Colégio de saúde pública não consultou todos os membros antes de divulgar parecer
De acordo com Francisco George, que falava durante uma audição na Comissão Parlamentar de Saúde, houve elementos do colégio da especialidade de saúde pública que já solicitaram uma reunião daquele órgão para avaliar o documento, que foi publicado no site da Ordem dos Médicos.
Nesse documento, assinado por Pedro Serrano, da direcção do colégio da especialidade de saúde pública, e noticiado, os especialistas consideram que “o risco teórico de virmos a ter casos de Ébola em Portugal é alto” e que isso está “fortemente associado ao posicionamento de Portugal como país integrante daquilo que se convencionou chamar Países de Língua Oficial Portuguesa”.
Os especialistas fazem ainda uma contextualização das relações, geográficas e humanas de vizinhança dos três países onde grassa a epidemia (Serra Leoa, Guiné-Conacri e Libéria) e os países lusófonos com permanente ligação a Portugal: Guiné-Bissau, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e, mais remotamente (em termos de risco de exportação), Moçambique.
“Dadas as antigas e fortíssimas relações de proximidade e de actual plataforma giratória entre este grupo de países, nenhum outro país europeu está tão em risco de ser contaminado do exterior, a partir dos grandes centros de foco da doença em África, como Portugal”, refere o parecer publicado no site da Ordem dos Médicos.
O documento sublinha os sistemas da saúde frágeis destes países, considerando “praticamente inexistente” a “vigilância epidemiológica” (particularmente a de nível local).
Os especialistas defendem ainda que é “evidente e urgente que seja montada, implementada ou reforçada em Portugal uma apertada vigilância dos aeroportos e portos, o que incluiria uma presença permanente de estruturas de Saúde Pública e a formação em medidas de Saúde Pública do pessoal aeroportuário que controla a entrada de passageiros”.
“Seria também importante criar uma base de dados com os portugueses que residem nestes e noutros países de África considerados de risco, de molde a conseguir monitorizar as deslocações entre zonas de risco e a fazer-lhes chegar informação sobre as medidas a adoptar para a sua segurança”, acrescentam.
No parecer, os especialistas do colégio de saúde pública consideram ainda que Portugal não está preparado para lidar com o vírus do Ébola e que as autoridades têm emitido “mensagens de enganosa tranquilidade”.
Os mais recentes dados apontam para o registo de 8.917 casos, dos quais 4.447 se revelaram mortais, sendo a Libéria, Serra Leoa e a Guiné-Conacri os países mais afectados pelo pior surto de Ébola.