Doença articular inflamatória

Artrite Psoriática: o que é e qual a sua relação com a Psoríase?

Atualizado: 
05/11/2019 - 11:17
A artrite psoriática é uma doença articular inflamatória crónica de causa desconhecida que acomete sobretudo os doentes com psoríase. No entanto, embora exista uma relação entre as duas patologias, a artrite psoriática pode atingir qualquer pessoa, de qualquer idade. Neste artigo, a especialista em reumatologia, Susana Fernandes, explica tudo.
Mulher idosa com dores na mão

O que é?

A Artrite Psoriática (AP) é uma doença inflamatória crónica das articulações que surge nos doentes com Psoríase ou com história familiar de Psoríase. A denominação “artrite” refere-se à inflamação articular, associada a dor e dificuldade em mobilizar as articulações, assim como tumefação e rigidez articular após períodos de repouso.

É uma doença de causa desconhecida. Ocorre entre 0,05% e 0,025% da população, sendo mais frequente em indivíduos caucasianos. Pode atingir pessoas de qualquer idade, embora com maior frequência entre os 35 e os 55 anos. Há formas de aparecimento em idade juvenil. Não tem prevalência de género.

As articulações mais envolvidas são as mãos e os pés, seguidas de joelhos, tornozelos e ancas. Ao contrário da Artrite Reumatóide, pode ter envolvimento da coluna vertebral e da bacia, assim como numa parte específica dos tendões que se denomina de entese. Pode causar inflamação ocular sob a forma de uveíte.

De uma forma geral, o envolvimento axial ou da coluna vertebral é mais frequente no género masculino e o envolvimento de várias articulações (poliarticular) e simétrico (semelhante por exemplo na mão direita e esquerda) é mais frequente no género feminino.

Qual a causa?

A causa é desconhecida. Ocorre uma desregulação do sistema imunitário, havendo uma reação deste sistema contra estruturas do próprio indivíduo.

Quais as manifestações?

A AP tem manifestações muito distintas de doente para doente e, por vezes, as manifestações alteram-se ao longo da vida no mesmo doente. Existem vários subtipos, de acordo com o tipo e número de manifestações envolvidas.

De uma forma geral, os doentes podem sentir:

  • desconforto, dor, tumefação ou rigidez em uma ou mais articulações (denominado de artrite)
  • dor e tumefação de dedos das mãos ou dos pés (“dedos em salsicha” – denominado de dactilite)
  • desconforto, dor ou tumefação sobre os tendões (denominado de entesite)
  • sensação de desconforto e rigidez na coluna cervical, dorsal, lombar e bacia, após períodos de repouso e que aliviam com os movimentos
  • cansaço generalizado
  • alterações na pele típicas de Psoríase
  • alterações das unhas típicas de Psoríase (Psoríase ungueal)

        

                 Psoríase ungueal                              Dactilite ou “dedo em salcisha

Os sintomas variam de ligeiros a extremamente incapacitantes e podem ter um início súbito com envolvimento de várias articulações e várias entesis inflamadas no mesmo doente.

Qual a relação entre Artrite Psoriásica e Psoríase?

Estima-se que 5 a 8% das pessoas com Psoríase Cutânea tenham manifestações de AP. Nos casos com Psoríase grave o desenvolvimento de artrite chega aos 40%.

Na maioria dos doentes (67%), a Psoríase antecede a artrite numa média de de 8 a 20 anos. Em 15 a 20% dos casos, a artrite surge antes do aparecimento da Psoríase. Pode surgir AP apenas com história familiar de Psoríase. O início simultâneo de Psoríase e artrite é raro.

Os fatores que aumentam o risco de um doente com Psoríase desenvolver artrite incluem a presença de lesões nas unhas, o envolvimento cutâneo mais extenso (quanto à área de pele afetada), a história familiar de AP e a presença de Psoríase no cabeludo e a região interglútea ou perianal.

É importante salientar que as pessoas com Psoríase também podem ser afetadas por outras doenças articulares, como a Artrite Reumatóide ou a Osteoartrose.

Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico deve ser o mais precoce possível, tendo em vista o início atempado do tratamento. Este fator é essencial uma vez que permite evitar o dano nas articulações que artrite pode provocar se levar muito tempo sem ser tratada.

O diagnóstico é essencialmente clínico, ou seja, com base na observação médica. No entanto, é habitual realizar um estudo laboratorial que inclui parâmetros de inflamação no sangue (velocidade de sedimentação e proteína C reativa), radiografias das articulações envolvidas e, ocasionalmente, ecografia articular.

Como se trata?

A abordagem da AP engloba a ação de vários profissionais de saúde podem intervir em várias fases do tratamento, incluindo o Reumatologista, Dermatologista, Médico de Família, o Fisiatra, o Ortopedista, o Fisioterapeuta, o Terapeuta Ocupacional, o Nutricionista, o Podologista ou o Enfermeiro. O objectivo é controlar a dor e a inflamação, reduzir a progressão da doença, melhorar a incapacidade funcional e restaurar a função das articulações afectadas. 

As infiltrações intra-articulares de corticosteroides directamente na articulação é um método muito eficaz de controlar a inflamação numa fase precoce e quando existem poucas articulações envolvidas. A melhoria da dor e a recuperação da mobilidade são habitualmente rápidos, e os efeitos secundários são mínimos.

Os anti-inflamatórios, os analgésicos e os corticosteróides orais em doses baixas também são utilizados.

O tratamento específico da AP inclui medicamentos modificadores de doença que podem ser utilizados isoladamente ou em combinação. Os fármacos mais usados são metotrexato, leflunomida, sulfassalazina e ciclosporina. O início precoce do tratamento é recomendado para controlar os sintomas bem como diminuir o risco de deformidades e erosões. Actualmente o estado português fornece uma comparticipação a 100% de metotrexato e leflunomida, algo muito importante na aderência a estes fármacos. Existe a formulação oral e sub-cutânea no caso do metotrexato

Doentes que não têm resposta eficaz aos tratamentos prévios e que se mantêm doença com actividade inflamatória activa, pode ser elegíveis para iniciar agentes biotecnológicos. Estão aprovados para o tratamento da AP os seguintes fármacos: fármacos inibidores do fator de necrose tumoral ou anti-TNF (infliximab, adalimumab, etanercept, golimumab, certolizumab), anticorpo monoclonal IL12/IL23 (ustecinumab), anti-receptor da interleucina 17 (secucinumab) e inibidores da JAK cinase (tofacitinib). Estes tratamentos são sub-cutâneos, endovenosos ou orais.

O programa de reabilitação dirigido (fisioterapia) tem um papel complementar importante. É eficaz no alívio da dor e da rigidez articular, permitindo o ensino de exercícios e a correção de gestos e posturas que podem prevenir outros problemas futuros.

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Autor: 
Dra. Susana Fernandes -Reumatologista Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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