OMS considera “inadequados” esforços para acabar com violência doméstica
“Apesar do aumento do foco global à violência perpetrada contra as mulheres e raparigas e os recentes avanços no conhecimento sobre como travar os abusos, os níveis de violência contra as mulheres - incluindo a violência íntima do parceiro, o estupro, a mutilação genital feminina, o tráfico, e os casamentos forçados - permanecem inaceitavelmente elevados, com graves consequências para a saúde física e mental das vítimas”, afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em comunicado hoje publicado na sua página na Internet, a agência da ONU, que cita um estudo recente da revista Lancet, refere que “uma em cada três mulheres foram vítimas de violência física ou sexual, e que 7% destas vai passar por uma situação idêntica na sua vida”.
Assinalando que os conflitos e crises humanitárias podem exacerbar a violência em curso, a OMS estima que, a nível mundial, entre 100 e 140 mil mulheres e raparigas, foram submetidas à excisão feminina, com mais de três milhões de jovens raparigas em risco de serem submetidas a estas práticas anualmente.
“Cerca de 70 milhões de raparigas no globo casaram-se antes dos 18 anos e muitas delas contra a sua vontade”, assinala o documento, em que apela para a necessidade de se “adoptar um plano global para fazer face à crise oculta da violência às mulheres”.
A OMS afirma que, mesmo em países onde as leis são progressivas, muitas mulheres continuam a ser discriminadas e a ter dificuldades de acesso aos serviços de saúde e jurídicos.
“A violência é frequentemente vista como um problema de justiça social e criminal, e não como um problema de saúde público de clínico, mas o sistema de saúde ainda desempenha um papel crucial no tratamento tanto das consequências da violência e na prevenção”, defende a OMS.
A coordenadora de pesquisa contra a violência doméstica da OMS, em Genebra, Claudia Garcia-Moreno, afirmou que “os profissionais de saúde são muitas vezes o primeiro ponto de contacto para mulheres e raparigas vítimas de violência”.
Por isso, assinalou, “a identificação precoce de mulheres e crianças vítimas de violência e uma resposta favorável e eficaz” visando “melhorar a vida e o bem-estar das mulheres, e ajudar-lhes no acesso a serviços vitais”.
No caso de Portugal, no início deste mês, e por ocasião das III Jornadas Nacionais Contra a Violência Doméstica e de Género, a secretária de Estado da Igualdade, Teresa Morais, afirmou que a comunidade deve despertar para o problema da violência doméstica e denunciar estes casos, que constituem “uma grosseira e grave violação” dos direitos humanos. Na mesma ocasião, Teresa Morais lembrou as mulheres assassinadas em contexto familiar em Portugal, que este ano já eram 32.
Citando os dados do Relatório Anual da Segurança Interna, a secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade referiu ainda que, em 2013, houve 40 homicídios conjugais, dos quais 30 foram de mulheres.