Alerta do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

Portugal precisa de maior articulação entre a emergência pré-hospitalar, os Serviços de Urgência e as Unidades de AVC

Portugal precisa de uma articulação estreita entre o sistema de emergência pré-hospitalar (Vias Verdes), os Serviços de Urgência e as Unidades de AVC, defende Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna por ocasião do Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala a 31 de março.

Existem dois indicadores importantes de qualidade no tratamento do AVC agudo que são a percentagem de admissões nas Unidades de AVC (UAVC) e a percentagem de admissões através da Via Verde. Segundo os dados da Direção-Geral da Saúde, apenas 62% dos doentes admitidos nos hospitais por AVC são admitidos em Unidades de AVC e menos de 50% (cerca de 43% na média dos últimos 3 anos) dos doentes admitidos na Unidade de AVC são admitidos através da Via Verde.

“Impõem-se planos de reestruturação da urgência e das redes de referenciação do AVC. Impõe-se uma atualização das condições de funcionamento das unidades de AVC e da respetiva hierarquização para efeitos de referenciação, para que o doente certo vá para o centro certo”, afirma Maria Teresa Cardoso, internista e coordenadora do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral (NEDVC).

“De facto está a começar uma nova era no tratamento do AVC agudo e para o maior número de doentes beneficiar dela, é preciso encurtar o tempo desde o início dos sintomas até à realização da terapêutica de reperfusão. Reconhecer o AVC e ligar o 112 é o passo certo nesse sentido”, observa a internista.

Nos últimos anos ocorreu uma redução expressiva do número de óbitos por doença vascular cerebral em Portugal. Também a mortalidade intrahospitalar por AVC isquémico tem vindo a diminuir, apesar de cada vez se morrer mais no hospital e menos no domicílio. No entanto, a taxa de mortalidade por DVC em Portugal continua muito acima da média europeia e esta patologia encontra-se em primeiro lugar como a doença associada a maior produção hospitalar segundo os dados da DGS (Doenças Cérebro-cardiovasculares em números - 2015).

Maria Teresa Cardoso refere ainda que “atualmente está a acontecer uma grande viragem no tratamento dos doentes com acidente vascular isquémico. Dispomos da trombectomia (retirada do trombo por métodos mecânicos) até às 6 h, com grande eficácia na reperfusão do vaso e independência do doente aos 90 dias. Mas esta terapêutica só se aplica a um determinado grupo de doentes com AVC isquémico e só está disponível nos grandes centros. Tal como acontece com a trombólise, o tempo é determinante no sucesso do procedimento e na sobrevida do doente com autonomia. À medida que o tempo passa, a elegibilidade do doente para terapêutica endovascular aproxima-se de zero”.

Assim, “colocar o doente certo no hospital certo com a equipa certa resultará num maior número de doentes elegíveis para este tratamento específico. O objetivo ultimo é aumentar a percentagem de doentes a fazer trombólise e intervenção endovascular”, explica a especialista.

O NEDVC considera que assumem particular relevância neste domínio, fatores de educação na saúde, como o reconhecimento pela população dos sinais de alarme do AVC, o seu entendimento como uma situação potencialmente ameaçadora de vida e da disponibilidade de meios específicos de auxílio ao acionar a Via Verde do AVC, chamando o 112.

Reconhecer os sinais de alerta e chamar de imediato o 112 é crucial para o doente poder usufruir do melhor tratamento e ter maior probabilidade de ficar autónomo. Boca ao lado, dificuldade em falar e perda de força no braço, ou num dos lados do corpo, são os sinais de alerta que não podem ser ignorados nem menosprezados.

Fonte: 
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Nota: 
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