Opinião

APDP: há 95 anos a cuidar da Diabetes em Portugal

Atualizado: 
13/05/2021 - 11:10
Fundada pelo médico diabetologista Ernesto Galeão Roma, a APDP – Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, que, inicialmente, ficou conhecida como a Associação Protectora dos Diabéticos Pobres, foi primeira associação de diabéticos do mundo e a grande precursora do movimento associativo internacional da luta contra a diabetes. Hoje, para assinalar o 95º aniversário, partilhamos o testemunho de quem, havendo sido diagnosticado com a doença há mais de duas décadas, contou, desde o início, com o total apoio da associação, sobretudo em plena pandemia.

Alexandra Costa, 36 anos, coordenadora do Gabinete do Cidadão e do Núcleo Jovem, pessoa com diabetes tipo 1

Percurso na diabetes

Fui diagnosticada com 10 anos. O diagnóstico não teve um grande impacto em mim, na altura. Penso que terá tido mais nos meus pais. Percebi que a diabetes era uma doença para sempre e que o tratamento com injeções de insulina ia ser feito para sempre, mas com 10 anos não fiquei muito assustada. As recomendações que fazem é para termos uma alimentação saudável. Temos consultas de nutrição, o que a maioria dos amigos da nossa idade não tem e acabamos por fazer melhores escolhas e ter uma alimentação mais regrada. E apesar de na altura do meu diagnóstico haver mais proibições do que há hoje, no entanto, nunca passei muito por isso porque a minha mãe sempre preferiu que não houvesse grandes proibições para eu ter uma vida o mais próximo do normal possível. Mas é um facto que a alimentação melhorou para todos na família, porque todos comemos o mesmo - somos três irmãos e os meus pais - e acabamos todos por ter mais cuidado com a alimentação e a saber melhor o que é que estávamos a comer.

Gerir a doença ao longo de mais de duas décadas, os maiores desafios

São 26 anos de diagnóstico. Gerir a diabetes é muito trabalhoso, não direi que é fácil, mas é possível conjugar uma boa gestão da diabetes com uma vida rica e recheada de objetivos e tarefas, como todas as outras pessoas. No entanto, costumo dizer que conseguimos fazer o mesmo do que os outros, mas com o dobro do trabalho. Isto porque tudo o que façamos, o que comemos, o exercício que podemos fazer, temos sempre de controlar a glicémia a toda a hora, para que nos seja possível realizar as atividades com sucesso, para que a diabetes não interfira com o nosso desempenho. Na adolescência houve algumas dificuldades sobretudo ao nível do controlo glicémico. Eu sempre fiz insulina e medi a glicémia, mesmo na escola, mas foi complicado nessa altura, porque havia amigos que gozavam. No entanto, isso foi ultrapassado.

A APDP neste percurso

A APDP entrou neste percurso quando tinha 12 anos e quando mudei para a APDP passei a ter consultas em grupo, com outros jovens com diabetes, que foi isso que me fez mudar na altura e alterou toda a minha maneira de ver a doença. Nós, quando tínhamos consulta, não estávamos sozinhos na sala de espera, nem estávamos com pessoas idosas. Estávamos com jovens da nossa idade: estávamos numa sala com outros jovens e os pais estavam numa sala com outros pais. E isso mudou para melhor a nossa vida, teve um grande impacto positivo também na abordagem da doença. Eu era seguida, até então, num hospital, onde a abordagem era feita de uma forma mais antiquada e na APDP tive todo o contacto com estes jovens e com outras formas de falar, de ver a diabetes, de ensino, muito mais adaptada à minha realidade e às crianças.

Diabetes e pandemia

Toda a gente teve medo. No primeiro confinamento, toda a gente estava um bocadinho em pânico, mas nós com diabetes, assim como as outras pessoas com doenças crónicas, ainda mais, sobretudo devido ao que saía nas notícias e porque o desconhecimento era grande em relação à Covid-19. Aquilo que íamos ouvindo é que as pessoas com diabetes eram doentes de risco e havia uma grande taxa de mortalidade neste grupo. Mas esta taxa de mortalidade estava relacionada com a idade e com as doenças associadas e não se refletia tanto nas pessoas mais jovens. Só que nas notícias vem tudo junto, o que causa alguma ansiedade em toda a população com diabetes. Depois, começámos a perceber, também com a informação fidedigna vinda da APDP, começámos a descortinar o que eram estas notícias e a perceber quem eram as pessoas com maior risco. Também o facto de continuarmos a ter consultas, mesmo que fosse através do telefone, e continuarmos a ter o apoio da APDP foi um grande descanso, porque sei que há outros sítios, nomeadamente alguns hospitais, que tiveram de alocar os recursos humanos a outros departamentos, as pessoas não puderam ter consultas, não tinham acesso a receitas. Nós, na APDP, nunca deixámos de ter consultas e apoio e isso é uma grande vantagem, uma grande segurança, porque sentimos que há sempre alguém do outro lado a dar apoio quando precisamos. Agora tenho 36 anos, os meus pais não estão tão envolvidos, mas o facto de eu estar acompanhada, independentemente do caos que o mundo está a viver, dá tranquilidade a todos.

José Cancella de Abreu, tem 69 anos, é reformado e soube que tinha diabetes tipo 2 antes dos 30 anos. A minha mãe era muito diabética e o meu pai médico, devido à sua profissão, estava mais atento e percebeu que algo não estava bem quando comecei a perder muito peso. Após análises percebi que   tinha os diabetes altíssimos.

Embora tivesse alturas que tinha menos cuidado, o exemplo da minha mãe era muito forte e por isso estive sempre consciente do impacto que teria na  minha saúde.

Comecei por tomar medicação via oral e depois passado algum tempo a medicação era alterada para outra pois já não atingia resultados.

A certa altura, ao fim de alguns anos, tive de começar a fazer insulina à noite. Como já não chegava, agora faço tambem às refeições, ou seja, quatro  vezes ao dia.

Como trabalhava na área de desporto e também praticava, uma das vezes que fui à piscina encontrei um médico amigo que me deu o contacto da APDP.

A associação é um apoio muito grande, tem várias valências na área da diabetes e assim em um único local é possível controlar os olhos todos os anos,  os rins e os pés e por aí fora.

Diabetes e pandemia

Em primeiro lugar tive mesmo muito cuidado para não ser infectado.

As consultas tive uma ou duas pelo telefone, mas agora já tem sido presencial. Para tratar dos pés não pode ser pelo telefone, para ver os olhos também não pode ser por telefone. Tenho de fazer análises, para avaliar a média dos diabetes nos últimos três meses, por isso tem de ser presencial.

Pedi uma declaração à APDP que enviou diretamente para o SNS, acredito. Já fui vacinado, a primeira toma, no final da primeira fase há 15 dias.

Autor: 
Alexandra Costa e José Cancella de Abreu
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Eduardo Pica Fotógrafo