém indiferente. “Para o doente, a DA requere o uso prolongado de dermocosméticos adequados para a higiene diária e para a hidratação da pele após o banho, que não são comparticipados e podem corresponder a uma despesa fixa significativa para o orçamento familiar. Por outro lado, nos períodos de crise é necessário recorrer a medicamentos, tópicos e/ou sistémicos, e pode haver períodos de internamento, bem como necessidade de consultas regulares e realização de exames complementares de diagnóstico. Resulta absentismo escolar ou laboral do doente e da família, o qual, associado ao estigma da doença cutânea em áreas expostas como a face e as mãos, assim como às perturbações do sono (e consequente cansaço crónico, dificuldade de concentração e irritabilidade) leva a dificuldades de aprendizagem ou profissionais”, esclarece a especialista.
Mafalda tinha 4 anos quando foi diagnosticada com a doença e admite que esta, desde então, apresenta um grande impacto físico e psicológico na sua vida, sobretudo quando se intensificam as suas crises. “Fisicamente torna-se desconfortável (…) a autoestima fica em baixo e por vezes ficamos deprimidos”, o que afeta não só a sua vida pessoal quanto profissional. No entanto, embora não possa afirmar que já se sentiu discriminada quanto ao seu aspeto, admite que “as pessoas que não me conhecem olham para mim de uma maneira diferente e como não têm conhecimento da doença fazem comentários desnecessários”.
Estando muitas vezes associada a outras patologias como a asma ou a rinite alérgica, a Dermatite Atópica tem como principais fatores de risco a história familiar de doença atópica, a exposição recorrente a antibióticos na infância, habitar em zonas urbanas e com clima seco. Em todo o caso, Maria João Paiva Lopes afirma que “é importante esclarecer que na realidade esta doença não é uma alergia”.
A paciente revela, quanto a esta questão que “o meu irmão tem psoríase, o meu pai tem problemas respiratórios, a minha avó paterna também tinha alguns problemas de pele”.
No seu caso, as primeiras manifestações da doença surgiram associadas à asma. “Comecei a ficar com lesões na pele, no pescoço na dobra das pernas e dos braços e nas virilhas”, revela admitindo que com a ajuda do tratamento conseguiu melhorar a sua qualidade de vida. “Passei por algumas fases complicadas, mas agora a doença está controlada”, afiança admitindo, no entanto, que não pode descurar certos cuidados: “colocar muito creme hidratante e fazer a higiene da pele com produtos indicados para a Dermatite”. Muito embora, siga à risca as indicações médicas, sabe que, no seu caso, “o stress é o que contribui mais para o agravamento da doença e também a alteração das estações do ano, primavera e outono”.
Segundo a especialista em dermatologia, embora “a maioria dos doentes entra em remissão espontânea após a puberdade”, há casos muito graves e persistentes que obrigam a tratamento crónico, “nem sempre com resultados totalmente satisfatórios”.
Neste âmbito, Maria João Paiva Lopes explica que atualmente “estão disponíveis vários tratamentos tópicos, imunossupressores sistémicos, fototerapia e, mais recentemente, um tratamento biotecnológico”. Espera-se ainda para breve a aprovação de novas moléculas inovadoras.
Cada caso é um caso, e o dermatologista é que irá determinar o tratamento mais indicado para o doente. “Gostaria de sublinhar que a evolução terapêutica recente tem sido notável e, portanto, atualmente estão disponíveis terapêuticas muito eficazes e seguras”, acrescenta a especialista que apela ainda para a prevenção. “A principal medida de prevenção é a proteção da função barreira, através do uso de produtos de limpeza adequados para higiene diária e da aplicação de emolientes em toda a pele, diariamente, desde o primeiro mês de vida”.
De modo a sensibilizar para a doença, Mafalda reforça esta mesma ideia. “A pele é o maior órgão do corpo humano e temos de o proteger e cuidar. Tenho esta doença há 40 anos, tive dias muito maus e complicados, mas temos de ter muita força porque dias melhores virão. A medicina está sempre a evoluir e vamos conseguir aproveitar melhor a vida”.