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Os diferentes tipos de diarreia

Atualizado: 
12/08/2019 - 12:10
A diarreia é um sintoma cuja definição varia. Geralmente, a diarreia considera-se como uma alteração do trânsito intestinal habitual com aumento da frequência dos movimentos intestinais com eliminação de fezes moles ou aquosas, podendo estar associada a cólicas.
Silhueta de homem com dor abdominal

A diferença na sintomatologia permite diagnóstico diferencial. Para poder ser tratada com Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) deve ser aguda na maioria das vezes, provocada por alterações dietéticas ou infeções bacterianas ou víricas e, de um modo geral, são situações autolimitadas com duração de 2-3 dias. Na diarreia, o adulto pode perder mais de 300 g/24 h.

Frequentemente, a diarreia cursa associada a mal estar abdominal, vómitos e náuseas.

Causas da Diarreia

Existem diversas causas para uma diarreia aguda, algumas das quais autolimitadas, assinaladas na tabela 1.

Tabela 1 – Principais causas de diarreia 


AINE – anti-inflamatórios não esteroides

Algumas bactérias (ex.: E. coli; Staphylococcus aureus) produzem toxinas que aumentam a secreção de fluido intestinal, volumes que não conseguem ser reabsorvidos e que ocasionam a diarreia aquosa quase sem febre e sem outros sintomas. Outras bactérias (ex.: E. coli, Salmonella sp. e Shigella sp.) são invasivas da mucosa intestinal provocando um processo inflamatório com diarreia menos aquosa que a anterior, mas acompanhada de náuseas, vómitos, cãibras e por vezes febre ligeira.

As diarreias víricas, frequentes em bebés e crianças, são aquosas e podem ser induzidas por Rotavirus e Parvovirus.

As parasitoses intestinais podem também estar na etiologia da diarreia, estando neste caso a Giardia lamblia e a Entamoeba histolytica.

Pode ainda haver diarreia crónica, quando prolongada e estando associada a patologias como a doença inflamatória intestinal.

Diarreia nos Bebés e Crianças

Os biberons mal esterilizados podem ocasionar diarreia pelo que os pais devem ser avisados desta circunstância. Também, a diluição inadequada do leite, com excesso de pó em relação ao recomendado e a intolerância à lactose são outras causas de diarreia, sendo de preferir leites sem lactose. Estes 2 últimos casos ocasionam diarreia osmótica.

Diarreia por Medicamentos

Determinados medicamentos são capazes de ocasionar diarreia por diversos mecanismos. Os antibióticos de largo espetro induzem frequentemente diarreia por alteração do equilíbrio da flora intestinal, alguns anti-hipertensores como a guanetidina (em desuso) também podem induzir diarreia, os sais de ferro, anti-inflamatórios não esteroides e a digoxina, quando em níveis tóxicos, constituem também substâncias capazes de induzir diarreia.

Diarreia do Viajante

Este termo atribui-se à diarreia que ocorre em indivíduos que viajaram para regiões com menos condições higiénicas do que a dos países originais. Estima-se que ocorra entre 30-80% de todos os viajantes, sendo que até 60% dos casos não se identifica o agente patogénico. Nas restantes situações, admite-se que 40-75%, são diarreias ocasionadas pela E. coli produtora de toxina, até 15%  provocadas por E. coli e Shigella enterohemorrágicas, em 10% por Salmonella e em 10% por Campylobacter jejuni. Estas situações são mais comuns em viajantes em Africa e América Central. Infeções por vírus como o rotavírus e vírus Norwalk, protozoários e helmintas surgem em cerca de 10% dos casos totais de diarreia. Relativamente à diarreia por protozoários, destaca-se a causada por Entamoeba histolytica e Giardia lamblia (Europa de ex-Leste).

Os sintomas são de início brusco, geralmente de curta duração, de 4-7 dias, começando no início da viagem embora possa ocorrer mais tardiamente. Ocasionalmente, a situação pode ser grave, prolongada ou recorrente. As diarreias mais graves são a cólera, febre tifoide e infeções parasitárias, contraídas em regiões tropicais e subtropicais, podendo ocorrer em 15% dos viajantes, uma diarreia sanguinolenta (disenteria).

Consequências da Diarreia

Em condições normais, as fezes possuem 60-75% de água perdendo-se 70-200 mL diariamente, enquanto na diarreia a perda de água pode ser 4 vezes superior. Juntamente com a água, com a diarreia perdem-se sais minerais como o sódio e potássio e valências alcalinas ocasionando abaixamento do pH sanguíneo. A perda de água agrava-se quando a diarreia se acompanha de vómitos.

Indivíduos com Risco Aumentado

Os bebés e crianças, quando perdem um teor elevado de água possuem um risco elevado de desidratação, o que pode ocorrer subitamente. Os idosos são particularmente sensíveis ao efeito de perda de água e eletrólitos, particularmente se medicados com diuréticos, ou com redução da ingestão de fluidos e alimentos. A perda de água e sódio pode estimular a secreção de aldosterona com perda excessiva de potássio e hipocaliemia. A desidratação pode precipitar insuficiência renal por redução do fluxo sanguíneo na artéria renal.

Sintomas Associados à Diarreia

Dor abdominal

É habitual um desconforto abdominal com dor aguda, cãibra abdominal e espasmos dos músculos abdominais sem significado especial. Quando a dor é grave, o doente deve ser referenciado ao médico. A dor deve ser diferenciada da dor da apendicite aguda, sendo esta contínua, intensa na parte direita do abdómen com rigidez e que acorda o doente à noite. Dor ou rigidez do lado esquerdo acompanhada de diarreia ou episódios alternados de diarreia e obstipação pode ser sinal de diverticulose.

Vómitos 

Estão presentes na gastrenterite infeciosa vírica ou bacteriana e surgem algum tempo após ingestão de alimentos. A presença de diarreia e vómitos associados aumenta o risco de desidratação, particularmente nos doentes mais sensíveis. Os bebés devem ser observados pelo médico de imediato e as crianças e idosos devem sê-lo ao fim de 48 horas, no máximo, caso a sintomatologia se mantenha.

Perda de peso

Diarreia acompanhada de perda importante de peso em algumas semanas deve ser referenciada ao médico.

Fezes com sangue ou pus

Quando misturados na massa fecal, o sangue ou pus  obrigam a referenciar o doente ao médico. Podem significar doença inflamatória intestinal ou cancro do colon. O sangue superficial e ocasional pode estar relacionado com doença hemorroidária e o muco pode ser sinal de doença inflamatória.

Dispareunia (dor durante a relação sexual)

Pode acompanhar a diarreia na mulher com doença inflamatória intestinal, pelo que se surgir, a doente deve ser observada pelo médico.

Febre

Sugere infeção.

Obstipação alternada com diarreia

Pode indicar síndroma do intestino irritável e o doente deve ser referenciado ao médico.

Sinais de Desidratação

Os primeiros sinais de desidratação obrigam a referenciar o doente ao médico, embora possam ser de difícil identificação, pelo que na dúvida, o doente deve ser referenciado ao médico.

Adulto

Surge precocemente uma sede aumentada e boca seca. Surge ainda letargia, confusão, taquicardia, frio, perda de elasticidade cutânea, retração das órbitas oculares.

Bebés e crianças

São sinais de desidratação, a redução do estado de alerta, pele seca, olhos e fontanela encovados, língua seca, sonolência, redução do débito urinário. Bebés com menos de 3 meses devem ser referenciados de imediato ao médico aos primeiros sinais de diarreia.

Avaliação dos Sintomas

Os parâmetros a avaliar num doente com diarreia são: tipo, gravidade, duração e fatores relacionados com o início dos sintomas.

A gravidade é avaliada em função da frequência de dejeções, volume, duração da diarreia bem como pelos sintomas adicionais. Quanto à duração, geralmente a diarreia autolimitada pode durar entre 12 h a 3 ou 5 dias, devendo o doente, ser dirigido ao médico se neste período de tempo não se resolver. No caso de bebés, crianças e idosos, a observação médica deve ocorrer mais precocemente.

A presença de diarreia noturna frequente, episódios frequentes ou recorrentes ou que permaneça por semanas deve ser sujeita a avaliação médica por poder relacionar-se com doenças inflamatórias intestinais ou síndroma de intestino irritável.

Quanto a fatores relacionados com o início da diarreia, é fundamental tentar saber o que o doente reporta por permitir suspeitar da sua causa (tabela 2).

Tabela 2 – Correlação entre o início dos sintomas e causas da diarreia.

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Autor: 
Prof. Doutora Maria Augusta Soares
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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