Opinião

Células estaminais do tecido do cordão umbilical podem ser opção terapêutica no tratamento da esclerose múltipla

Atualizado: 
29/05/2024 - 14:43
No Dia Mundial da Esclerose Múltipla, é importante referir que esta é a doença desmielinizante (ou seja, que afeta a transmissão dos impulsos nervosos) mais comum do sistema nervoso central, que afeta milhões de pessoas no mundo, e é a principal causa de incapacidades não traumáticas em jovens adultos no Ocidente. Em Portugal, mais de 8.000 pessoas vivem com esta condição, e a nível global, estima-se que existam mais de 1,8 milhões de doentes, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Sabe-se que os tratamentos atuais, baseados em fármacos imunossupressores, ajudam a retardar a progressão da doença e a reduzir a frequência de surtos (agravamento de sintomas neurológicos), mas muitas vezes apresentam efeitos adversos significativos e não são completamente eficazes. Perante esta situação, a comunidade científica tem explorado novas abordagens terapêuticas, incluindo o uso de células estaminais mesenquimais.

Recentemente, um estudo publicado na revista Cell Transplantation, investigou o uso de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical em 35 pessoas com esclerose múltipla. Este estudo teve como objetivo principal demonstrar a eficácia e segurança do tratamento com estas células, administradas em diferentes momentos.

Os pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu uma única dose de células estaminais, enquanto o outro grupo recebeu duas doses. Os doentes foram acompanhados antes, durante e até doze meses após a administração das células. Para avaliar a eficácia do tratamento, diversos parâmetros foram monitorizados, incluindo capacidade motora (equilíbrio, flexibilidade, força e resistência física), capacidade cognitiva, fadiga, qualidade do sono, perceção de qualidade de vida, e foram ainda realizadas análises sanguíneas e ao líquido cefalorraquidiano, além de ressonância magnética.

Os resultados foram promissores: ambos os grupos mostraram melhorias significativas na escala geral de incapacidade seis meses após o tratamento. No entanto, os pacientes que receberam duas doses apresentaram melhorias em mais parâmetros específicos da doença, do que os que receberam única dose. Os investigadores concluíram que o tratamento com células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical é bem tolerado e tem potencial para travar a progressão da esclerose múltipla e melhorar a qualidade de vida destes doentes.

Apesar dos excelentes resultados, os autores do estudo destacam a necessidade de mais ensaios com um número maior de participantes para determinar as doses celulares mais eficazes.

A utilização de células estaminais mesenquimais pode representar uma opção terapêutica para milhares de pessoas que enfrentam as limitações impostas tanto pela esclerose múltipla, como até de outras patologias. O avanço da investigação e a realização de mais ensaios clínicos são cruciais para explorar o potencial destas terapias inovadoras, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos doentes.

Referências:

  • Alghwiri AA, et al., The effect of stem cell therapy and comprehensive physical therapy in motor and non-motor symptoms in patients with multiple sclerosis: a comparative study. Medicine 2020; 99:34(e21646). 
  • https://www.anem.life/2023/10/13/o-que-e-a-em/ acedido em 21 de maio de 2024. 
  • https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/multiple-sclerosis acedido a 21 de maio de 2024.
  • Jamali F, et al., Human Umbilical Cord-Derived Mesenchymal Stem Cells in the Treatment of Multiple Sclerosis Patients: Phase I/II Dose-Finding Clinical Study. Cell Transplant. 2024 Jan-Dec; 33:9636897241233045. doi: 10.1177/09636897241233045.
  • Kobelt G, et al., The long-term cost of multiple sclerosis in France and potential changes with disease-modifying interventions. Mult Scler. 2009 Jun;15(6):741-51. doi: 10.1177/1352458509102771. Epub 2009 Apr 21. PMID: 19383645.

Autor: 
Marcelo Ribeiro - Técnico Superior de Laboratório
Nota: 
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