Tumores

Cancro colorretal: a doença de que ninguém quer falar

Atualizado: 
12/08/2020 - 08:09
Continua a ser uma das doenças mais prevalentes não só em Portugal, como no resto da Europa e, embora a sua mortalidade tenha vindo a decrescer, os números globais mostram que há cada vez mais pessoas diagnosticadas com cancro colorretal. O estigma associado à doença é apontado como um dos principais entraves ao diagnóstico precoce. Mas não é o único!
Mulher ruiva com fita adesiva na boca

O cancro colorretal atinge todos os anos, em Portugal, cerca de 7 mil pessoas. Numa grande percentagem de casos, o diagnóstico chega já em estadios avançados da doença, estando assim reduzidas as hipóteses de sobrevivência. A falta de conhecimento e a desvalorização dos sintomas, quer por parte dos doentes quer de alguns médicos, são apontadas como as principais causas para um diagnóstico tardio. Por outro lado, sabe-se que o tabu ainda associado a este tipo de cancro leva a que poucos queiram falar sobre a doença. Por isso, para Vítor Neves, presidente da Europacolon, é essencial que se desmitifique a patologia e que se consiga fazer entender que os exames de rastreio não são um «bicho de sete cabeças».

“O cancro colorretal é uma doença muito grave e mortal, cuja incidência continua a subir exponencialmente”, afirma o presidente da Europacolon acrescentando que grande parte dos casos correspondem a “tumores encontrados no estadio 3 ou 4, quando metastizaram”, o que se traduz em reduzidas taxas de sobrevivência.  

De acordo com Vítor Neves, o rastreio precoce é a solução no combate a esta doença. “Faz-se bem em alguns países da Europa e se funcionasse em Portugal salvar-se-iam muito mais pessoas e poupavam-se milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde”, revela.

No entanto, apesar de o rastreio de base populacional, indicado a todas as pessoas a partir dos 50 anos, ter sido apresentando em 2016, “teimosamente continua a não existir”. Apesar de “estar melhor do que há 2 ou 3 anos”, Vítor Neves garante que ainda há um longo caminho a percorrer até que este esteja acessível a todos. A falta de equipamentos e técnicos para a realização do rastreio é apontado com um dos problemas a resolver. “Os meses de atraso nos exames complementares também não ajudam”, acrescenta demonstrando que existe, no país, um conjunto de problemas que contribuem para um diagnóstico tardio.

O exame de rastreio ideal é, de acordo com o presidente da Europacolon, a colonoscopia total. No entanto, revela, “ainda existe muito tabu a respeito do exame”. Por isso, a associação que preside decidiu disponibilizar uma linha de apoio para esclarecer as dúvidas sobre este exame de diagnóstico e sua preparação. “As pessoas pensam que a preparação é difícil e que o exame pode ser doloroso”, explica. No entanto este é “o teste gold” que permite identificar e remover eficazmente lesões pré-cancerígenas. “Na pesquisa de sangue oculto – o outro método de rastreio – não são detetados pólipos em fase primária”, revela esclarecendo que, embora os pólipos “apareçam naturalmente com a idade, podem degenerar em adenocarcinoma”. Não obstante, a pesquisa de sangue oculto nas fezes é ainda o método de rastreio mais utilizado no país, apesar de não ser o mais fiável, apresentando 50% de falsos positivos.

Embora o rastreio seja dirigido à população a partir dos 50 anos, este pode ser realizado mais cedo sempre que exista história familiar da doença ou na presença de sintomas. Entre os grupos que apresentam maior risco estão aqueles que sofre de doenças inflamatórias intestinais. Sabe-se ainda que 5 a 10% dos casos de cancro colorretal são genéticos.

Doentes desvalorizam sintomas, mas não são os únicos

Os principais sinais de alarme do cancro colorretal são a presença de sangue nas fezes ou a emissão de sangue após as dejeções e a alteração dos hábitos intestinais (ter mais ou menos dejeções do que era habitual) ou das características das fezes. Pode ainda surgir perda de peso, fadiga, dor abdominal, urgência ou falsa vontade em evacuar.

E se por um lado existe um elevado número de pessoas que não estão despertas para a sintomatologia associada à doença, outros há que os desvalorizam. “Ninguém gosta de falar de cancro do intestino. Não gostam os doentes, não gostam os médicos, não gosta a comunicação social”, lamenta Vítor Neves. E este pudor, associado a todas as dificuldades que impedem o diagnóstico precoce, só serve para condenar ainda mais pessoas ao insucesso do tratamento. “2/3 destes doentes poderiam ser salvos”, realça.

Por isso, “é preciso as pessoas estarem atentas aos sinais e é preciso que os médicos valorizem os sintomas”, apela o presidente da Europacolon segundo o qual a inação de alguns clínicos pode ser fatal. Neste âmbito revela que há dois tipos de médicos: “os que pensam que as pessoas andam a inventar doenças e os mandam embora e os que são desinteressados”. “Entre os 50 e os 74 anos é obrigatório fazer o rastreio”, alerta pelo que é essencial que qualquer pessoa, ao apresentar sintomas, peça ao seu médico para realizar o exame de diagnóstico. “Se (os médicos) não passarem o rastreio, devem ligar para a Europacolon. Nós definimos se estão dentro das linhas de inclusão e falamos com o Centro de Saúde para perceber porque a pessoa não fez o rastreio”, explica.

Atualmente, e no âmbito do mês de sensibilização para o Cancro Colorretal, a Europacolon, em parceria com as farmácias Holon, está a levar a cabo a realização de rastreios gratuitos, através da Pesquisa de Sangues Oculto nas Fezes, na tentativa de contrariar os números dramáticos associados a esta doença.  

A iniciativa decorre durante os meses de março e abril nas farmácias Holon aderentes.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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Foto: 
Pixabay