Causa mais frequente de cegueira irreversível acima dos 60 anos

Degenerescência Macular da Idade (DMI)

Atualizado: 
26/07/2022 - 10:16
A Degenerescência Macular da Idade ou DMI é a causa mais frequente de cegueira irreversível acima dos 60 anos. No entanto, ela é conhecida por apenas 2% das pessoas na população geral.

A doença afeta a visão central. A visão central permite-nos ler, conduzir, reconhecer faces, perceber as cores e, em geral, desempenhar todo o tipo de atividade que exija uma visão do detalhe. Acima dos 50 anos, 1 em cada 7 pessoas pode revelar os primeiros sinais da presença desta doença, sendo em geral assintomáticas. Com o decorrer do tempo podem surgir problemas de definição, distorção da imagem (metamorfopsia) ou perda da visão central (escotoma). Entretanto, deve realçar-se que esta doença não produz perda total de visão. De facto, a maioria das pessoas com doença avançada mantém uma visão da periferia, a visão navegacional.

A prevalência (número total de casos) aumenta com o grupo etário, sendo de 15% dos 65 aos 74 anos, 25% dos 75 aos 84 anos e de 30% acima dos 85 anos. Embora a taxa de incidência (número de novos casos/grupo etário) não esteja a aumentar, o número total de casos está a aumentar devido ao envelhecimento acentuado da população portuguesa. Aplicando as supramencionadas taxas de prevalência por grupo etário aos dados da PORDATA para a população portuguesa, estima-se que haja cerca de 400.000 pessoas sofrendo de DMI em Portugal.

A DMI assume 3 estadios evolutivos: a forma precoce, a intermédia e a tardia. A forma precoce é assinalada pela presença na retina de pequenas formações de cor amarelada, os drusen, em pessoas geralmente assintomáticas. A forma intermédia caracteriza-se pela presença de drusen com maiores dimensões (acima de 125 µm ou 1/10 de milímetro) e de alterações pigmentares na retina, podendo ser igualmente assintomática. Só o médico oftalmologista poderá efetuar o diagnóstico da presença destas duas formas de doença numa consulta de rotina. A forma tardia pode ser de dois tipos: em 80-90% dos casos, uma forma de atrofia progressiva da retina com perda relativamente lenta da visão, embora possa ser relativamente acentuada em alguns casos; em 10-20% dos casos, uma forma exsudativa, com presença de vasos anormais na retina ou imediatamente abaixo dela, que promovem a sua perda de transparência e a sua destruição estrutural, condicionando uma perda acentuada da visão que pode ser muito rápida.

A prevenção assenta numa dieta normal, com presença de fruta e peixe e abstenção de fumar. Existe evidência sugerindo que certos complexos vitamínicos poderão ser eficazes no atraso da progressão da doença, mas deverão ser prescritos apenas nos casos de DMI intermédia. Pessoas cujos pais tiveram DMI possuem um risco aumentado.

As formas exsudativas serão até 20% das formas tardias, sendo a sua prevalência de 1% no grupo dos 55-65 anos e até 4,4% no grupo acima dos 75 anos, o que dará um número estimado de prevalência acima de 7000 doentes necessitando de tratamento. Como os doentes não tratados desenvolvem atrofia da retina e perda irreversível da visão, não é de surpreender que muitos doentes com forma atrófica possam ter tido no

passado uma janela de tratamento que, entretanto, passou. Por isso mesmo, não é de surpreender que se aplicarmos os dados da prevalência da DMI exsudativa aos dados populacionais da PORDATA esse número final possa ser quatro vezes superior.

O tratamento das formas exsudativas consiste na administração de fármacos anti-angiogénicos por injeções no olho (intra-vítreas). O resultado do tratamento depende do número de injeções administradas, devendo ser de 8 injeções, em média no primeiro ano (alguns doentes poderão ter que fazer mais injeções; outros menos) e de 5-6 injeções, em média, no segundo ano, existindo variabilidade entre doentes e entre as formas da própria doença exsudativa. A doença exsudativa pode ser do tipo 1 (membrana neovascular abaixo da retina), do tipo 2 (membrana neovascular acima da retina com atrofia), do tipo 3 (alterações vasculares na retina média) e ainda a chamada vasculopatia polipoide da coroide. É de admitir que em muitos doentes, mas não em todos, o número de injeções vá diminuindo ao longo dos anos. Mais importante que tudo, importa sublinhar que é crucial evitar recaídas da doença, o que implica mais atrofia e um certo grau de perda de visão irreversível. Tudo deve ser feito para evitar essas recaídas. Os medicamentos anti-angiogénicos administrados agem dentro do olho impedindo o crescimento dessas membranas neovasculares anormais e a consequente destruição da retina central, a mácula.

Um ponto fundamental é o atraso no diagnóstico da doença e no respetivo tratamento. Cerca de metade dos casos já se apresentam ao médico oftalmologista com visão abaixo da visão de leitura e 20% já se apresentam com apenas 10% de acuidade visual (20/200, 35 letras ETDRS). De facto, estes doentes perdem 5 letras numa escala de leitura ETDRS por cada duas semanas de atraso. Cerca de 76% dos doentes têm visão de um décimo ao fim de 3 anos, quer devido ao atraso de diagnóstico quer ao tratamento insuficiente. Quando se possui um olho com uma forma exsudativa, o segundo olho tem um risco de 4 a 19% por ano de ser também envolvido. Por consequência, é muito importante, não só a consulta regular com o médico oftalmologista, que deve ser tanto mais frequente quanto maior for o escalão etário a que se pertença, mas também a auto-monitorização com uma grelha de Amsler, que é aproximadamente, uma folha de um caderno de exercícios de matemática. A distorção ou interrupção ou encurvamento das linhas deverá motivar uma consulta imediata com o médico oftalmologista. Muito importante também é não faltar aos tratamentos. Sempre que essa ausência seja inevitável, é necessário reagendar o tratamento mediante contacto imediato com o médico ou o hospital sede do tratamento.

A grande maioria dos doentes com DMI exsudativa, se tratada convenientemente por forma a evitar recidivas, progride muito mais lentamente e poderá conservar o seu nível de visão de apresentação durante bastante tempo. Existe mesmo a possibilidade que entre 30 a 40% dos doentes possam melhorar a visão que apresentavam quando acorreram ao médico oftalmologista pela primeira vez.

Ler mais:

https://spoftalmologia.pt/wp-content/uploads/2015/10/Degeneresc%C3%AAncia-Macular-Ligada-%C3%A0-Idade.pdf

https://www.ger-portugal.com/retrievedocumentos.aspx?id=77

Autor: 
Professor António Campos - Coordenador do Grupo de Retina e Vítreo da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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