Equipa no Instituto de Medicina Molecular

Portugueses estão a desenvolver uma vacina contra a malária

Uma vacina contra a malária está a ser concebida por portugueses desde 2010.

Miguel Prudêncio, investigador e líder de uma equipa no Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, recebeu 100 mil dólares da Fundação Bill & Melinda Gates depois de concorrer a um financiamento de Fase I do programa Grand Challenges Explorations. Agora, passados três anos, o investigador volta a ser premiado pela fundação, desta vez com 902 mil euros, para continuar o projecto. Se tudo correr bem, daqui a dois anos começarão os primeiros ensaios clínicos em humanos para testar uma candidata a vacina, cuja ideia nasceu em Portugal, avança o jornal Público.

O conceito de Miguel Prudêncio é simples. É preciso um parasita da malária de roedores, que não causa a doença em humanos, mas interage o suficiente com o sistema imunitário para provocar a imunização. Depois, é preciso inserir um gene do parasita humano no parasita de roedores, para criar uma imunização dirigida à malária humana. A ideia funcionou. O novo financiamento da fase II vai servir agora para fazer as últimas experiências preliminares, desenvolver um método de produção in vitro do parasita de roedores e vai ajudar a fazer a aplicação do pedido para a realização de ensaios em humanos na Holanda. Miguel Prudêncio está esperançoso, mas o investigador sabe que ainda há muitos desafios para ultrapassar, ou não fosse esta uma doença muito complexa.

O parasita da malária começa por se multiplicar no fígado e vai depois para o sangue, onde causa os sintomas. A única vacina que funcionou até hoje, testada na década de 1970, utilizou parasitas atenuados por radiação, que entravam nas células do fígado, mas não conseguiam multiplicar-se. Esta técnica foi aplicada a militares norte-americanos, que tinham de ser picados pelos mosquitos, um método impossível de ser massificado, mas que resultava. Os soldados quando eram depois infectados pelo Plasmodium falciparum – a espécie de parasita que causa a malária mais violenta – não ficavam doentes.

Sabe-se hoje que a fase no fígado provoca a activação do sistema imunitário do hospedeiro humano. A proteína circunsporozoito, que durante este estádio do parasita preenche a sua membrana externa, é a principal responsável pela imunização. Infelizmente, durante a infecção natural da doença, há algo que impede o desenvolvimento da imunidade observada nos militares americanos. “Pensa-se que durante a fase da doença no sangue haja algo que destrua o processo de imunidade, que foi desenvolvido durante a fase do fígado”, diz Miguel Prudêncio ao PÚBLICO. É mais um dos mistérios da malária.

Fonte: 
Público Online
Nota: 
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