Molécula em doença parasitária com cancro e infertilidade
Mónica Botelho, cientista do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, no Porto, disse hoje à agência Lusa que a conclusão deste trabalho se refere “à presença e tipo de moléculas que são electrofílicas, ou seja, têm a capacidade de se ligarem a bases de ADN e provocarem lesões” que, se não forem reparadas, podem levar a mutações associadas a cancro ou à infertilidade.
“Queríamos tentar encontrar um bom marcador de prognóstico, porque o diagnóstico podemos fazê-lo facilmente”, disse a investigadora, acrescentando que o próximo passo é perceber se, ao encontrar estas moléculas que provêm do parasita, é possível usá-lo, “não tanto como diagnóstico, mas como prognóstico”, através de uma análise à urina dos doentes.
Assim, os especialistas poderão tentar perceber se os indivíduos com mais ou menos quantidade destas moléculas do metabolismo dos estrogénios “estarão em risco acrescido de ter, por um lado, cancro de bexiga e, por outro, infertilidade”, avançou Mónica Botelho.
A investigadora salientou que nem sempre os indivíduos infectados têm este marcador, mas ele só aparece em pessoas infectadas com pelo parasita schistosoma, na base da esquistossomose.
Os cientistas vão usar o modelo da infecção por schistosoma para estudar o cancro da bexiga e a infertilidade. "Precisamos de bons modelos para estudar os mecanismos, a resposta a medicamentos, as vias de sinalização e este está a tornar-se um bom modelo para estudar cancro e infertilidade", referiu Mónica Botelho.
“O problema inicial surgiu quando percebemos que esta doença, a schistosomose, ou infecção pelo parasita do schistosoma, mais precisamente o hematobium, estaria, além de associado a cancro de bexiga, também a infertilidade em regiões onde é endémico”, como Angola, explicou.
A esquistossomose- ou schistosomose - é mais frequente em África e na América do Sul e o parasita que mais aparece nos países africanos é o schistosoma hematobium, associado a cancro de bexiga e agora também a infertilidade.
Na América do Sul, aparece mais o parasita schistosoma mansoni, que não está associado a cancro, mas, quando associado a infertilidade, "a infecção vai ter uma importância maior", segundo a cientista do INSA.
O estudo teve a participação de investigadores em Angola e nos Estados Unidos, da Universidade de George Washington, além de Mário Sousa, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), e de Alberto Barros, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, especialistas de infertilidade, e foi divulgado na publicação especializada Plos One.