Oncologia

Cancro do Pulmão: Cirurgia Vídeotoracoscópica (VATS) veio revolucionar o tratamento da patologia em estadios precoces

Atualizado: 
28/07/2022 - 15:37
O Cancro do Pulmão é a terceira neoplasia mais frequente em Portugal, sendo que no ano de 2020 foram diagnosticados cerca de 5400 novos casos. É, no entanto, a principal causa de morte por doença oncológica no nosso pais. O facto de se apresentar como assintomático nos estadios iniciais leva a que a grande maioria dos casos sejam diagnosticados em fases já avançadas. Quando detetado a tempo, pode ser tratado com recurso a cirurgia, como é o caso da Cirurgia Vídeotoracoscópica (VATS) que veio revolucionar a forma como os cirurgiões diagnosticam e tratam a patologia pulmonar em estadios precoces.

Com uma taxa de sobrevivência “global aos cinco anos de 16% - “18% no caso da mulher e 14% no do homem” -, o cancro do pulmão encontra-se tradicionalmente dividido em dois grandes grupos: o cancro do pulmão de não pequenas células e o cancro do pulmão de pequenas células

Segundo Ana Luís Garcia, Chefe do serviço de cirurgia torácica do IPO de Coimbra, o “Cancro do Pulmão de não pequenas células, corresponde ao tipo mais comum de cancro do pulmão (cerca de 85% a 90% dos casos). Dentro deste existem vários subtipos, como o adenocarcinoma (subtipo mais comum – 40%), o carcinoma epidermoide, o carcinoma e as grandes células e o carcinoma sarcomatoide”.

Além do cancro do pulmão de pequenas células, a especialista adianta que “existe ainda outro subtipo de tumores pulmonares, que são os Tumores Carcinoides, que representam cerca de 5% dos tumores do Pulmão, tendo este tipo de tumores um melhor prognóstico”.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença encontra-se o tabagismo. “Cerca de 85% dos casos de Cancro do Pulmão são diagnosticados em pessoas que fumam ou fumaram. Existem, no entanto, outros fatores risco, como a exposição a fatores ambientais, como o amianto ou as alterações moleculares, e o próprio envelhecimento”, explica a cirurgiã.

E embora o seu curso seja, frequentemente, silencioso, existem alguns sinais de alarme que devem ser tidos em consideração para o seu diagnóstico, como é o caso da falta de ar, tosse e expetoração persistentes.

“No entanto, e como já referi anteriormente, o tabagismo é o maior fator de risco para cancro do pulmão, sendo que estes sinais e sintomas são frequentes nos fumadores e ex-fumadores, o que leva frequentemente à sua desvalorização. É, por isso, necessária uma especial atenção quando existe um agravamento da falta de ar, da tosse ou da expetoração, ou se esta aparecer com sangue.  Existem ainda outros sinais de alerta, como a perda de apetite, o emagrecimento, a fadiga acentuada ou a rouquidão.  Apesar de estes serem sinais de alarme, é importante referir que nenhum deles é específico de cancro do pulmão, mas que devem incentivar a pessoa a procurar a consulta realizada por um Médico Assistente para realização da investigação diagnóstica”, sublinha a médica.

Quanto ao diagnóstico, Ana Luís Garcia refere que este não é “estanque nem linear”. “Habitualmente, é realizado um exame de imagem que levanta a suspeita de cancro do pulmão, como a radiografia do tórax ou a tomografia computorizada (TC).  Caso exista essa suspeita, será necessário efetuar uma biopsia pulmonar, ou seja, a recolha de fragmentos de tecido para que seja realizada a confirmação. Este material pode ser obtido por biopsia transtorácica (uma agulha é colocada através do tórax e guiada por métodos de imagem para alcançar a lesão pulmonar) ou por broncoscopia ou ecoendoscopia. O material e células colhidos são enviados para estudo anátomo-patológico, que confirmará a existência de doença”, explica.

Do mesmo modo, o tratamento instituído depende de uma série de variáveis como o estado geral do doente, o estádio da doença e o tipo e localização do tumor. “Os tratamentos mais frequentemente propostos são a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia, os tratamentos alvo e a imunoterapia. Estes tratamentos podem ser realizados de forma isolada ou combinados entre si, sequencialmente ou em simultâneo”.

De acordo com a especialista, “nos estádios iniciais (I e II), a cirurgia é o tratamento preferencial. Os tumores localmente avançados (estádios III) são os que oferecem maiores desafios terapêuticos, sendo muitas vezes necessária a adoção de terapêuticas multimodais, em que se combina quimioterapia e radioterapia com intervenção cirúrgica”. Já nos estádios IV, “em que o tumor já se encontra em outras partes do corpo, podem usar-se diversas terapêuticas sistémicas (quimioterapia, terapêuticas alvo e imunoterapia), com o objetivo de atrasar o crescimento do cancro, melhorando os sintomas e a qualidade de vida”.

A Cirurgia Vídeotoracoscópica (VATS) revolucionou a forma como os cirurgiões diagnosticam e tratam a patologia pulmonar em estadios precoces. Esta “consiste na realização de uma cirurgia através de pequenas incisões que são utilizadas para colocação de uma câmara de vídeo e dos instrumentos necessários para a remoção do tumor”. Tal como explica Ana Luís Garcia, esta técnica “permite uma recuperação pós-operatória mais célere e com menos dor, um melhor feito estético e um menor tempo de internamento, tendo ainda inúmeras vantagens para o doente submetido a este tipo de cirurgia, com resultados oncológicos sobreponíveis aos da Cirurgia Torácica Clássica”.

No entanto, revela “nem todos os casos têm indicação para esta abordagem. A decisão sobre a técnica cirúrgica deve garantir que os princípios oncológicos são respeitados e o objetivo da cirurgia é cumprido, assim como a segurança do doente”.

Com um enorme impacto socioeconómico, - “existe uma perda de produção devido à mortalidade prematura provocada por esta doença, havendo ainda enormes encargos provocados pelo o tratamento da doença no Sistema Nacional de Saúde” -, a implementação de um programa de rastreio poderia mitigar o enorme impacto económico da doença, sustentando por um diagnóstico cada vez mais precoce.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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