Impacto da pandemia na saúde oral

Bruxismo e problemas associados à articulação temporomandibular aumentaram durante o confinamento

Atualizado: 
19/03/2021 - 12:28
No âmbito do Dia Mundial da Saúde Oral, que se assinala a 20 de março, o Atlas da Saúde quis saber de que forma a pandemia impactou a saúde oral dos portugueses. Pacheco Pinto, Médico dentista e Coordenador Clínico da Clínica Médis, revela que com a suspensão da atividade muitos tratamentos ficaram por realizar, outros tantos ficaram a meio. De uma forma geral, o especialista admite o agravamento de muitos “quadros considerados não urgentes”. Por outro lado, revela que casos de bruxismo ou problemas associados à articulação temporomandibular aumentaram durante o confinamento, “na sua grande maioria associados ao stress”.

Tendo em conta que a pandemia obrigou ao cancelamento de milhares de consultas e tratamentos em todas as áreas da saúde, qual o impacto que se espera que esta tenha tido sobre a saúde oral dos portugueses?

Infelizmente, a saúde oral dos portugueses pode ter sido em muitos casos impactada negativamente. Em março de 2020, a Clínica Médis tomou a iniciativa de suspender a sua atividade, salvaguardando a segurança de todos os pacientes e profissionais perante num cenário de total desconhecimento face à pandemia. Uns dias depois, o Governo suspendeu a atividade de medicina dentária, exceto situações consideradas urgentes.

A Clínica Médis reorganizou-se para encontrar e adquirir todo o equipamento de proteção individual (EPI) necessário, para atender e responder clinicamente aos pacientes que se enquadravam no critério de urgência, respeitando assim a normativa da DGS e Ordem dos Médicos Dentistas (OMD). Implementámos, nesse seguimento, ainda um sistema de vídeo e teleconsultas, onde realizámos uma triagem prévia de cada caso, com identificação do critério de urgência.

No entanto, foram muitos os portugueses que iniciaram tratamentos no início de 2020 e que, por conta da situação pandémica, não os concluíram. A somar a estes casos, estão também os pacientes que não tiveram oportunidade de dar início aos tratamentos, bem como os que foram adiando os seus tratamentos por não serem urgentes. Inevitavelmente, esta situação pode conduzir a problemas mais graves na saúde oral, e até com impacto mais sério a nível sistémico, comprometendo a saúde geral.

Desde a retoma da atividade, quais as principais queixas dos portugueses no que diz respeito à saúde oral?

A atividade foi retomada em maio do ano passado, e desde então que temos verificado um especial aumento dos casos de bruxismo (ranger os dentes) e de problemas ligados à articulação temporomandibular (A.T.M.), na sua grande maioria associados ao stress, ansiedade e incerteza no futuro, resultantes de toda a atualidade em que vivemos. Também identificamos pacientes com situações que não eram consideradas urgentes, pelo que não puderam ser atendidos entre março e maio do ano passado e que, quando regressaram, apresentaram quadros clínicos agravados, pelo que o número de tratamentos mais diferenciados também aumentou.

Que complicações podem surgir ao adiarmos as consultas de medicina dentária?

São várias as complicações que podem surgir quando adiamos a ida ao médico dentista. Tratamentos que são interrompidos causam vários constrangimentos. Destaco a dor, o sangramento principalmente das gengivas, a halitose (mau hálito) e o forte agravamento da condição clínica oral que, em certas situações, pode conduzir a perdas dentárias.

É relevante destacar que a doença da cavidade oral mais prevalente é a cárie. Se não for tratada numa fase inicial, podem ser necessárias intervenções clínicas mais invasivas.

Por estas razões, é fundamental realizar um diagnóstico precoce, também na medicina dentária, de modo a evitar tratamentos mais complexos, demorados, multidisciplinares e invasivos. Na Clínica Médis, apostamos muito no diagnóstico precoce, por isso temos os nossos pacientes acompanhados pelo médico dentista idealmente de 6 em 6 meses. Outro pilar da Clínica Médis é atuar na prevenção através da partilha de conhecimento dos médicos dentistas ajustada à idade do paciente.

Faz sentido as pessoas terem medo de ir ao dentista com medo da Covid-19? Que medidas de proteção são garantidas em consultório?

É seguro ir ao médico dentista. No início da pandemia, a medicina dentária foi obrigada a suspender a atividade pelo desconhecimento completo da doença, do seu comportamento e formas de transmissão. A medicina dentária está exposta a aerossóis por parte dos médicos dentistas, assistentes dentárias e dos pacientes. No entanto, a Clínica Médis implementou todas recomendações de higiene e segurança emitidas pela OMD e DGS, e reforçou os já rigorosos protocolos de proteção e assepsia, para que os pacientes e todo o staff se sintam em total segurança na Clínica Médis. Foram várias as medias adotadas, nomeadamente tapetes de desinfeção para sapatos à entrada da clínica, rigoroso protocolo de controlo dos pacientes na entrada da clínica, com medição da temperatura à chegada, higienização das mãos, colocação de acrílicos de proteção nos postos e gabinetes de atendimento, redução do número de lugares na sala de estar, consultas mais longas e espaçadas para permitir uma desinfeção ainda mais profunda do gabinete antes da consulta seguinte, médicos dentistas e assistentes dentárias totalmente equipados com EPIs que são trocados entre cada consulta. Demos ainda formação às equipas sobre procedimentos de segurança e aumentamos as auditorias internas para certificação do cumprimento rigoroso das medidas de proteção e segurança. É por isso seguro ir ao médico dentista em toda a rede Clínica Médis.

Num âmbito mais geral, quais os principais cuidados que os portugueses devem manter com a sua saúde oral?

Para manter a saúde oral, os portugueses necessitam garantir uma boa higiene oral e um acompanhamento regular de um médico dentista de preferência de 6 em 6 meses.

Para manter uma boa higiene oral diária é necessário escovar os dentes pelo menos duas vezes por dia, cerca de 30 minutos após as refeições, recorrer a uma escova e uma pasta dentífricas ajustadas à sua condição, seguindo o conselho do profissional de saúde. A utilização do fio dentário uma vez por dia é fundamental para completar a correta higiene. Os pacientes com tratamentos ortodônticos devem cumprir todas as recomendações que o médico indicou, tendo em conta os aparelhos que possuem em boca. O mesmo cuidado estende-se aos pacientes com próteses fixas e removíveis que devem seguir as orientações do seu médico dentista. Por fim, destaco as crianças: é fundamental motivá-las para a prevenção, sendo a higiene oral diária um desafio interessante para crianças e pais. O médico dentista pode ajudar na reeducação alimentar adequada a dentes saudáveis, bem como sugerir as melhores técnicas e produtos do mercado para os mais novos.

Quais os principais sinais de alerta aos quais devemos estar atentos?

Devemos estar atentos aos sinais de alerta de todas as estruturas que temos dentro da boca: os dentes, a língua, gengivas, palato (céu da boca) e bochechas. Caso exista desconforto (de qualquer tipo), dor, hemorragia, manchas nos tecidos, fratura dentária, traumatismo na boca ou edema (inchaço), deverá agendar uma consulta urgente no seu médico dentista para que possa fazer o diagnóstico e obter o tratamento mais adequado.

No âmbito do Dia Mundial da Saúde Oral, que mensagem gostaria de deixar?

Aproveito este dia para sensibilizar para a importância de uma boca saudável, não só dentes como todas as restantes estruturas da cavidade oral. É fundamental não adiar a saúde oral e manter o foco na prevenção, no cuidado e tratamento das alterações que possam ocorrer. Com um diagnóstico precoce, teremos sempre tratamentos menores, mais céleres e menos invasivos para o paciente. Nunca esquecer que a saúde oral está diretamente ligada à saúde geral, pelo que devemos cuidar de ambas de igual forma e com o mesmo carinho.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Clínica Médis