Opinião

Cancro em tempo de Coronavírus

Atualizado: 
07/04/2020 - 15:12
Chegamos ao Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, num momento crítico para a área da saúde em todo o mundo. Somos um dos países fortemente afetado pelo coronavírus, que está a transformar as nossas vidas, os nossos costumes e, entre outros aspetos, a maneira de cuidar dos nossos doentes. E, embora as prioridades tenham mudado por razões óbvias, isso não nos pode levar a esquecer aqueles doentes com problemas prementes, como aqueles que estão a enfrentar, por exemplo, um processo oncológico.

Segundo dados do Eurostat, o cancro é responsável por mais de um quarto das mortes na União Europeia, com o cancro do pulmão a ser o mais fatal entre os homens e o da mama entre as mulheres.

Em Portugal, é a segunda causa de morte e a sua incidência aumenta, em média, cerca de 3% por ano. E muitos desses novos doentes, que são mais do que um número, são pessoas, vidas humanas, estão a ser forçados a lidar com as complicações típicas da sua doença, somadas às provocadas pelo COVID-19.

Infelizmente, estes doentes não podem ser tratados da mesma maneira que há um mês, pois, para proteger do contágio todos aqueles que foram ou estão a ser tratados com terapias imunossupressoras, têm de se fazer as consultas médicas através da chamada telemedicina. O objetivo é impedir que o doente e seus cuidadores se desloquem de suas casas a todo custo, e muito menos para um centro de saúde, porque o risco de contágio é alto e as consequências podem ser delicadas.

Sabemos que aqueles que se dedicam de corpo e alma à oncologia se adaptaram rapidamente à nova situação para minimizar o impacto nos doentes, com serviços de medicamentos para entrega ao domicílio para aqueles que recebem tratamentos orais, por exemplo. Ou medidas de segurança extremas com aqueles que não têm escolha a não ser receber os seus ciclos de quimioterapia, rádio ou outras terapias a serem aplicadas in loco, adotando-se normalmente rotinas de administração mais espaçadas no tempo.

Também vimos como, a partir da DGS, foram estabelecidas uma série de recomendações para estes especialistas nos quais o atendimento ao doente oncológico é prioritário, especialmente em casos mais avançados. E sempre ponderando os riscos e consequências que uma possível infeção por coronavírus poderia ter para o doente.

Menos Medicina de Precisão

Outra das consequências do confinamento e saturação dos serviços de saúde para os doentes com cancro é a redução do uso de ferramentas de medicina de precisão, principalmente aquelas que exigem a presença do doente. Nos casos em que uma amostra de tumor já foi extraída, por exemplo, podem ser realizadas análises genómicas e os resultados enviados on-line ao especialista que a solicitou. Uma técnica comum em laboratórios como o nosso, que pode ajudar o oncologista a encontrar uma certa terapia para os seus doentes no menor curto espaço de tempo e sem a necessidade de eles se deslocarem de casa. Os resultados podem até recomendar tratamentos orais que deixam de lado as deslocações dos doentes nestes tempos difíceis.

De qualquer forma, e diante de qualquer dúvida que possa surgir, não há nada melhor do que usar as chamadas telefónicas ou de vídeo com o especialista adequado, do doente para o médico ou do médico aos laboratórios. Toda ação conta para minimizar os riscos.

Em suma, estes são tempos difíceis para todos e, principalmente, para os doentes oncológicos, especialmente para aqueles que aguardam cirurgias, exames e tratamentos em centros hospitalares.

O tempo que passa durante a pandemia e o confinamento será um duro teste físico e psicológico para os doentes e suas famílias, mas devem saber que não estão sozinhos na luta e que há um bom número de profissionais que, à distância, aguardam os seus casos, fazendo tudo o que é possível para que os doentes superem o seu problema de saúde no menor tempo possível. Não apenas neste muito marcado Dia Mundial da Saúde, mas em todos os outros.

E lembrem-se: estas guerras, tanto a da doença oncológica como a do coronavírus, vamos vencer entre todos.

Autor: 
Adriana Terrádez - diretora da OncoDNA para Espanha e Portugal
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock