Diagnóstico precoce "é o maior aliado no sucesso do tratamento"

Cancro da tiroide vem a ser diagnosticado em idades cada vez mais jovens

Atualizado: 
24/09/2021 - 15:36
Nos últimos 10 anos, tem-se assistido a um ligeiro aumento do diagnóstico do Cancro da Tiroide, sobretudo, “numa idade mais jovem do que a maioria dos outros cancros do adulto”. De acordo com dados do Globocan, em 2020, foram diagnosticados, em Portugal, 1698 novos casos da doença.

Segundo a especialista em Endocrinologia, Inês Sapinho, Coordenadora da Unidade da Tiroide do Hospital CUF Descobertas e Membro do Conselho Consultivo/Científico da Associação das Doenças da Tiroide (ADTI), este aumento no número de diagnósticos “pode ser justificado pelo aumento do recurso a cuidados de saúde, mas sobretudo devido a uma maior capacidade de deteção”.

“O recurso cada vez maior a procedimentos de diagnóstico ultrassensíveis, como ecografia de alta resolução, TC e Ressonância magnéticas (muitas vezes realizadas por outras situações clínicas) aumentaram a deteção incidental de pequenos nódulos tiroideus. No passado muitos destes nódulos não teriam sido identificados e possivelmente muitos deles nunca viriam a ser clinicamente relevantes”, explica sublinhando que “muitos virão a ser submetidos a citologia e possivelmente operados, muito antes de se tornarem sintomáticos ou clinicamente evidentes”.

No entanto, embora este seja um dos tipos de cancro mais frequente entre as mulheres, é um dos que menos mata, sendo altamente tratável. “Em Portugal, apesar do elevado número de novos casos ano, é apenas o 21º cancro quanto à mortalidade anual registada (apenas cerca de 3%)”, diz Inês Sapinho justificando que “a maior facilidade na identificação e tratamento precoce de patologia oncológica tiroideia, permitiu que a mortalidade se mantivesse baixa ao longo dos anos”.

Não há uma causa exata para o desenvolvimento do cancro da tiroide

Embora se desconheça o que o provoca, sabe-se, no entanto, que existem alguns fatores que aumentam o risco de desenvolver cancro da tiroide. São eles: a história de exposição a radiação ionizante na cabeça e no pescoço e a história familiar de cancro da tiroide.

“Atualmente, alguns autores já defendem uma associação entre a obesidade e o desenvolvimento do cancro da tiroide. E muitos estudos têm sido publicados no sentido de perceber qual o impacto dos fatores ambientais, nomeadamente poluentes”, acrescenta a especialista.

Quanto aos sintomas, revela que a maioria dos carcinomas da tiroide são assintomáticos, podendo passar despercebidos.

“É frequente os doentes descobrirem acidentalmente um nódulo no pescoço ou em exames realizados por outros motivos não relacionados com a tiroide”, comenta, chamando a atenção, no entanto, para alguns sinais que podem ser sugestivos da doença: “rouquidão, dificuldade em comer ou respirar, dores no pescoço ou na garganta, com eventual irradiação para os ouvidos e nódulos dispersos no pescoço”.

O Carcinoma diferenciado da tiroide é o mais frequente dos cancros da tiroide, e também, aquele que, apesar de assintomático, raramente apresenta complicações. Este pode apresentar-se como “Carcinoma papilar (o mais frequente dos dois e representa cerca de 80% de todos os cancros da tiroide); ou como Carcinoma folicular (cerca de 10%)”.

“Muito menos frequente (cerca de 5-8% dos casos), mas de pior prognóstico pode ocorrer o Carcinoma medular da tiroide e muito raramente (em menos de 2% dos casos) o muito agressivo Carcinoma anaplásico, este último mais frequente em doentes de idade avançada”, avança quanto à sua classificação e prognóstico.

A cirurgia é a primeira opção terapêutica

De acordo com Inês Sapinho, o tratamento do cancro da Tiroide assenta na cirurgia e na reposição hormonal da hormona tiroideia, sendo que, em alguns casos, pode ser necessário recorrer ainda ao tratamento com iodo radioativo.

O tipo de cirurgia, considerada a primeira opção terapêutica para a grande maioria dos tumores, vai depender da “extensão da doença, da idade do doente, da presença de nódulos uni ou bilaterais e das doenças associadas”, podendo ser mais conservadora (ou menos extensa), removendo apenas parte a parte da tiroide que contem o carcinoma, ou com remoção da totalidade da tiroide (tiroidectomia total).

“A experiência do cirurgião - número anual de cirurgias tiroideias que realiza - é essencial para o sucesso do tratamento”, salienta a especialista sublinhando que, “perante cancros milimétricos, e em situações pontuais já se começa a optar por fazer apenas a vigilância do nódulo”.

Após a intervenção, é necessário recorrer à reposição hormonal, “com medicação para o resto da vida”.

“Esta medicação tem dois benefícios: por um lado, a substituição da hormona que a tiroide produziria; por outro suprimir qualquer estímulo para o crescimento de células da tiroide. Este tratamento denomina-se terapêutica supressiva, sendo o grau de supressão avaliado com a realização de análises e dependendo das características do tumor, da idade do doente e das doenças associadas”, explica a endocrinologista.

O tratamento com iodo radioativo é utilizado “para destruir o tecido tiroideu (benigno ou maligno) que não tenha sido removido com a cirurgia”.

“O acompanhamento em consulta especializada, idealmente, por uma equipa multidisciplinar ao longo da vida”, é fundamental para manter a vigilância após o diagnóstico e tratamento da doença. “O seguimento com realização de análises e exames de imagem vão permitir assegurar a ausência de doença e em situações, menos frequentes, ao identificar uma recidiva agir atempadamente”, sublinha Inês Sapinho.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.