Semana Europeia da Vacinação

Adultos com mais de 50 anos não se vacinam contra pneumonia

Na Semana Europeia da Vacinação nasce um alerta nacional para a prevenção em idade adulta. Médicos apoiam esta sensibilização

Foi uma viagem à Ásia que levou Rui Ribeiro, 36 anos, a tomar a vacina contra o tétano recomendada a adultos em Portugal. Julgava que era necessário tomar vacinação específica, contra a malária, mas estava enganado. "Na Consulta do Viajante, no Porto, disseram-me que não era preciso mas verificaram que tinha a vacina do tétano em atraso. E foi assim que acabei por me vacinar", contou ao DN. Rui é um caso de um adulto que se esqueceu das recomendações, apesar de confiar no sistema de vacinas.

Esta é a situação que mais se aplica aos portugueses em geral, em que a vacina do tétano e difteria é recomendada para os adultos, com a situação a atingir também os grupos de risco e as suas vacinas. Por isso, nesta Semana Europeia da Vacinação, que decorre entre hoje e sexta-feira, sob o lema "Vaccines work" (As vacinas funcionam), a Associação Respira juntou-se à Fundação Portuguesa do Pulmão e ao GRESP - Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar para lançar o Movimento Doentes pela Vacinação. O objetivo é "alertar, informar e orientar os interessados sobre o tema", sabendo que em Portugal nove em cada dez adultos com mais de 50 anos não estão vacinados contra a pneumonia.

Os dados são de um estudo de 2016 sobre a pneumonia em adultos mais velhos. Desde 2015, uma norma da Direção-Geral da Saúde recomenda a vacinação de grupos de adultos com risco acrescido de contrair doença invasiva pneumocócica mas, diz a Associação Respira, muitos doentes não têm conhecimento disso. A Respira agrupa pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e outros problemas respiratórios. São eles que agora partem para a sensibilização da população. "As pessoas não atribuem uma grande importância à prevenção que é feita com vacinas. Há certos grupos, como o nosso de doentes com problemas respiratórios, que são vulneráveis. A vacina pode fazer a diferença", explicou ao DN Isabel Saraiva, vice-presidente da Respira e fundadora do Movimento Doentes pela Vacinação.

A vacina antipneumocócica não tem custos para pessoas que o médico considere essencial que sejam imunizadas. Além dos doentes respiratórios, grupos de alto risco como portadores de HIV, pessoas com linfomas, ou que tenham retirado o baço, estão entre os que têm direito à vacinação sem custos. "Todas as pessoas podem tomar a vacina, terá custos mas é comparticipada", diz Isabel Saraiva.

Os médicos aprovam a aposta dos doentes em alertar a sociedade, mas pedem a validação pelo profissional. "A vacina previne a doença. As pessoas devem sempre dirigir-se ao médico que indicará se deve vacinar-se", afirma António Araújo, presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão. O médico, que preside à secção Norte da Ordem dos Médicos, aplaude a iniciativa da Respirar e considera que a vacinação dos adultos perdeu força com o desenvolvimento da medicina. "As doenças infecciosas foram diminuindo de prevalência e as pessoas acabam por descurar. Muitos adultos falham a vacina do tétano por esquecimento mas ela é importante e previne doenças fatais. Nos grupos de risco, como é o caso dos vulneráveis à pneumonia, a vacina previne internamentos e problemas graves", diz o professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

António Araújo realça que "é fundamental vacinar", consciente do movimento que existe, a nível internacional, a defender a não vacinação - esta foi uma questão que ganhou relevo nas últimas semanas devido ao surto de sarampo que atingiu a Europa [em Portugal há 21 casos confirmados e 15 em investigação, e uma morte] e em que uma elevada percentagem de quem apanhou a doença não estava vacinado.

"Deve-se ao facto da diminuição de incidência de certas doenças e de se basearem em argumentos não científicos. Tomam a decisão de não se vacinar e isso tem riscos. Acabam por surgir surtos de doenças", considera, apontando que a mobilidade no mundo faz aumentar o risco.

Mobilidade gera desafios

Por isso, Ricardo Mexia, especialista em saúde pública no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, afirma que "não podemos baixar a guarda, é preciso manter um sistema de vigilância proativo" no campo da vacinação. "Os vírus e agentes patológicos não têm fronteiras. A mobilidade hoje é rápida e mais fácil, colocando desafios relevantes", aponta o médico, sem querer, por agora, entrar na discussão da obrigatoriedade da vacinação, equacionada por alguns com o surto de sarampo que causou a morte de uma jovem. "Não é o momento para discutir a obrigatoriedade. É preciso serenidade e olhar para as evidências . A Roménia tem vacinas obrigatórias e está a lidar com mais de quatro mil casos de sarampo. Em França criaram-se subsídios para mais vacinação mas veio a comprovar-se que esse sistema prejudicava as classes mais baixas", justifica.

Para o Movimento Doentes pela Vacinação, o mais importante é chegar às pessoas. "O que se pretende é levar informação às pessoas. Isto será o início, queremos juntar mais instituições e fomentar a participação dos médicos. As pessoas estão pouco informadas. Mesmo no caso de quem está recomendado e pertence aos grupos de alto risco, logo, com acesso gratuito à vacina, as taxas de vacinação são extremamente baixas", diz Isabel Saraiva.

Na Semana Europeia da Vacinação, a OMS refere que a vacinação deve ser ao longo de toda a vida, entre a infância, adolescência e idade adulta. O objetivo é afirmar que as vacinas funcionam e têm salvado milhões de vidas.

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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