Acompanhamento das pessoas com doença mental é “insuficiente”
A execução prática do Plano Nacional de Saúde Mental tem sido “francamente insuficiente, sobretudo no que diz respeito à reabilitação psicossocial de pessoas com doença grave”. A conclusão está contida num estudo desenvolvido na Universidade de Coimbra e não surpreendeu o director do programa, Álvaro de Carvalho, que, em declarações ao jornal Público Online, reconheceu que a reabilitação de doentes graves continua à espera dos cuidados continuados de saúde mental. “Fizemos toda a regulamentação, mas ainda não houve orientações da tutela no sentido de os cuidados continuados avançarem”, declarou.
“Os cuidados continuados farão toda a diferença em termos de reabilitação psicossocial, inclusivamente porque criam o apoio domiciliário e respostas diferenciadas para crianças e adolescentes”, acrescentou Álvaro de Carvalho, dizendo-se confiante na determinação do Governo em fazer avançar estas respostas.
Ao fim de quatro anos, a autora do estudo, Carina Teixeira, não detectou “diferenças significativas” entre pessoas com doença mental incluídas em programas de reabilitação e pessoas com doença mental sem qualquer acompanhamento psicossocial”. Acresce que os serviços de reabilitação portugueses caracterizam-se “salvo poucas excepções, por contextos educacionais, ocupacionais e habitacionais segregados”, conforme se lê no comunicado divulgado esta segunda-feira. Trata-se de um modelo “obsoleto”, segundo a investigadora, porque “nem favorece a integração comunitária” nem “a recuperação dos doentes”.
A estigmatização dos doentes com esquizofrenia consubstancia outra das críticas contidas neste estudo. Que aponta o dedo acusador aos profissionais de saúde, os primeiros a subestimar “as capacidades das pessoas com doença mental, acabando por lhes transmitir mensagens de desesperança que afectam a sua luta pela recuperação e pelo alcance dos objectivos pessoais”.