Como a carga mental afeta as nossas vidas profissionais?
O último estudo divulgado pela Base de Dados de Portugal Contemporâneo revela que a maioria da população portuguesa trabalha a tempo inteiro, 89,5% dos homens e mulheres. Entretanto, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que Portugal tem uma das maiores desigualdades salariais entre géneros. A fim de aprofundar esta situação, o Yoopies realiza um estudo com mais de 1.000 trabalhadores a tempo inteiro a explicar por qual razão o equilíbrio entre a vida profissional e familiar continua a ser um desafio e por que a diferença salarial entre homens e mulheres permanece tão grande.
Diferença de remuneração entre géneros, diferença de remuneração entre pais e mães, ou ambos?
A conciliação da vida profissional, familiar e pessoal é tema dominante quando se fala de ter filhos ou fazer crescer a família, além de ser fator determinante para a organização social e económica das sociedades atuais. Sendo assim, uma das prioridades estabelecidas pela Comissão Europeia no âmbito da igualdade entre homens e mulheres. No entanto, Portugal ainda apresenta uma das maiores desigualdades salariais entre géneros. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os homens portugueses ganham em média mais 22,1% do que as mulheres. Só o Chile (23,7%) e a Estónia (25,7%) têm fosso salarial pior que o de Portugal, sendo a média mundial de 18,8%1.
A disparidade salarial entre homens e mulheres tem sido tema constante nas últimas décadas, e muito tem sido feito para reduzir esta diferença. Das principais iniciativas legislativas em relação a igualdade salarial destaca-se a Lei n.º 60/20182,que estabelece novas dimensões no contexto da política de transparência salarial, sendo um dos mecanismos para a igualdade de remuneração o direito a qualquer trabalhador de solicitar à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego um parecer sobre a existência de discriminação salarial em razão do sexo.
No que diz respeito às iniciativas não legislativas, há o projeto Plataforma e Norma da Igualdade, para implementar um processo conducente à igualdade de remuneração entre homens e mulheres; o Dia Nacional da Igualdade Salarial, celebrado todos os anos a fim de sensibilizar a opinião pública e inverter a diferença persistente entre a remuneração dos homens e mulheres; e a Campanha Nacional pela Igualdade Salarial - Eu mereço igual, apresentada em junho de 2019, mas que está de regresso neste mês de novembro para sensibilizar, esclarecer e motivar a sociedade para uma mudança de paradigma.
Mas embora tudo isto contribua para a redução da disparidade salarial, ainda existem fatores sociais que impedem as mulheres, e em particular as mães, de alcançarem uma verdadeira igualdade no local de trabalho e melhor progressão em suas carreiras. O estudo do Yoopies, em colaboração com a LabRH, que envolveu 1.322 trabalhadores de ambos os sexos e pertencentes a diferentes sectores profissionais e grupos etários, destaca algumas das dificuldades que podem prejudicar a progressão das mulheres no mercado de trabalho e ajuda a explicar melhor por que as carreiras das mulheres muitas vezes estagnam ou até mesmo declinam.
A desigualdade em casa traduz-se em desigualdade no local de trabalho: cerca de 74% das tarefas domésticas são realizadas por mulheres
Os papéis de género na família são um dos maiores factores que contribuem para a desigualdade que as mulheres sofrem na progressão das suas carreiras. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, desde 2011 que Portugal é um dos países onde há maior diferença de género em relação a divisão das tarefas domésticas6. Um estudo realizado este ano pela Fundação Francisco Manuel dos Santos mostra que as mulheres continuam a fazer 74% das tarefas domésticas. O estudo apresenta um retrato composto por mulheres que acumulam várias tarefas e esforçam-se para conciliar numerosas funções. Esta situação alerta para a exaustão diária como um dos efeitos do absentismo laboral, além de contribuir negativamente para a taxa de natalidade, para os sistemas de proteção social, para a educação das crianças e dos jovens e nos índices de divórcio.
De modo complementar, estes factores podem fazer com que muitas mulheres tenham de enfrentar constantemente a carga de trabalho mental, termo usado para descrever uma situação de pressão psicológica dada pela sobrecarga de responsabilidades domésticas, familiares e pessoais. Esta condição mental, muitas vezes difícil de reconhecer, mas extremamente comum, representa não só uma fonte de stress e desconforto para muitos trabalhadores, mas é muitas vezes um verdadeiro obstáculo para o avanço e evolução das carreiras.
Em outras palavras, a carga mental consiste em ter sempre, num canto da cabeça, obrigações e responsabilidades domésticas, familiares e pessoais, como por exemplo: encontrar uma babysitter para sábado à noite, selecionar uma pessoa para limpar a casa, procurar um pet sitter para deixar o cão durante as férias e ao mesmo tempo pensar na compra ou na factura que tem de pagar. Estas preocupações, como infelizmente ainda acontece, são um pouco maiores para as mulheres, que têm de cuidar de aproximadamente 74% das tarefas diárias, como referido anteriormente.
Carga mental: o equilíbrio entre a vida profissional e familiar não é suficientemente apoiado
A investigação exclusiva do Yoopies revela que 94% dos trabalhadores estão a gerir alguns aspetos da sua vida privada no trabalho e 78% do tempo está relacionado com os filhos. Estes colaboradores observam que isto contribui para maior stress, aumento da fadiga e menor motivação, além de afetar negativamente o desempenho no trabalho: 67% dos trabalhadores consideram que estas situações prejudicam a eficiência no trabalho, 87% afirmam que são consideravelmente afetados por esta situação e 44% acreditam que a carga mental é a causa do atraso nas tarefas e projetos de trabalho a realizar.
Por último, 1 em cada 5 colaboradores já teve algum problema com superiores na gestão dos problemas pessoais e cerca de metade dos colaboradores entrevistados disseram-nos que a sua empresa não tem uma solução formal para os ajudar a lidar com questões pessoais. Entretanto, existem muitas soluções para ajudar os trabalhadores a gerir mais facilmente aspetos da vida doméstica e os empregadores têm de estar mais abertos a considerar o equilíbrio entre a vida profissional dos funcionários. Não só para melhorar a felicidade, a produtividade e a qualidade de vida dos seus trabalhadores, mas também para contribuir para uma verdadeira mudança social que reduza algumas das causas das disparidades salariais entre homens e mulheres.