Sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção

3 milhões de portugueses convivem com Doença Venosa Crónica

Atualizado: 
28/06/2021 - 15:11
Dor, edema ou cansaço nos membros inferiores são os principais sinais de alerta para a Doença Venosa Crónica, uma patologia que, apesar de afetar mais mulheres que homens, pode atingir qualquer um. Em Portugal, são cerca de três milhões aqueles que convivem com a doença.

Segundo Gonçalo Cabral, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardíaca Torácica e Vascular, “a doença venosa crónica constitui uma anomalia do funcionamento do sistema venoso provocada por incompetência valvular ou obstrução ao fluxo venoso”. Esta pode afetar o sistema venoso superficial ou profundo, sendo responsável pela hipertensão venosa.

“As varizes estão associadas a queixas de edema, peso, cansaço e dor nos membros inferiores, que podem comprometer significativamente a qualidade de vida dos doentes. Alguns doentes referem também queixas de prurido”, revela o especialista quanto aos principais sintomas sublinhando que “estas queixas são mais evidentes ao final do dia e quando o tempo está mais quente”.

Consideradas uma doença de incidência familiar, já que “se houver algum familiar próximo com varizes, a probabilidade de uma pessoa vir a desenvolver varizes aumenta significativamente”, apresentam fatores de risco individuais associados. É o caso da obesidade, idade, o género (é mais frequente entre as mulheres) e gravidez. 

Não obstante, “O ortostatismo prolongado, a exposição ao calor, a obesidade, o uso frequente de saltos altos e a contraceção hormonal, aumentam o risco de desenvolver a doença”, explica o cirurgião.

“O diagnóstico da doença venosa crónica dos membros inferiores é feito através da história clínica, do exame físico e da realização do ecodoppler venoso dos membros inferiores. Para o diagnóstico de varizes dos membros inferiores, este exame é, atualmente, o gold standard, dado o seu caráter não invasivo e à qualidade da informação morfológica e hemodinâmica que nos proporciona”, avança referindo, no entanto, que, caso se suspeite de “doença venosa mais proximal, nomeadamente de oclusão crónica do sector ilio-cava ou de insuficiência venosa pélvica, é fundamental a realização de Veno TC para clarificar o diagnóstico”. E quanto mais cedo este chegar, mais cedo se pode intervir e evitar as complicações associadas à doença, sublinha o especialista.

No que diz respeito ao tratamento, Gonçalo Cabral esclarece que este tem por base a terapia compressiva, através do uso de meias elásticas. “Uma vez que a fisiopatologia da doença venosa crónica tem por base a hipertensão venosa, a compressão extrínseca do sistema venosa superficial pela meia elástica vai reduzir a estase venosa, reduzir os sintomas, abrandar a dilatação progressiva das veias e o aparecimento de novas veias varicosas, bem como minimizar as complicações”, explica.

Contudo, só a cirurgia pode eliminar as veias varicosas. “Nos casos em que as varizes se relacionam com a existência de refluxo nas veias safenas, mais de 90% podem ser tratados por técnicas minimamente invasivas, mais frequentemente, por ablação térmica (laser endovenoso ou radiofrequência)”, revela.

De acordo com o Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardíaca Torácica e Vascular, as técnicas de ablação térmica são realizadas através da punção da veia por controlo ecográfico. “É introduzida uma fibra de radiofrequência ou laser no interior da veia e a extremidade distal dessa fibra é posicionada no segmento proximal da veia que se pretende tratar. De seguida, e mais uma vez com a ajuda do ecógrafo, é efetuada uma anestesia de tumescência. Ou seja, é injetado soro arrefecido com fármacos anestésicos ao longo de todo o comprimento da veia. Este procedimento permite um maior conforto analgésico do doente no pós-operatório e impede que o calor que irá destruir a veia se transmita aos tecidos adjacentes”, descreve referindo que com este tratamento o doente pode ter alta no próprio dia. 

Nos casos em que estas técnicas não possam ser utilizadas, seja por questões anatómicas, complicações trombóticas prévias ou recidiva de varizes, é necessário recorrer à cirurgia convencional, “que consiste na remoção das veias afetadas através de incisões”.

“Por último, existem fármacos venoativos, que, atuando no endotélio das veias e na sua parede, podem levar à melhoria dos sintomas de doença venosa crónica e reduzir a progressão da doença”, acrescenta.

Quanto não diagnosticada ou tratada adequadamente, a Doença Venosa Crónica, que pela sua história natural “é caracterizada por um aumento da quantidade e calibre das varizes”, pode dar origem a complicações como o aparecimento de coágulos nas veias superficiais dos membros inferiores, quadro designado por tromboflebite.

Por outro lado, refere o especialista, “com o passar do tempo a própria pele começa a sofrer alterações, nomeadamente da sua pigmentação e textura, tornando-se mais espessa, descamativa e escura, culminando, ao fim de anos em úlceras varicosas. Embora mais raramente, podem também ocorrer roturas de varizes com hemorragia”.

Deste modo, Gonçalo Cabral alerta para a necessidade de estarmos atentos aos sinais, já que “o diagnóstico atempado e o seu tratamento reduzem significativamente os sintomas de doença venosa crónica, nomeadamente a dor, cansaço, peso e edema dos membros inferiores, com resultados mensuráveis em vários questionários de qualidade de vida”.

“A adoção de estilos de vida saudáveis, a prática de exercício físico regular, o controlo do peso, assim como o uso de meias de contenção elástica, podem ajudar a retardar o aparecimento da doença e atrasar a sua evolução”, sublinha em matéria de prevenção.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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