Opinião

16 de abril. A data que mudou o futuro dos doentes com estenose aórtica

Atualizado: 
14/04/2022 - 15:09
Dia 16 de abril é um dia marcado por mais um avanço na medicina no século 21. Ao recuarmos 20 anos, deparamo-nos com uma página decisiva na área da cardiologia. Em 2002, Alain Cribier, em Rohen, tratou com sucesso um doente de 57 anos com estenose valvular aórtica severa, em choque cardiogénico e sem condições para cirurgia cardíaca.

Foi colocada através de um acesso vascular periférico (reconhecida a partir desse momento em todo o mundo por TAVI - Transcatheter Aortic Valve Implantation) a primeira válvula artificial aórtica. Nesta altura, este foi um feito incrível e a descoberta levou a um rápido desenvolvimento na indústria dos dispositivos médicos.

Em Portugal, o mesmo procedimento foi realizado em 2007, no Hospital de Gaia, pelo Dr. Vasco da Gama Ribeiro e a sua equipa.

Desde então, a adoção deste procedimento tem tido cada vez mais expressão. Nos últimos 15 anos, foram realizadas mais de cinco mil intervenções em Portugal, com metade destas a serem realizadas nos últimos 3 anos, o que representa o crescimento desta atividade nos últimos anos, culminando com o grande crescimento que se registou na era da covid-19, com um número recorde de intervenções em 2021.

Segundo o Registo Nacional Valvular da Cardiologia de Intervenção foram feitas no ano passado em Portugal 1.196 intervenções valvulares transcateter, a esmagadora maioria de forma minimamente invasiva por acesso femoral e com uma taxa de sucesso superior a 98%. Foram tratadas mais mulheres do que homens e a média de idade foi de 81 anos. A esmagadora maioria da intervenção corresponde a TAVI.

A nível mundial, foram implantadas cerca de 250.000 TAVI em todo o mundo no ano passado e espera-se que o número duplique em apenas 2 anos.

Estima-se que mais de 30.000 pessoas sofram de estenose aórtica em Portugal e que uma importante fatia destes doentes tenha indicação para tratamento, devendo o nosso Sistema Nacional de Saúde garantir a acessibilidade ao melhor tratamento, quer seja por TAVI ou não.

Este é um problema de saúde com grande expressão nos países de maior esperança de vida, pois afeta sobretudo as pessoas a partir dos 65 anos. Esta informação torna-se especialmente relevante se pensarmos no facto de que quase 25% da nossa população está acima desta idade.

Antes de existir a TAVI, os doentes com estenose aórtica eram frequentemente recusados para cirurgia devido à idade avançada ou aos problemas de saúde que aumentavam o risco da cirurgia. Devido a isto, cerca de 1/3 dos doentes ficava sem qualquer tratamento e, por isso, sujeito a morrer precocemente (80% mortalidade aos 3 anos). Assim, o que se assistiu em todo o mundo

não foi uma competição entre a cirurgia e a TAVI, mas sim uma oferta de tratamento complementar para ajudar o maior número de doentes.

 

Autor: 
Dr. Marco Costa - Cardiologista de Intervenção; Presidente da Comissão Científica e Organizadora da Reunião Anual VaP-APIC
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock