Crianças com Perturbação do Espetro do Autismo: O papel da Terapia Ocupacional
Podemos, assim, estar perante uma criança que: pode ter um brincar tão restrito e repetitivo que acaba por brincar sempre à mesma coisa; pode não tolerar o toque e os empurrões de outras crianças, acabando por se isolar em momentos de brincadeira em grupo; pode ter dificuldades em realizar as atividades desportivas por ser descoordenada; pode apresentar uma seletividade alimentar ou uma compulsividade; o almoço na escola pode ser um momento de grande desconforto, por não tolerar o barulho do refeitório; pode ter dificuldades em permanecer sentada por longos períodos de tempo; pode não sentir a necessidade de ir à casa de banho; pode não saber como usar a sanita, entre tantos outros desafios. São preocupações desta natureza e com um impacto significativo na funcionalidade e no dia-a-dia das crianças, das suas famílias e da comunidade escolar que levam ao encaminhamento para Terapia Ocupacional.
A Terapia Ocupacional é uma profissão da área da saúde que promove a participação e o desempenho ocupacional no dia-a-dia. Para tal, avalia as competências da criança (motoras, sensoriais, cognitivas e sociais), o ambiente onde se encontra (casa, escola, parque infantil ou outro) e analisa as ocupações que são esperadas para a criança. De acordo com as preocupações expostas e os resultados da avaliação é definido, em conjunto com os pais, um plano individual de intervenção, onde muitas vezes, também a comunidade escolar é incluída.
Os terapeutas ocupacionais recorrem a uma série de abordagens e metodologias específicas, que podem englobar o desenvolvimento das competências necessárias da criança, a definição de estratégias, adaptações no ambiente e nas atividades, bem como consultoria à família, educadores/professores e a colaboração em equipa.
É, ainda, comum as crianças com autismo apresentarem dificuldades no processamento da informação sensorial. As dificuldades de modulação são as mais abordadas, em que a criança pode apresentar reações exageradas aos diferentes estímulos (hiperreactividade sensorial) ou ausência de reações perante os estímulos sensoriais (hiporreatividade sensorial). Para além destas, as dificuldades de perceção e discriminação sensorial, isto é, a capacidade da criança interpretar e distinguir os diferentes estímulos, estão frequentemente presentes, contribuindo em grande parte para as dificuldades em saber o que fazer e como fazer. Esta capacidade é denominada de práxis e abrange a capacidade de ter uma ideia do que fazer (ideação), planear as ações necessárias com o seu corpo (planeamento motor) e executá-las.
Nestes casos, a Integração Sensorial é cada vez mais reconhecida e utilizada por terapeutas ocupacionais especializados em crianças com PEA. Esta é uma abordagem de intervenção, com recurso a um raciocínio clínico especializado e a equipamentos que proporcionem oportunidades sensoriomotoras adequadas às necessidades individuais da criança, de forma adequar o processamento e integração dos estímulos sensoriais e promover um melhor desempenho da criança no seu dia-a-dia.