SPO esclarece

10 mitos sobre a saúde ocular infantil

Atualizado: 
01/06/2021 - 09:55
Para assinalar o Dia Mundial da Criança, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) elaborou 10 mitos acerca da saúde ocular dos mais pequenos.
  1. Até a criança falar, não é preciso ir ao oftalmologista.

Existem exames simples, capazes de quantificar a visão nos bebés desde tenra idade, como por exemplo o teste do olhar preferencial em que, através do interesse demonstrado pelo bebé por padrões de riscas com larguras diferentes, se consegue obter o valor da acuidade visual de cada um dos olhos. Para cada idade existem, nas consultas de oftalmologia, testes adaptados com complexidade crescente até às escalas de visão dos adultos. É crucial o exame dos olhos nos primeiros dias de vida pelo mé dico Assistente, um rastreio de erros refrativos entre os 2 e os 3 anos de idade e uma consulta de Oftalmologia em qualquer idade em que se suspeite de alterações oculares ou dificuldades visuais.

  1. As crianças não podem usar óculos de sol.

As medidas que se aplicam à proteção da pele estendem-se à proteção ocular: evitar a exposição direta ao sol entre as 11h e as 15h, no verão ou onde houver maior radiação. Os óculos de sol não são obrigatórios, mas ao escolher uns para os seus filhos, certifique-se de que as lentes têm filtro UV (ultravioleta) próximo dos 100% e que são de boa qualidade ótica (sem distorção) - nunca devem estar riscadas ou com falhas. A cor escura não é sinónimo de maior proteção! A luz natural é aliada de uma boa saúde ocular, mas com precauções. Usar um chapéu de abas largas também ajuda.

  1. Ler dentro de um veículo em movimento é perigoso para os olhos.

Qualquer focagem em movimento implica um esforço acrescido porque é constante a necessidade de fixação/refixação do objeto que não está fixo, seja um livro, um tablet ou qualquer outro. Não sendo necessariamente perigoso, algumas crianças podem sentir-se enjoadas, irritadas ou com dor de cabeça, sendo desaconselhada a leitura nestas circunstâncias.

  1. Os ecrãs fazem mal aos olhos.

Os dispositivos digitais quando bem utilizados podem ser importantes ferramentas educativas e de lazer. É importante vigiar os conteúdos apresentados para estarem de acordo com o escalão etário e monitorizar o tempo de uso.  O uso não regrado e muito perto dos olhos pode levar a queixas de cansaço visual, de olho seco e de perturbação da focagem. Assim, devem ser instituídos períodos regulares de pausa como a regra dos 20/20/20, que quer dizer, a cada 20 minutos, um mínimo de 20 segundos de pausa a uma distância não inferior a 20 pés (6 metros).

  1. Os olhos mais claros sofrem mais com a luz.

A cor clara dos olhos é determinada pela quantidade de pigmento presente na íris (“menina dos olhos”), sendo maior nos tons mais escuros, o que teoricamente confere maior proteção. No entanto, a sensibilidade à luz é condicionada por vários fatores que não dependem da presença de pigmento como a existência de erros refrativos (de focagem) como o astigmatismo, o tipo de lubrificação, o tamanho das pestanas e o formato dos olhos. Assim, sensibilidade à luz varia de pessoa para pessoa.

  1. O estrabismo na criança cura-se automaticamente à medida que a ela cresce.

Não é verdade: qualquer alteração do alinhamento dos eixos visuais, mesmo que não permanente, presente após os seis meses de idade não é normal e a criança deve ser observada em consulta. Por outro lado, há formas de estrabismo que aparecem mais tarde, nomeadamente as que estão associadas ao esforço acomodativo (de focagem), que tipicamente surgem pelos 3-4 anos de idade, em crianças até aí sem qualquer alteração aparente. O tratamento do estrabismo é diferente conforme o tipo de apresentação, as características do mesmo e a idade de aparecimento, podendo englobar medidas médicas como o uso de óculos ou de oclusão (“tapar”) e medidas cirúrgicas. Mais do que existir uma “cura” simples, o tratamento do estrabismo é um processo de reabilitação exigindo um trabalho em conjunto do oftalmologista, da criança e dos pais.

  1. É natural as crianças coçarem os olhos.

Natural é, mas isto não significa que seja benéfico! Coçar os olhos de maneira repetitiva constitui um traumatismo físico que pode levar ao adelgaçamento e deformação da córnea (parte transparente do olho que se situa à frente da íris) e condicionar o aparecimento de queratocone na adolescência ou início da idade adulta. Adicionalmente o coçar podem induzir inflamação ocular e mesmo infeção, quando as mãos são portadoras de agentes infeciosos. Assim, apesar do estímulo que as crianças, nomeadamente as que sofrem de alergias, sentem, o coçar dos olhos deve ser desincentivado.

  1. As crianças não podem usar lentes de contacto.

A primeira ferramenta na correção das perturbações da focagem (erros refrativos) nas crianças são os óculos com lentes graduadas. No entanto, em caso selecionados as lentes de contacto também são uma opção, podendo ser adaptadas em qualquer idade. O uso de lentes de contacto neste escalão etário exige maior vigilância pelo oftalmologista e uma monitorização contínua diária por parte dos pais.

  1. Lacrimejar é comum e normal nos mais novos.

A obstrução do canal nasolacrimal (que leva as lágrimas do olho ao nariz) é frequente nos bebés, acabando por se resolver nos primeiros meses de vida na grande maioria dos casos só com recurso a massagem no canto interno do olho. No entanto, na presença de lacrimejo constante que condicione episódios repetidos de infeção ocular (conjuntivite) e/ou na ausência de resolução até aos 6 meses, o bebé deve ser observado por um oftalmologista.

  1.  Devemos poupar os olhos das crianças.

Errado - devemos cuidar dos olhos dos nossos filhos, sempre com a ajuda do Oftalmologista!

 

Autor: 
Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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