Como uma APP de reconhecimento voz pode aproximar médicos e doentes
Numa altura em que muito se fala na Humanização da Medicina, o que representa o desenvolvimento desta aplicação?
Um dos desafios mais evidentes da gestão em Saúde, seja pública ou privada, é a aposta contínua na melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados aos cidadãos. A tecnologia permitiu a evolução de técnicas e metodologias com impacto relevante na eficiência das instituições de saúde e no sistema de saúde como um todo, que se traduz em melhores resultados em saúde relevantes para os cidadãos para a obtenção de ganhos na gestão. Exemplo disso é a solução de reconhecimento de voz para registo de notas clínicas desenvolvida pela Glintt, em cooparceria com a Santa Casa da Misericórdia e a AB Consulting. Esta é uma solução que pretende revolucionar os registos clínicos, tendo como principal objetivo a redução do tempo do médico alocado a tarefas de carácter administrativo, permitindo-lhe prestar um cuidado de maior proximidade e mais atento às necessidades do doente. Neste sentido, torna-se claro o contributo positivo da presente solução para uma maior humanização do cuidado a prestar, aliando a tecnologia aos processos implementados e às pessoas envolvidas no sentido de contribuir para uma maior capacitação dos profissionais de saúde no âmbito da prática da Medicina focada nas necessidades reais dos cidadãos.
Quais as principais funcionalidades e quais as principais vantagens, não só para o médico, mas também para o doente, do aplicativo?
Para o médico:
- Redução do tempo alocado a tarefas de caráter administrativo;
- Maior disponibilidade para um cuidado mais personalizado e mais atento às necessidades do doente;
- Eliminação do erro;
- Mobilidade do médico, o qual pode efetuar registos sem necessidade de estar fisicamente preso a um computador tradicional.
Para o doente:
- Acesso a um cuidado mais próximo e mais alinhado com as suas necessidades;
- Estabelecimento de uma relação de maior confiança com o profissional de saúde
- Maior segurança da informação.
Como surgiu a ideia para a sua criação? E em que fase de desenvolvimento se encontra?
A ideia surge da necessidade de disponibilizar soluções, que permitam aumentar a mobilidade e, consequentemente, a produtividade dos profissionais de saúde, não descurando o foco nas necessidades do cidadão. Retirando partido da voz enquanto forma natural de relacionamento, e tendo em consideração a agilização das tarefas a realizar pelo médico, a presente solução encontra-se desenvolvida e em utilização em formato piloto pelos médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Comparando com que existe no mercado, o que a distingue?
Trata-se de uma solução inovadora e única, que se distingue pela sua capacidade de integração do texto, gerado na solução, no processo clínico eletrónico, no doente certo e no episódio correto.
Esta aplicação estará apenas acessível para os médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto, ou irá chegar a outras instituições?
Neste momento, os médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto já se encontram a utilizar a solução, dado que o projeto-piloto se encontra em fase de exploração desde março de 2019. Considera-se um projeto em evolução, uma vez que se encontra previsto num futuro próximo alargar o âmbito da solução a outras áreas funcionais da atividade médica, além dos registos clínicos. Como exemplo, destaca-se a prescrição de exames por parte do médico, através do reconhecimento de voz.
Além do que se encontra previsto a nível de novas funcionalidades, a estratégia passa também pela respetiva “produtização”, apostando na replicação deste projeto de inovação para outras instituições de saúde. Pretendemos, assim, que este tipo de tecnologia possa representar benefícios de valor a um número cada vez maior de instituições e profissionais de saúde, e cidadãos.
Os médicos já a testaram? Quais as opiniões?
A solução está em utilização no âmbito do projeto-piloto em curso na Santa Casa da Misericórdia do Porto. A adopção dos profissionais de saúde tem sido muito elevada e o feedback tem sido muito positivo. As mais-valias aqui descritas são, de facto, reconhecidas pelos users, o que representa uma motivação acrescida para o desenvolvimento de novas funcionalidades que retirem partido da “voz” como fator impulsionador da mobilidade e da produtividade clínica.
Na sua opinião, e de um modo geral, para onde caminhamos no que diz respeito à transformação tecnológica da saúde? O que podemos esperar do futuro?
De um modo geral, acredito que a transformação tecnológica no setor da saúde deve passar pelo desenvolvimento de inovação incremental e disruptiva, nunca esquecendo o seu potencial de aplicação no dia-a-dia das instituições e dos profissionais de saúde, tendo sempre em consideração as necessidades reais dos cidadãos e da sociedade, no geral, de forma a potenciar a criação de ganhos de valor em saúde.
Por outro lado, o futuro deve passar pelo investimento e foco da tecnologia, não só, no tratamento da doença, mas também na sua prevenção e promoção da saúde. Como tal, como tendências futuras, destaco a evolução constante da área da genómica, a qual tem permitido uma aposta mais vocacionada numa medicina personalizada. Também a inteligência artificial tem permitido o desenvolvimento de novas ferramentas como os assistentes virtuais de saúde, que representam um apoio fundamental para o idoso e respetivos cuidadores informais.