Cientistas portugueses criam vírus para testar possíveis tratamentos contra cancro
O vírus quimera gerado quando infeta ratinhos é viável e provoca infeção persistente nas células que, em humanos, leva ao aparecimento de alguns tipos de cancro, como linfomas (cancros do sangue) e sarcoma de Kaposi (cancro dos tecidos vasculares que se manifesta na pele e surge nas pessoas infetadas pelo vírus da sida).
Para este trabalho de engenharia genética, a equipa usou o vírus Kaposi, um vírus do tipo herpes humano que tem um equivalente nos ratinhos. Ambos têm uma proteína, a LANA, que desempenha a mesma função, embora adaptável ao seu hospedeiro.
Segundo o coordenador do grupo de investigação do iMM, Pedro Simas, esta proteína tem uma "função crucial, permite ao vírus persistir no organismo, estabelecer uma infeção persistente", que, nos humanos, degenera em determinados cancros.
Sendo o vírus humano e o vírus dos ratinhos "muito parecidos", com a mesma proteína funcional, "o modelo de vírus" nos roedores "serve para extrapolar para o que acontece na infeção humana", sustentou à Lusa o investigador.
Pedro Simas explicou que se a função da proteína for inibida, o vírus não sobrevive e o tumor morre.
"Por isso, é um alvo terapêutico muito bom", frisou.
Partindo deste pressuposto, os investigadores criaram o modelo de vírus animal para testar moléculas inibidoras da proteína e ver como esta se comporta.
Os resultados do trabalho, realizado pelo Instituto de Medicina Molecular em colaboração com a Harvard Medical School, nos Estados Unidos, foram publicados na revista científica PLOS Pathogens.