Cancro da bexiga: tabaco entre os principais fatores de risco
O cancro da bexiga designa vários tipos de tumores, sendo o Carcinoma Urotelial o mais frequente, representando mais de 90% dos casos. Com origem nas células epiteliais, este tipo de tumor, “reconhecido genericamente como tumor maligno da bexiga”, pode atingir não só este órgão, como a pélvis renal, uréteres e uretra.
Mais frequente entre os 60 e os 70 anos, atinge maioritariamente o sexo masculino. Sabe-se aliás que este tipo de tumor é três vezes mais frequente entre os homens e que em metade dos casos está associado ao tabagismo. No entanto, e embora este seja um importante fator de risco, a doença pode surgir em qualquer pessoa, mesmo nos mais jovens.
Para além do tabaco, e embora as causas para o seu desenvolvimento não estejam totalmente esclarecidas, existem diversos fatores que podem aumentar o risco da doença. É o caso da exposição a agentes químicos (como tintas, borracha ou petróleo), a idade (em 70% dos casos a doença surge acima dos 65 anos) e o sexo (os homens têm maior predisposição genética), a história familiar de doença ou de infeções crónicas da bexiga, a presença de alterações congénitas, “assim como radioterapia prévia com atingimento pélvico”, explica a oncologista do Centro Hospitalar do Porto, Joana Febra.
Entre os sintomas, a presença de sangue na urina deve ser suficiente para fazer soar o alerta, sobretudo se a este se juntar dor ou ardor ao urinar, sensação de esvaziamento incompleto e necessidade de urinar mais vezes do que o habitual. Em todo o caso, a especialista reforça que nem sempre é necessária a presença de outro sintoma para além da hematúria para se estabelecer o diagnóstico – muitas vezes, a presença de sangue na urina é o único sinal da doença.
Em alguns casos “podem aparecer sintomas mais gerais como dor lombar, dor abdominal ou perda de peso inexplicável”. Por isso esteja atento. E caso apresente algum destes sintomas, não hesite em consultar o médico. De acordo com Joana Febra ainda são muitos os homens que, muitas vezes por vergonha, desvalorizam ou escondem os sintomas adiando o seu diagnóstico.
Quanto mais cedo detetado maiores as hipóteses de cura
Uma vez que o cancro da bexiga pode apresentar sintomas semelhantes ao de outras doenças, o seu diagnóstico requer uma “história clínica detalhada, exame físico completo e a realização de exames apropriados”. De acordo com a especialista em oncologia, para além de análises gerais e à urina, exames como a citologia urinária, a citoscopia, biopsia e exames de imagem (TAC ou ressonância magnética) são essenciais para estabelecer o diagnóstico.
Por outro lado, é com a análise detalhada que é possível identificar em que fase o tumor se encontra e o seu grau de malignidade, de modo a escolher o tratamento indicado a cada caso.
Habitualmente, o cancro da bexiga é classificado, de acordo com a profundidade da invasão tumoral, como cancro da bexiga não invasivo – quando as células cancerígenas se encontram apenas no revestimento interno da bexiga (o que corresponde a cerca de 70% dos casos) -; cancro da bexiga que invade o músculo – quando o tumor atinge ou ultrapassa a camada de músculo da bexiga -; e o cancro da bexiga metastizado – quando já existem células tumorais fora da bexiga.
Entre as opções terapêuticas encontram-se a cirurgia, os tratamentos intravesicais (dentro da bexiga), a quimioterapia sistémica, radioterapia e a imunoterapia.
Segundo Joana Febra, quando o tumor é diagnosticado numa fase precoce, o seu tratamento é curativo. Mas quando a doença já se encontra disseminada por outras áreas do corpo, o tratamento é meramente paliativo.
“De uma forma geral: para tumores não invasivos o tratamento passa por cirurgia, com ou sem tratamentos intravesicais; para tumores que invadem o músculo, cirurgia e, eventualmente, tratamentos intravesicais e quimioterapia sistémica”, revela a especialista. Nestes casos, a cirurgia, designada de cistectomia radical, implica a remoção da bexiga e a confecção de uma bolsa para armazenamento da urina, utilizando uma parte do intestino que pode ser colocada no local previamente ocupado pela bexiga ou ligada à pele através de um estoma.
No caso de se tratarem de tumores metastizados as opções terapêuticas passam por quimioterapia, imunoterapia e, em alguns casos, radioterapia.
Para além, de tudo isto, no momento de escolher o tratamento é necessário ainda ter em conta o estado geral do doente, a idade, a preferência do doente e possíveis efeitos secundários.
No que diz respeito ao prognóstico da doença, este é, de acordo com a oncologista do Centro Hospitalar do Porto, variável “com taxas de sobrevivência que diminuem substancialmente com a progressão do tumor para além da bexiga”.