Baixa literacia e busca de informação junto de familiares, amigos ou internet colocam em risco a saúde
Segundo um estudo da Fundação Calouste Gulbenkien sobre Literacia em Saúde, 38% da população portuguesa apresenta um nível “problemático” e 11% “inadequado” no que respeita a este tema. Entre os grupos com menor conhecimento em saúde estão os idosos, indivíduos com baixos rendimentos e baixos níveis de escolaridade, doentes crónicos ou com doença prolongada e ainda grandes usuários dos serviços de saúde. Nestes grupos, os níveis de literacia considerados limitados chegam mesmo a ultrapassar os 60%. Para João Araújo Correia, Presidente da SPMI, “nada disto é surpreendente e apenas reforça a necessidade de haver um tratamento integrado do Doente Crónico Complexo, com uma grande entreajuda entre a Medicina Interna no Hospital e a Medicina Geral e Familiar no ambulatório. Estes doentes, são idosos, têm de ser vistos com frequência, muitas vezes no domicílio, onde estão sós e com grandes dificuldades de mobilidade.”
A literacia em saúde é fundamental para evitar alguns constrangimentos nos serviços de saúde, especialmente no que respeita às urgências. Contudo, é preciso que os conhecimentos sejam dados como corretos apenas quando adquiridos nos locais adequados, devendo ser corrigidos pelo médico quando provêm da opinião pública ou de uma pesquisa na internet, que nunca têm em conta a especificidade individual. Caso contrário, o especialista alerta que "coloca-se em causa o diagnóstico e a terapêutica."
No referido estudo, o recurso a familiares e amigos surge de forma destacada como meio de obtenção de informações de saúde. “Tomar o medicamento que fez bem ao vizinho e acreditar no diagnóstico do familiar conhecedor, foram sempre “travessuras” dos doentes, muitas vezes não confessadas aos médicos” explica João Araújo Correia. O “Dr. Google” é também um meio utilizado pelos doentes para obterem mais esclarecimentos. “A internet é como se fosse uma enorme vizinhança, cheia de opiniões e mitos, com pouca evidência científica” o que para o Presidente da SPMI, pode “constituir um risco, caso o doente se julgue autónomo e suficientemente sabedor, considerando o médico dispensável.”
Como podemos, então, reforçar a relação médico-doente, consolidando a posição dos profissionais de saúde como o meio privilegiado de obtenção de informação em saúde? Para João Araújo Correia, a solução está no tempo que o médico deverá conceder ao doente para que este exponha todas as suas dúvidas. “Cabe ao médico corrigir as anomalias, dando tempo ao doente para expor tudo o que aprendeu na internet e tem como certo, explicando, sem sobranceria, como é a leitura correta da informação obtida” até porque, acredita, “ambos são atores e têm de participar em todas as decisões diagnósticas e terapêuticas.” Mas adverte que “ cada vez é mais reduzido o tempo concedido pelos administradores para a realização das consultas e isso compromete a possibilidade do doente esclarecer todas as suas dúvidas”. O Presidente da SPMI conclui, dizendo que “saber ouvir é absolutamente essencial para a criação da empatia entre o médico e o doente, que gera a confiança e a abertura de espírito, para a obtenção dos melhores resultados em saúde.”