Só uma em cada 10 empresas faz acções de prevenção
O estudo, que analisa as políticas de prevenção e controlo do consumo de álcool e drogas no local de trabalho, conclui ainda que apenas duas em cada 10 empresas têm regulamentos sobre o consumo destas substâncias.
A investigação, que tem como base as respostas de 6.817 trabalhadores e pessoas temporariamente desempregadas ou de baixa médica (15-64 anos) recolhidas no âmbito do III Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral 2012, revela que 87,6 por cento das empresas não fazem acções de prevenção ou tratamento de problemas relacionados com álcool e drogas.
A investigação, promovida pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e das Dependências (SICAD), analisou o consumo diário de tabaco, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de medicamentos no último mês e o uso de substâncias ilícitas no último ano.
O estudo, que introduz pela primeira vez a análise dos consumos na população laboral, conclui ainda que em apenas 21 por cento das empresas existem regulamentos sobre o uso de álcool ou drogas no local de trabalho.
A investigação dá ainda conta da inexistência de análises para a detecção de consumo de álcool em 90,2 por cento das empresas e de drogas ilícitas em 93,8 por cento dos locais de trabalho.
Nas empresas em que as análises são feitas, a maioria ocorre de forma irregular (em cerca de 41 por cento dos casos).
Vanda Cruz, responsável da União Geral de Trabalhadores (UGT) pela segurança e saúde no trabalho, considera que existe "um vazio legal" na realização dos testes de detecção de álcool que é preciso preencher com regulamentos que garantam sigilo aos trabalhadores.
Em declarações à margem da apresentação do estudo, a responsável adiantou que a UGT está a iniciar negociações com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) para um regulamento sobre esta matéria a incluir na contratação colectiva.
Uniformizar os níveis de alcoolemia aceitáveis para cada actividade e definir quem pode fazer os testes são algumas das questões que a UGT quer ver consagradas no regulamento, que deverá garantir sempre o direito dos trabalhadores ao sigilo e à privacidade.
O estudo, elaborado pelo Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, conclui que o consumo destas substâncias é maior entre a população laboral, quando comparada com a população geral.
Revela ainda que o consumo de tabaco e de drogas ilícitas é mais frequente na faixa etária entre os 15-34 anos, enquanto o álcool e os medicamentos são sobretudo consumidos pela população entre os 35 e os 64 anos.
Em relação ao tabaco, fumam mais os desempregados homens, solteiros ou divorciados, os quadros superiores, os trabalhadores não qualificados dos sectores primário e secundário e os agricultores, e menos os especialistas das profissões científicas e militares.
Entre as mulheres, são as trabalhadoras dos serviços e vendas e administrativas que mais fumam.
O consumo excessivo de álcool regista-se sobretudo nos trabalhadores não qualificados dos sectores da agricultura, construção, indústria e serviços, mas também nos quadros superiores.
Os medicamentos são consumidos sobretudo por trabalhadoras mulheres não qualificadas dos sectores da construção, indústria e serviços, com mais de 15 anos se serviço, separadas, divorciadas ou viúvas.
Relativamente às substâncias ilícitas, o consumo é mais frequente nos homens e nas mulheres jovens adultos, com ensino superior (homens) e secundário (mulheres), e ainda nos técnicos de nível intermédio e mulheres de profissões científicas.
Os homens solteiros e as mulheres separadas, divorciadas ou viúvas registam também maiores consumos.