Especialistas debatem Plano de Ação para combater o AVC na próxima década
Nesta sessão, “a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC) irá analisar a informação que existe em Portugal acerca do estado de cada uma das grandes áreas de intervenção na cadeia do AVC, desde a prevenção primária à vida após o AVC”, avançou a Prof.ª Elsa Azevedo, neurologista e vice-presidente da SPAVC. Após detetadas as lacunas nas várias áreas analisadas, explicou a médica, será estabelecido um plano de ação faseado que permita a Portugal atingir os objetivos delineados pela Europa até 2030.
De acordo com a especialista, “Portugal está bastante bem colocado relativamente às médias europeias no que se refere ao acesso dos doentes aos tratamentos na fase aguda do AVC”, conforme revelou um estudo recentemente publicado que avaliou este acesso em 44 países europeus. “No entanto”, frisou a médica, “sabemos que precisamos de melhorar em relação à equidade geográfica de acesso, pois regiões como o Alentejo, o Algarve, a Madeira e os Açores têm maiores dificuldades de acesso a tratamentos diferenciados de fase aguda. Temos um longo caminho a percorrer na disseminação junto da população de hábitos de alimentação, estilos de vida saudáveis e procura de cuidados de saúde que permitam diminuir drasticamente a incidência do AVC, ou seja, através de uma aposta na prevenção primária”, alertou a neurologista. Também fundamental é o reconhecimento dos sinais de alerta de AVC e a correta ativação dos serviços de emergência (através do 112) para que os doentes cheguem rapidamente a hospitais onde possam ser tratados mais eficazmente. “E, por outro lado, há muito a trabalhar na área da otimização e acesso, com quantidade e qualidade, aos cuidados de reabilitação pós-AVC e aos direitos do sobrevivente de AVC”, acrescentou a vice-presidente da SPAVC e igualmente vice-presidente da associação de sobreviventes Portugal AVC.
No âmbito do plano de ação nacional, e tendo por base quatro áreas de atuação estruturais (prevenção primária, fase aguda, reabilitação e vida pós-AVC), a Prof.ª Elsa Azevedo (neurologista) e as Dr.ªs Ana Alves, Bárbara Moreira Cruz, Joana Teles Sarmento e Paula Amorim (fisiatras) enumeram algumas estratégias concretas para Portugal, tendo em vista o alcance das metas definidas internacionalmente:
Prevenção primária
- Ação concertada de informação e literacia para a saúde, assim como medidas para adoção de melhores hábitos alimentares e de estilo de vida, nas escolas, autarquias, instituições de saúde, comunicação social, etc.;
- Obrigatoriedade de rastreio de hipertensão arterial e de arritmia cardíaca na população adulta, em consulta nos Cuidados de Saúde Primários, assim como orientação para desabituação tabágica se necessário;
- Exame de rastreio de aterosclerose carotídea na franja populacional de maior risco vascular.
Fase aguda
- Campanha nacional para a informação à população dos sinais de alerta de AVC e contacto do 112;
- Implementação de registos e monitorização regionais, aumentando a articulação entre instituições de saúde;
- Implementação alargada da telemedicina para apoiar decisões à distância;
- Formar e deslocar recursos humanos diferenciados para apoiar hospitais mais carenciados.
Reabilitação
- Garantir ao sobrevivente de AVC e seu cuidador, acesso a equipa de reabilitação multiprofissional e interdisciplinar especializada, precocemente e num continuum, desde a Unidade de AVC (90% acesso) até à comunidade e fase crónica onde sobrevivente e cuidador fazem parte integrada da equipa;
- Abordagem bio-psico-social das necessidades do sobrevivente AVC e seu cuidador, com um plano de reabilitação integral e personalizado que abrange a integração sociofamiliar e profissional;
- Reavaliação periódica das necessidades de reabilitação em consulta de Medicina Física e de Reabilitação presencial ou por telemedicina nas situações enquadráveis;
- Implementação das normas de boas práticas de referenciam para reabilitação pós AVC.
Vida após o AVC
Revisão legislativa que permita a reinserção profissional do sobrevivente de AVC adulto jovem ,nomeadamente através de várias medidas especificas como redução do número de horas;
Proteção aos cuidadores, com legislação que preveja direitos específicos;
Integração em grupos ajuda mútua e Associações de Sobreviventes de AVC.
Recorde-se que a European Stroke Organisation (ESO) em colaboração com a Stroke Alliance for Europe (SAFE) lançaram, em março deste ano, as linhas orientadoras para implementação do “Action Plan For Stroke in Europe 2018-2030”, com sete domínios de atuação. Portugal, como país europeu, e a SPAVC, como sociedade científica representativa desta patologia em Portugal junto da sociedade congénere europeia, estão também envolvidos neste objetivo conjunto.
Para além desta sessão de debate, a 16.ª Reunião da SPAVC abordará temas como a estenose arterial sintomática da circulação cerebral, o AVC cardioembólico, as novidades apresentadas na European Stroke Organisation Conference (ESOC) 2018, entre outros tópicos.