Unidos pela necessidade de um sistema de saúde que coloque o doente no centro dos cuidados
Este memorando envolve várias áreas, como a formação, referenciação, a promoção da saúde e a prevenção das doenças, as normas de orientação clínica e a investigação , entre outras.
Questões como o excessivo recurso às urgências, o sobrediagnóstico, o sobretratamento e as consequências para a saúde dos fenómenos climatéricos extremos vão motivar a criação de um grupo de trabalho conjunto, que irá fazer propostas sobre a gestão do doente agudo, estando prevista a apresentação de recomendações até ao fim do primeiro semestre do ano.
Tanto a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) como a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) consideram ser “muito fragmentados, reativos e centrados na doença” os cuidados prestados aos doentes crónicos, sendo “fundamental mudar este paradigma”, pelo que as duas organizações pretendem “exigir mais incentivos na contratualização e mais investimento para a implementação das reformas de proximidade”. Temos que garantir a continuidade de cuidados através de uma verdadeira integração entre os vários níveis de cuidados. E a Medicina Geral e Familiar e a Medicina Interna são nucleares para assumir essa integração, dentro e fora dos hospitais”, explica Luís Campos, presidente da SPMI.
Rui Nogueira, presidente da ANMGF, concorda e salienta a existência “de uma política de referenciação muitas vezes cega. Precisamos de uma maior proximidade, de uma integração dos cuidados, para que o doente seja o elemento de maior valor nestas andanças de um lado para o outro, dos centros de saúde para os hospitais e destes para os centros de saúde de novo”.
O progressivo “envelhecimento da população”, a que se junta a “agudização das doenças crónicas”, reforça, garante Rui Nogueira, a necessidade de uma relação privilegiada entre as duas especialidades, que se quer fazer também sentir ao nível da formação médica. Por isso, aumentar a cooperação na área da formação, assim como a referenciação entre especialidades, são dois outros dos objetivos deste entendimento.
“O que queremos é fazer do doente o centro dos cuidados”, reforça Luís Campos. “Outros dos aspetos importantes é a prevenção da doença, que tem sido negligenciada. Oitenta por cento dos casos de AVC e diabetes e 40% dos cancros podem ser prevenidos com uma mudança nos comportamentos de risco. É preciso que haja um investimento nesta mudança, assim como no aumento da literacia em saúde e temos que aproveitar todas as oportunidades para o fazer, dentro e fora dos hospitais.”
O alerta dos decisores políticos e do público em geral para a necessidade de uma integração entre a saúde e a assistência social é outros dos passos a dar em conjunto, tanto mais que a “APMI e a APMGF consideram que os dois tipos de necessidades estão cada vez mais interligadas e os serviços de medicina hospitalares, em particular, estão transformados em verdadeiros centros de decisão dos problemas sociais dos doentes, vendo acumular-se o número de doentes que permanecem internados apenas por motivos sociais”.
O Memorando de Entendimento será assinado no dia 28 de março, numa cerimónia no Auditório da Universidade Nova de Lisboa, que vai contar com um debate sobre os desafios que se colocam às duas especialidades e aos serviços de saúde nacionais, contando com nomes como Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, António Vaz Carneiro, internista e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, Maria de Belém Roseira, ex-Ministra da Saúde, Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos e Victor Ramos, médico de Medicina Geral e Familiar e professor convidado da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa.