Cancro e doenças da tiroide afetam mais as mulheres
De acordo com a especialista, “pensa-se que as mulheres terão um ambiente hormonal mais propício ao aparecimento de doenças endócrinas” e que por apresentarem também maiores probabilidades de desenvolverem alterações no seu sistema imunológico “apresentam mais doenças autoimunes da tiroide e alguns tipos de cancro”, nomeadamente o cancro da tiroide. No entanto, ainda não são claros os motivos que justificam esta relação. Alguns autores defendem mesmo que esta associação poderá estar relacionada a fatores genéticos, hormonais e ambientais.
No que diz respeito ao cancro da tiroide, os números mostram que este tipo de tumor chega a ser quatro vezes mais frequente nas mulheres, estimando-se que todos os anos surjam cerca de 500 novos casos da doença.
“Não se sabe bem porque é que o cancro da tiroide aparece”, refere a endocrinologista, no entanto, admite-se que “pessoas com mais de 40 anos, com familiares com cancro da tiroide ou com outras doenças que aumentem o risco de aparecimento de tumores, ou que foram submetidas a radiação, principalmente radioterapia da cabeça ou do pescoço” têm maior probabilidade de desenvolver este tipo de tumor.
Apesar de poder ser assintomático, o aparecimento de uma tumefação (inchaço), na parte anterior ou lateral do pescoço, “de crescimento rápido, dura e pouco móvel”, pode ser o primeiro sinal de cancro da tiroide. “Mais ainda se esta se acompanhar de rouquidão ou dificuldade em engolir”, acrescenta Maria João Oliveira.
«Os nódulos da tiroide são muito frequentes, contudo cerca de 90% são benignos»
Apesar da incidência do cancro da tiroide ter vindo a aumentar nos últimos anos, este é também aquele que apresenta um dos melhores prognósticos.
“O cancro da tiroide é o tumor maligno endócrino mais frequente e com maior taxa de cura. O carcinoma diferenciado da tiroide – papilar e folicular -, que representa mais de 90% dos casos de cancro da tiroide, tem um prognóstico excelente e uma evolução lenta, por vezes arrastada ao longo de anos”, explica a especialista acrescentando que a maioria destes tumores é curável. “Mais de 80% curam após o primeiro tratamento, especialmente se de pequenas dimensões (menos de 2 cm), sem invasão para lá da tiroide e sem gânglios metastizados no pescoço”, afirma.
Já o carcinoma medular – o menos frequente dos tumores que afetam a tiroide – não tem tão bom prognóstico e a sua taxa de cura depende de um diagnóstico precoce. O carcinoma anaplásico – muito raro – é de todos o que apresenta piores hipóteses de cura e sobrevivência. A sua sobrevida estimada é de 6 a 13 meses.
O seu diagnóstico envolve sempre a palpação cuidadosa da tiroide e a realização de um exame ecográfico para “detetar e caracterizar os nódulos da tiroide”. No entanto, adverte a especialista, este exame não deve ser realizado por rotina, uma vez que “pode detectar nódulos milimétricos que não têm interesse diagnosticar” e que só servem para preocupar o paciente.
“Quando os nódulos apresentam algumas características ecográficas que possam fazer suspeitar de malignidade ou são de maior volume (entre 1,5 a 2 centímetros) devem ser submetidos a uma punção aspirativa com uma agulha fina”, acrescenta a médica especialista. Este procedimento permite extrair pequenas células do tumor para sua análise e classificação.
«Em alguns doentes apenas o tratamento cirúrgico é suficiente»
Ainda que o tipo de tratamento dependa do tipo de tumor e seu estadiamento, habitualmente, o tratamento do cancro da tiroide é cirúrgico e consiste na tiroidectomia total (em que toda a glândula é retirada) ou na hemitiroidectomia (quando apenas parte desta glândula é removida). “Quando na ecografia são detectados gânglios no pescoço, suspeitos de conterem células malignas do cancro da tiroide – ou seja, metástases – estes também são retirados durante a cirurgia”, explica Maria João Oliveira acrescentando que “em alguns doentes apenas o tratamento cirúrgico é suficiente”.
No entanto, casos há em que é necessário realizar terapêutica com Iodo 131 (iodo radioativo). “O objetivo do Iodo radioativo é destruir células, restos de tiroide ou gânglios malignos que não tenham sido retirados durante a cirurgia”, sendo administrado em doses mínimas e que permitam cumprir este objetivo. Os efeitos secundários são reduzidos e limitam-se a alterações no paladar ou inflamação ligeira nas glândulas salivares ou do tecido tiroideu que restou após a cirurgia. Náuseas e vómitos, embora possíveis, são queixas pouco frequentes e habitualmente transitórias.
“Em circunstâncias especiais e muito raras poderá ser necessário realizar outros tratamentos médicos com fármacos que impedem a progressão do cancro. O carcinoma diferenciado da tiroide não é tratado com quimioterapia e a radioterapia apenas é utilizada em circunstâncias muito especiais, como nalgumas metástases ósseas”, acrescenta a médica especialista.
Após o tratamento, e sempre que este consiste na remoção total da tiroide passa a ser necessário recorrer à reposição hormonal de levotiroxina (T4). De toma diária, a dose de levotiroxina deve ser ajustada periodicamente, pelo médico especialista que acompanha o doente e, se necessário, após a realização de análises.
Segundo Maria João Oliveira, este tratamento deve ser dado na dose certa para cada doente. “Se a hormona da tiroide estiver em excesso o doente desenvolve um hipertiroidismo – pode apresentar agitação, palpitações, alterações de humor, aumento de sudorese, emagrecimento”, justifica a endocrinologista. Pelo contrário, quando dada em doses inferiores às necessárias, o doente fica com hipotiroidismo. Cansaço, sono, edemas, apatia, depressão, pele seca e aumento de peso são os principais sintomas.