Tumor silencioso

Cancro da Tiroide também afeta os homens e tende a ser mais agressivo

Atualizado: 
24/09/2020 - 15:24
Embora seja mais frequente entre as mulheres, o Cancro da Tiroide também afeta os homens e apesar de se tratar de uma patologia com bom prognóstico, é no sexo masculino que surge a maior percentagem de casos com maior malignidade. Sintomas como rouquidão ou tosse não devem ser desvalorizados, quando frequentes. Esteja atento!

O cancro da tiroide é um tumor maligno da glândula tiroideia, que surge habitualmente sob a forma de um nódulo no pescoço, quase sempre sem dor. Afeta cerca de 400 portugueses, todos os anos, sendo mais frequente entre os 25 e os 65 anos de idade, sobretudo entre as mulheres. “Pensa-se que as células da tiroideia sejam mais sensíveis ao ambiente hormonal feminino”, esclarece Francisco Rosário, especialista em Endocrinologia do Hospital da Luz. No entanto, não é por ser estatisticamente mais frequente no sexo feminino que os homens devem ignorar esta patologia. Com um prognóstico quase sempre favorável, é importante que a sua deteção seja feita o mais cedo possível. É que, tratando-se “de um cancro de crescimento muito lento, não é impossível o aparecimento de recidivas a longo prazo”, explica.

Por outro lado, costuma ser um tumor silencioso. “Geralmente quando existem alterações de voz, massas cervicais volumosas ou queixas por doença à distância, a situação é mais grave e com maior dificuldade de resolução”, revela o endocrinologista. Mais faz saber que “não valorizar sinais (como nódulos cervicais, muitas vezes desvalorizados), não vigiar situações já conhecidas (como tiroideias multinodulares) ou simplesmente nunca fazer um rastreio (ecografia do pescoço ou palpação do pescoço por parte do médico assistente)” é meio caminho andado para que esta patologia continue subdiagnosticada.

Entre os tipos de cancro que podem atingir a tiroide, o carcinoma papilar é o mais frequente. “Quando é visível, surge como um nódulo na tiroideia ou um nódulo lateral no pescoço (uma metástase num gânglio linfático). Mais raramente, pode desencadear alterações na tonalidade da voz, resultantes da infiltração tumoral do nervo recorrente, responsável pela função vocal da laringe”, descreve o médico especialista quanto aos sinais a que devemos estar atentos.

De acordo com Francisco Rosário, apenas a cirurgia conduz ao diagnóstico definitivo. No entanto, “para chegarmos a este ponto, geralmente há que efetuar uma ecografia da tiroideia e uma citologia aspirativa com agulha fina do(s) nódulo(s) suspeito(s).  Esta técnica (que erradamente se chama com frequência de “biopsia”) permite colher e estudar células tiroideias”.

“Na terapêutica do cancro da tiroideia a abordagem cirúrgica inicial é fundamental. Uma estratégia correta e uma equipa cirúrgica experimentada são essenciais logo de partida para melhorar resultados e diminuir complicações”, explica o endocrinologista, Membro do Conselho Consultivo/Científico da Associação das Doenças da Tiroide, acrescentando que a medicação para reposição hormonal é essencial para evitar as recidivas.

Em alguns casos, no entanto, verifica-se a presença de metástases em gânglios linfáticos. “Estas situações motivam novas intervenções cirúrgicas. Poderá ser necessário recorrer a radioterapia ou em casos em que as estratégias anteriores não foram suficientes para travar o curso da doença, iniciar tratamento com quimioterapia. Felizmente estas situações são raras”, afirma o especialista.

Vigilância regular nunca deverá ser descurada

Delfim Santos tinha 42 anos quando foi diagnosticado com uma neoplasia maligna da Glândula Tiroide com metastização ganglionar. O aparecimento de dois nódulos laterais no pescoço fez soar o alerta a este professor que, até então, “desconhecia totalmente a ocorrência de qualquer problema”.

Após o diagnóstico, que resultou da realização de uma ecografia “seguida de biópsia”, os principais receios, na altura, prendiam-se com a gravidade da doença. “Apesar das expectativas que me foram dadas no que respeita ao êxito da intervenção, havia sempre o risco de ficar afetado relativamente à voz, pois tinha algumas ramificações junto às cordas vocais. Ora, sendo eu professor, essa possibilidade de afetar a voz preocupava-me”, recorda.

O seu tratamento consistiu numa tiroidectomia total com esvaziamento cervical radical modificado à direita, tendo-lhe sido atribuído, mais tarde, um grau de invalidez permanente de 80%.

De acordo com o médico especialista, Francisco Rosário, estes casos, podem motivar outro tipo de intervenções, como “radioterapia ou em casos em que as estratégias anteriores não foram suficientes para travar o curso da doença, iniciar tratamento com quimioterapia”.

Em consulta de follow-up, Delfim Santos realizou uma Cintigrafia Corporal com  I131 “que evidenciou focos de fixação na região cervical anterior, suspeitos de metástases ganglionares”,  tendo sido no ano seguinte ao diagnóstico,  “orientado (em janeiro de 2003) pelo Serviço de Oncologia do Hospital S. Sebastião, para o IPO – Porto, a fim de realizar terapêutica ablativa com  I131  (3 ciclos) e manter o seguimento”.

Desde então mantém vigilância regular, até porque entre 2005 e 2007, foi detetada “na região latero-cervical direita, lateralmente encostada à artéria carótida comum e posteriormente ao músculo externocleidomastoideu, uma formação nodular predominantemente sólida, com área central cística, bem delimitada, medindo 38 mm de maior eixo (linfocelo cervical direito), que se mantém”.

O professor continua a fazer hormonoterapia de substituição (eutirox), ajustando sempre que necessário, de acordo com o controlo analítico que efetua regularmente.

Por tudo isto, partindo da sua experiência, apela ao “diagnóstico precoce através de um controlo analítico, e verificação de sinais exteriores”, como tosse, rouquidão, alterações fisionómicas, estado de humor, cansaço, entre outras. Referindo ainda que é “importante verificar ainda se terão ocorrido anteriormente casos em familiares”.

Francisco Rosário, acrescenta: “o cancro da tiroideia é das patologias oncológicas em que a Medicina obtém melhores resultados”, mas é preciso contar com a “a colaboração de quem sofre desta patologia, pois desde o diagnóstico precoce, à vigilância regular e à toma adequada dos fármacos, tudo passa pela intervenção do doente. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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