As complicações da gripe na criança
Transmite-se por via respiratória através de gotículas contaminadas quando uma pessoa infetada tosse ou espirra não muito longe de uma pessoa suscetível, estimando-se que possa ser transmitida entre um dia antes do aparecimento dos sintomas, até cinco a sete dias após ficarmos doentes.
De um modo geral, a gripe começa de forma abrupta, com febre, cefaleias, mialgias e mal-estar, após um período de incubação que vai de um a quatro dias. Estes sintomas são acompanhados de tosse não produtiva, dor de garganta e corrimento nasal.
O curso e as manifestações clínicas dependem do tipo e do grau de agressividade do vírus, assim como do grupo etário do doente, do seu estado imunitário e da existência de outras patologias. Durante a infância apresenta algumas especificidades, sobretudo no que diz respeito às complicações associadas.
Tal como explica, José Gonçalo Marques, pediatra e Membro da Sociedade de Infeciologia Pediátrica da SPP, “a infeção por vírus Influenza A e B na criança tem uma repercussão diferente da verificada no adulto, existindo menos infeções assintomáticas, um espectro mais alargado de manifestações clínicas e uma evolução mais prolongada”. “Esta diversidade deve-se ao facto de se tratar habitualmente de primo-infeção e, no recém-nascido e pequeno lactante, às suas características específicas, imunológicas e fisiológicas”, explica.
Segundo o especialista, a criança é o transmissor da gripe mais eficaz, uma vez que, quando comparada com o adulto, “transmite maior quantidade de vírus e por um maior período de tempo”. É muito frequente, aliás, que seja através dela que o vírus se propaga a toda a família.
“O período de maior contagiosidade situa-se nas primeiras 48-72 horas do início do quadro, quando se atinge o pico da carga viral”, revela o pediatra.
A eliminação nasal do vírus, explica, costuma cessar entre o 5º e o 7º dia de doença, podendo ser mais prolongada caso a criança seja mais pequena ou apresente um sistema imunitário mais fraco. O período de incubação varia entre 1 a 4 dias.
Manifestações clínicas
Como já referido, o quadro clínico da gripe é semelhante ao do adulto. “Há o aparecimento de febre elevada, frequentemente com calafrio, cefaleias, mialgia difusa, tosse não produtiva, mal-estar geral e prostração desproporcionada relativamente às queixas respiratórias”, recorda o médico especialista. Habitualmente, cursa com conjuntivite não purulenta, rinite, faringite e agravamento de tosse.
“A febre e o mal-estar geral costumam melhorar a partir do 3º ao 4º dia, embora muitas vezes, a febre persista entre 7 a 8 dias, mesmo sem aparecimento de complicações. Os sintomas respiratórios têm o seu pico ao 3º ou 4º dia e resolvem mais lentamente que a febre”, explica.
Na criança mais pequena podem ocorrer outros quadros respiratórios: laringite, laringotraqueobronquite, bronquite, bronquiolite ou pneumonia. “Pode também cursar como uma síndrome febril inespecífica autolimitada com poucos sinais respiratórios”, adiante o pediatra.
No recém-nascido e pequeno lactente em quadros mais graves, o vírus pode ser responsável por um quadro de sépsis.
Estima-se ainda que em cerca de metade das crianças, a gripe cursa com dor abdominal, náuseas, vómitos ou diarreia.
Abaixo dos três anos de idade, a primeira manifestação pode ser uma convulsão febril.
As complicações da gripe
“As complicações da gripe podem ser devidas à própria infeção ou a sobreinfeção bacteriana”, revela o pediatra.
- Pneumonia – manifesta-se, habitualmente, nas primeiras 48 horas, com agravamento do estado geral, podendo progredir com cianose e insuficiência respiratória. “A pneumonia viral não é frequente na criança sem fatores de risco”, esclarece o especialista.
- Miosite – Mais frequente entre os 4 e os 8 anos de idade, manifesta-se “no início da convalescença por dor referida aos membros inferiores com predomínio da região gemelar, frequentemente impedindo a marcha”. Com duração de 4 a 5 dias pode agravar quando a criança retoma a atividade.
- Encefalite ou encefalopatia aguda – tem um espetro variável, podendo surgir um quadro transitório, com ou sem febre, letargia, confusão, “eventualmente associado a delírios e alucinações visuais”. “Mais raramente, pode haver uma rápida evolução com hiperpirexia, hipertensão craniana grave ou quadro de encefalopatia aguda necrotizante, de elevada letalidade”, revela o médico.
- Síndrome de Reye – é uma complicação rara que surge na fase de convalescença com náuseas e vómitos e que está associada a toma de salicilatos no seu tratamento.
- Otite média aguda – é uma complicação frequente, podendo complicar ate 25% dos casos em crianças. “A presença de irritabilidade deve alerta para otite na criança pequena que não se sabe queixar de otalgia. O agente etiológico predominante é o pneumococo”, esclarece José Gonçalo Marques.