Depressão na infância e adolescência
Na infância a depressão não apresenta predomínio de género, todavia, na adolescência as raparigas apresentam duas vezes mais propensão para desenvolver esta patologia do que os rapazes.
A depressão é uma patologia do foro psiquiátrico que provoca um sentimento persistente de tristeza e falta de interesse, e que se prolonga no tempo, afetando significativamente as atividades da vida diária dos sujeitos. No concerne a etiologia da depressão na infância e adolescência, esta é multifatorial com forte influência de fatores biológicos, genéticos, psicológicos e sociais. Vários estudos apontam que a componente genética assume especial relevo, aumentando o risco de depressão na infância e adolescência em pelo menos três vezes.
A depressão sempre foi vista como uma patologia especifica da idade adulta. Só a partir da década de 60/70 é que foi relacionada à infância e adolescência, uma vez que até esta altura a sintomatologia era na sua grande maioria associada a outras patologias.
A adolescência é uma etapa que acarreta várias mudanças e transformações no Eu interior e exterior, mudanças essas que podem gerar grande sofrimento dado que representam a rutura com a imagem e identidade da infância, bem como com os pais idealizados.
As transformações que decorrem nesta fase, fazem com que o jovem perca as suas referencias e, consequentemente perca a representação de si mesmo, uma vez que a sua nova identidade se encontra em construção.
A sintomatologia depressiva varia de acordo com a idade. Tendo em conta as especificidades da infância e adolescência são descritos como sintomas: irritabilidade e instabilidade; birras; agressividade; humor deprimido; alterações do padrão de sono; isolamento; baixa autoestima; ideação e comportamento suicida; baixo rendimento escolar; dores abdominais; perda de energia. Apesar de um grande número de sintomas possíveis, podemos dizer que os sintomas psicossomáticos, tais como cefaleias e lipotimias, prevalecem.
O tratamento é um desafio, uma vez que carece de uma abordagem multidisciplinar envolvendo diferentes profissionais de saúde, médico, psicólogo, enfermeiro, entre outros. A abordagem ao tratamento ainda é predominantemente de cariz farmacológico, com recurso sistemático a psicofármacos, ficando para segunda linha a intervenção psicológica e a psicoterapia, muito pela escassez de profissionais de saúde mental, sobretudo nos cuidados de saúde primários, onde por exemplo os psicólogos são praticamente “inexistentes”.
Em suma, a depressão na infância e adolescência assume-se como um problema real de saúde pública com tendência a aumentar a sua prevalência, gerando um impacto cada vez maior na sociedade. Para mitigar este impacto urge que se aposte nos cuidados de saúde primários, através da promoção da saúde mental e do diagnóstico precoce, com recurso ao apoio psicológico e psicoterapêutico como abordagem de primeira linha.