Médicos de família importantes no diagnóstico precoce das doenças autoimunes
A cidade de Vila Real acolhe entre quinta-feira e sábado a 24.ª reunião do Núcleo de Estudos das Doenças Autoimunes (NEDI), da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
Em Portugal não há dados concretos sobre a prevalência destas doenças, mas estima-se que “sejam elevados”, afetando três vezes mais mulheres do que homens em Portugal. São, inclusive, uma das principais causas de morte em mulheres com menos de 65 anos.
“São doenças que surgem em idades jovens, doenças que podem ser muito agressivas e afetar órgãos nobres, com elevada morbilidade e aumento da mortalidade. Estima-se, por exemplo, que a artrite reumatoide diminua em 10 anos a sobrevida média”, afirmou Elisa Serradeiro, médica internista e presidente da reunião.
A especialista disse hoje à agência Lusa que é um “desafio diagnosticar” as doenças autoimunes e salientou que o “ideal é diagnosticar o mais precocemente possível”.
“É necessário fazer mais intervenções junto dos médicos de família, nos centros de saúde, promover sessões de formação, de forma a alertar para sintomas e sinais sugestivos de doença autoimune, como aliás temos feito, com eficácia, na nossa área de influência”, salientou.
A Unidade de Doenças Autoimunes do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) realiza regularmente sessões nos centros de saúde da região porque é, precisamente, ao médico de família que o doente recorre em primeiro lugar.
“Pretendemos, por isso, alertar para os sinais e sintomas da doença para que os doentes sejam referenciados para as consultas especializadas”, referiu.
A reunião do NEDI em Vila Real inclui a realização de um curso para médicos de família, com 30 vagas já preenchidas, e onde se vai alertar para os sinais e sintomas que indiciam uma doença autoimune, informar sobre a medicação e os seus efeitos, falar sobre a dor crónica e elencar as doenças mais comuns.
Entre as diversas doenças autoimunes sistémicas estão as miopatias inflamatórias, vasculites, esclerose sistémica, síndrome de Sjögren e a artrite reumatóide.
Esta sensibilização, para a especialista, “ajuda a que os sintomas, muitas vezes vagos, das mulheres mais jovens, sejam levados a sério”.
“Sendo doenças multissistémicas, podem ter sintomas de diferentes órgãos/sistemas. Podem confundir e simular outras doenças, podem ser inespecíficos e passar despercebidos, daí a importância da medicina interna para juntar tudo, juntar o puzzle e chegar ao diagnóstico final”, referiu.
E continuou: “por vezes temos sintomas respiratórios, cardíacos, gastrointestinais, articulares, cutâneos, neurológicos, simultaneamente, como manifestações da mesma doença, pelo que, embora a abordagem multidisciplinar seja muito importante, é fundamental o papel do médico internista na gestão do doente”.
Ao nível dos tratamentos, a médica disse que “são cada vez mais as respostas disponíveis”
“Todos os anos saem novos fármacos, todos os anos saem novas classificações, novas escalas, novos princípios fisiopatológicos. Na década de 50 a mortalidade associada ao lúpus eritematoso sistémico era de cerca de 50% aos cinco anos e atualmente é inferior a 10% aos cinco anos”, exemplificou.
No encontro vão ainda marcar presença enfermeiros e doentes, os quais, na opinião de Elisa Serradeiro, cada vez mais devem ser envolvidos nas decisões terapêuticas.