Cefaleias primárias na criança e adolescente
As cefaleias são dores de cabeça e são uma queixa frequente na criança e adolescente. De acordo com a MiGRA Portugal – Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias, a “cefaleia é uma dor ou incómodo em qualquer parte da cabeça, incluindo couro cabeludo, pescoço superior e face”, estando entre as patologias mais comuns do sistema nervoso. No entanto, continuam a ser subvalorizadas e, consequentemente, subdiagnosticadas.
Em 90% dos casos, as dores de cabeça são consideradas cefaleias primárias, ou seja, estas “são doenças em si mesmas e não expressões de outros eventuais problemas de saúde”. Neste grupo estão incluídas as tão comuns cefaleias de tensão e as enxaquecas. E importa sublinhar ainda que, embora ambas sejam condições que podem ser incapacitantes, são distintas.
Então como distinguir a cefaleia de tensão da enxaqueca?
Segundo a MiGRA Portugal, o que a distingue a cefaleia de tensão da enxaqueca é que, “na maioria dos casos, a cefaleia de tensão é de ambos os lados da cabeça, a intensidade é mais leve, não é pulsátil/latejante, não se intensifica com o esforço físico, não é acompanhada de vómitos e o ruído é menos tolerado do que a luz”.
A cefaleia de tensão:
A cefaleia de tensão é caracterizada por dor ligeira a moderada, descrita muitas vezes como sensação de “capacete” pesado, pressão ou moinha. Pode também fazer-se acompanhar de náuseas e intolerância ao ruído, assim como, algumas vezes, pela contração excessiva dos músculos do pescoço e ombros. Pode ter a duração de horas, dias e em alguns casos é praticamente contínua.
A enxaqueca:
A enxaqueca é uma doença do sistema nervoso central que pode começar horas a dias antes da dor propriamente dita, com sintomas prodrómicos como depressão, irritabilidade, letargia, sensibilidade exagerada às luzes e aos sons, dificuldade de concentração, bocejo ou outros, bastante variados.
A dor é tipicamente unilateral, pulsátil, de intensidade moderada a grave. É frequentemente acompanhada de náuseas, os vómitos e sensibilidade aumentada à luz e aos sons. Esta pode durar até 72 horas, e mesmo depois de passar podem persistir sintomas como cansaço e dificuldade de concentração.
De sublinhar que nas crianças mais pequenas os sintomas de enxaqueca podem ser diferentes dos adultos, por exemplo quanto à sua localização (mais vezes bilateral) e duração (habitualmente mais curta). Por outro lado, existem ainda as variantes de enxaqueca – síndroma dos vómitos cíclicos, enxaqueca abdominal, vertigem paroxística e torcicolo paroxístico – em que a dor de cabeça pode não ser o sintoma predominante.
Qual a causa da cefaleia de tensão e da enxaqueca?
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, situações de stress a nível escolar ou familiar, depressões, posturas anormais do pescoço e costas e dificuldades na visão estão entre as principais causas das cefaleias de tensão na criança e no jovem adolescente.
Quanto à enxaqueca, embora o mecanismo exato da enxaqueca não seja conhecido, parece estar relacionado com alterações no cérebro e causas genéticas. A SPN adianta, aliás, que “a maioria das crianças com enxaqueca tem outros familiares com o mesmo problema. Se ambos os pais tiverem história de enxaqueca há 70% de probabilidade de um filho desenvolver enxaqueca. Se só um dos pais tiver o risco desce para 25%-50%”.
Entre os fatores que podem predispor uma crise de enxaqueca, apontam-se o stress, ansiedade, depressão, alterações no padrão de sono, luzes e ruídos intensos, alguns alimentos e bebidas, excesso de exposição solar, excesso de atividade física, entre outros.
Como tratar?
O tratamento vai depender entre outros fatores do tipo de cefaleia, da intensidade, da frequência e da idade da criança.
De acordo com a SPN, de um modo geral, o tratamento das cefaleias primárias consiste na “educação da criança e familiares de forma a identificar e evitar possíveis fatores precipitantes, criar hábitos de sono regular, horários de refeições, hidratação adequada, evitar situações de stress, praticar exercício físico” e na administração de medicamentos analgésicos para tratamento da dor na fase aguda. “Geralmente usam-se os mesmos medicamentos analgésicos dos adultos, mas em doses mais baixas, ajustadas ao peso da criança, sempre prescritos pelo médico”, esclarece a SPN.
Quando necessário, pode recorrer-se ao tratamento profilático, usado diariamente por um período de tempo com o objetivo de diminuir o número e intensidade dos episódios. No enanto, a SPN sublinha: “este tipo de tratamento exige seguimento regular na consulta”.
Quando consultar o médico?
- Quando dor de cabeça é intensa e diferente do habitual
- Quando as queixas são frequentes
- Quando se associam a outros sintomas como alterações da visão, alterações do comportamento, dificuldades na marcha
- Sempre que os pais estejam preocupados ou com dúvidas
- Quando a criança tem menos de seis anos