Células estaminais: o papel do cordão umbilical no tratamento do lúpus
Estatísticas recentes demonstram que o sexo feminino é oito a dez vezes mais afetado e que as idades mais frequentes para o início do Lúpus são entre os 18 e os 55 anos, mas esta doença pode começar em qualquer idade (crianças ou idosos). Na Europa estima-se que 40 em 100.000 pessoas sofrem de LES, embora esta estimativa ainda esteja associada a uma variabilidade substancial. Segundo a Sociedade Portuguesa de Reumatologia, esta patologia afeta 0,07% dos portugueses, tipicamente mulheres em idade reprodutiva. Em Portugal já foram registados cerca de quatro mil casos de Lúpus em Portugal. A sua evolução é incerta, podendo apresentar-se constante durante vários anos, ou evoluir de forma rápida intercalando-se com períodos de remissão. A manifestação clínica desta patologia é variável de doente para doente. Na maioria dos casos (90%) estão presentes manifestações cutâneas e/ou articulares. Alguns doentes podem apresentar manifestações de maior gravidade, particularmente alterações renais (37%) ou neuropsiquiátricas (18%).
As células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical apresentam propriedades imunorreguladoras e exibem efeitos terapêuticos em várias doenças autoimunes, como o Lúpus.
Ao longo dos anos, vários ensaios clínicos têm sido realizados para perceber o efeito do transplante de células mesenquimais no tratamento desta doença. No ano passado foi publicado um estudo que avaliou a segurança e efeitos das células estaminais mesenquimais de cordão umbilical em doentes com LES, demonstrando que dado o seu perfil de segurança, as células estaminais mesenquimais podem, no futuro, ser uma nova abordagem terapêutica para tratar o lúpus com um melhor perfil de segurança comparação com as terapias atuais. Desta forma, este ensaio clínico de fase 1 sugere que as células estaminais do tecido do cordão umbilical são muito seguras e também apresentarem efeitos benéficos no combate ao Lúpus. Os efeitos exercidos das células mesenquimais nas células B e GARP-TGFβ apontam uma nova visão sobre os mecanismos pelos quais estas células estaminais do tecido do cordão umbilical podem combater esta doença.
A terapia atualmente usada para o tratamento do Lúpus apresenta como objetivo a indução da remissão, apontando o rápido controlo da atividade da doença. Entre outros, são usados fármacos anti-inflamatórios, não esteróides; corticosteróides (devido às suas propriedades anti-inflamatórias constituem o pilar do tratamento de várias doenças autoimunes sistémicas) e imunossupressores. Neste sentido, caraterísticas como baixa imunogenicidade (ausência de administração de imunossupressores para infusão), capacidade de “homing” (capacidade de migração para os locais de inflamação após infusão), e principalmente as propriedades imuno-modulatórias (conferindo um ambiente anti-inflamatório) associadas à segurança, à facilidade de infusão e à duração de resposta, tornam as células mesenquimais do tecido do cordão umbilical um excelente alvo terapêutico para doenças autoimunes, nomeadamente o Lúpus Eritematoso Sistémico.