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Demência Vascular: o tipo de demência mais prevalente em Portugal

Atualizado: 
19/02/2021 - 12:45
Embora a demência vascular seja considerada a segunda causa mais frequente de demência associada ao envelhecimento, atrás da Doença de Alzheimer, a verdade é que um estudo de uma equipa do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto veio demonstrar, recentemente, que este é, ao contrário do que se pensava, o tipo de demência mais prevalente em Portugal.

Caracterizada por uma diminuição, lenta e progressiva, da função mental, que afeta a memória, o pensamento, o juízo e a capacidade para aprender, a Demência Vascular surge como resultado de problemas que condicionam o aporte do sangue ao cérebro.

“As células cerebrais necessitam de um aporte sanguíneo constante para que possam receber oxigénio e nutrientes. O sangue é distribuído pelo cérebro através de uma rede complexa de vasos. Quando este sistema é perturbado – por exemplo por um bloqueio ou uma fuga de sangue – o sangue não é distribuído eficazmente por todas as células cerebrais, levando eventualmente a que algumas morram. Esta morte celular pode causar problemas cognitivos irreversíveis e suficientemente graves para impactar a funcionalidade da pessoa”, explica o Centro NeuroSer.

Quer isto dizer que as pessoas que sofrem ou sofreram de doenças cerebrovasculares correm maior risco de desenvolver demência.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento desta entidade clínica estão, portanto, a hipertensão arterial, diabetes, aterosclerose, dislipidemia ou fibrilação atrial. Ser fumador ou já ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral aumenta o risco de Demência. E a explicação é simples: se por um lado, a pressão sanguínea alta, diabetes e aterosclerose danificam os vasos sanguíneos no cérebro, a fibrilação atrial (que é um tipo de arritmia cardíaca) aumenta o risco de acidentes vasculares cerebrais uma vez que pode conduzir à formação de coágulos sanguíneos do coração.

No entanto, isto também significa que, ao contrário de outros tipos de demência, a demência vascular pode ser prevenida através da correção ou eliminação de fatores de risco de acidentes vasculares cerebrais.

Quanto aos sintomas, embora a Demência Vascular seja uma entidade muito heterogénea no que diz respeito às suas manifestações clínicas, uma vez que pode ser originada por lesões vasculares cerebrais de diferentes naturezas, ou seja com localização e extensão distintas, existem alguns sintomas que são comuns, como a perda de memória, dificuldade de planeamento ou raciocínio lento. No entanto, quando comparada com a doença de Alzheimer, a Demência Vascular tende a causar perda de memória mais tarde e afetar menos a personalidade.

Importa ainda sublinhar que, ao contrário de outras demências (que tendem a progredir continuamente), a demência vascular progride por etapas. Quer isto dizer que os sintomas se podem agravar de forma súbita para depois estagnar ou diminuir e progredir meses ou anos mais tarde, na sequência de outro acidente vascular cerebral.

Já a demência que resulta de múltiplos pequenos acidentes vasculares cerebrais, geralmente, progride mais lentamente.

A Demência Vascular é habitualmente diagnosticada através de um exame neurológico e técnicas de imagiologia cerebral como a tomografia computorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM). No entanto, tal como no caso da Doença de Alzheimer, o diagnóstico definitivo de Demência Vascular só pode ser realizado, após a morte, através de um exame ao cérebro.

Embora não exista tratamento que possa reverter os danos apresentados, é muito importante fazer um tratamento para prevenir a ocorrência de outros acidentes vasculares cerebrais. Estes podem ser prevenidos através da prescrição de medicamentos para controlar a hipertensão ou dislipidemia, doença cardíaca e diabetes. Além disso, é recomendada a implementação de uma dieta saudável, com prática de exercício físico e evicção do tabaco e o consumo excessivo de álcool de modo a diminuir o risco de ocorrência de outros episódios cerebrovasculares que podem agravar o quadro.

De acordo com a associação Alzheimer Portugal, “por vezes, são prescritos a aspirina e outros medicamentos para prevenir a formação de coágulos nos vasos sanguíneos pequenos. Os medicamentos também podem ser prescritos para aliviar a inquietude, depressão ou ajudar a pessoa com Demência a dormir melhor”. Em alguns casos, acrescenta, “a cirurgia conhecida como endarterectomia carotídea, pode ser recomendada para remover obstruções na artéria carótida, que é o principal vaso sanguíneo para o cérebro”.

Por outro lado, a associação destaca que alguns estudos recentes sugerem que medicamentos como os inibidores de colinesterase, “que são úteis para algumas pessoas com Doença de Alzheimer”, podem ter algum benefício para a Demência Vascular. Contudo, adverte: “as evidências ainda não são tão claras ou convincentes, como as existentes para a utilização daqueles medicamentos na Doença de Alzheimer”.

Referências:
https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/delirium-e-dem%C3%AAncia/dem%C3%AAncia-vascular
http://rmmg.org/artigo/detalhes/1583
https://alzheimerportugal.org/pt/text-0-9-39-35-demencia-vascular
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1998000300025

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay