Doença alérgica

Asma e alergia na grávida

Atualizado: 
20/11/2019 - 11:48
A doença alérgica nas suas diferentes manifestações afeta até 1/3 da população portuguesa, sendo transversal a todos os grupos etários. A mulher quando engravida mantém as suas doenças alérgicas, ou mais raramente estas têm durante a gravidez as suas primeiras manifestações. Assim, há uma elevada prevalência de alergia nas grávidas, nomeadamente asma, rinite, rinoconjuntivite e urticária.

A asma é uma das doenças que mais frequentemente se complica durante a gravidez. Nas grávidas com asma têm sido descritas inúmeras complicações, sendo as crises de asma com diminuição do oxigénio materno e comprometimento da oxigenação fetal um problema clínico major.

Aproximadamente 50% das mulheres descontinua a medicação crónica para a asma durante a gravidez, a maioria porque considera que esta pode provocar malformações no feto. Os fármacos usados mais frequentemente no tratamento de manutenção e de alívio na asma são os corticoides e os broncodilatadores inalados. O risco de efeitos adversos na utilização destes fármacos é nulo ou mínimo, sendo a experiência maior para os fármacos utilizados há mais tempo.

Todos os estudos sugerem que as grávidas com um controlo ótimo da asma, sobretudo se prévio à gravidez, não apresentam riscos superiores de complicações comparativamente às grávidas saudáveis. Contudo, a asma mal controlada parece contribuir fortemente para o aparecimento de complicações materno-fetais, nomeadamente: pré-eclampsia, diabetes gestacional, abortamento, parto pré-termo, baixo peso ao nascer, malformações congénitas e morte perinatal e neonatal, entre outras.

A asma deve ser abordada durante a gravidez como em qualquer adulto comum, mas com uma vigilância médica mais apertada. Assim, as grávidas com asma devem ter consultas com uma periodicidade mínima mensal para monitorização rigorosa da doença (p. ex.: avaliação do controlo, adesão à terapêutica, técnica inalatórios, possíveis efeitos adversos dos fármacos). Para além disso, deve ser ressaltado que existem mais riscos quando a asma está mal controlada do que quando é realizada terapêutica farmacológica.

Deve, ainda, ser feito ajuste terapêutico sempre que necessário e fornecido um plano escrito detalhado com todas as medidas e atitudes a ter em caso de agudização. As grávidas com asma devem ser seguidas por um especialista quando o fenótipo clínico é grave ou quando o controlo da doença não está a ser atingido.

20 a 30% das grávidas têm queixas de rinite alérgica (espirros, rinorreia, prurido e obstrução nasal) e/ou conjuntivite alérgica (prurido ocular, lacrimejo, eritema conjuntival) queixas estas que podem surgir em qualquer semana da gestação e se associam frequentemente à asma, podendo agravá-la. O próprio ambiente hormonal de estrogénios leva à inflamação da mucosa nasal, hiperatividade glandular e à rinite gravídica que afeta quase todas as grávidas.  Os fármacos indicados são os anti-histamínicos de segunda geração, sobretudo os mais recentes, e os corticoides intranasais; nenhum deles, nas doses indicadas, é teratogénico para o feto. Se a mulher estiver a fazer um tratamento de dessensibilização (i.e “vacinas da alergia”) este deve ser continuado durante a gravidez.

A urticária, doença cujo diagnóstico é essencialmente clínico, caracterizando-se pelo aparecimento de lesões maculopapulares pruriginosas típicas, é rara durante a gravidez e o mais frequente é o agravamento de uma urticária crónica já existente. Os anti-histamínicos não sedativos de segunda geração são os fármacos indicados.

A grávida com alergia necessita de cuidados especializados com planos terapêuticos e educacionais individualizados, cabendo frequentemente ao imunoalergologista o papel fundamental no adequado controlo da doença alérgica contribuindo para o bem-estar da mãe e do feto.

Autor: 
Dra. Ana Morete - Imunoalergologista do Hospital e Instituto CUF Porto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay